Europa aceita estender pacote de resgate grego por mais quatro meses
Prorrogação dá mais tempo à Grecia para negociar a dívida com credores. Não há detalhes
Há acordo. Depois da segunda reunião em uma semana do Eurogrupo — instância que reúne ministros de Finanças e outras autoridades da zona do euro —, e a terceira desde que o Syriza ganhou as eleições na Grécia, o Governo grego e seus parceiros do euro decidiram nesta sexta-feira prorrogar o programa de resgate do país, que expiraria no dia 28 deste mês, por pelo menos mais quatro meses. A proposta grega era, no entanto, de seis meses. “Há mais flexibilidade, sobre a qual se chegará a um acordo com as autoridades gregas”, disse posteriormente o presidente do Eurogrupo em entrevista à imprensa.
O encontro dos ministros de Finanças da zona do euro, reunidos em caráter de urgência nesta sexta-feira em Bruxelas, anunciou um princípio de acordo-base sobre o qual serão detalhadas as condições da extensão do atual programa. O texto foi redigido pelo ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, seu homólogo alemão, Wolfgang Schauble, e o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.
"Há um acordo inicial sobre um texto conjunto que será apresentado agora aos demais ministros do Eurogrupo”, anunciou um alto funcionário grego. O texto, que inclui condições que a Grécia tem de cumprir para poder obter uma prorrogação de seis meses do resgate de 240 bilhões de euros (o equivalente a 790 bilhões de reais), ainda não foi divulgado em detalhes, mas todas as informações indicam que “há progressos”.
O comissário de Economia, Pierre Moscovici, anunciou há alguns ministros em sua conta no Twitter, do local das conversações, que estavam “avançando” (on avance, on avance, on avance...) e fontes do Eurogrupo citadas pela France Presse já confirmavam a notícia: “Parece que há um acordo”.
Essa reunião extraordinária dos ministros do euro começou nesta sexta-feira com mais tensão do que o habitual até agora entre as partes negociadoras, que já mantêm 26 dias de desencontros. A Comissão Europeia advertiu pela manhã que não era 100% certo um acordo entre as partes para prorrogar o programa de resgate, que expira em 28 de fevereiro. “Ainda há muito por fazer”, reconheceu um porta-voz do presidente Jean-Claude Juncker, que prenunciou um pacto “se todo mundo for razoável”. A mesma linha foi adotada pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que disse considerar “muito difícil” alcançar um acordo coma Grécia, mas que estava tentando aproximar “as principais partes implicadas [a Grécia e seus credores do BCE, FMI e o restante dos países da zona do euro] para chegar a um acordo” na cúpula desta sexta-feira em Bruxelas.
Esse acordo é o que deverá ser apresentado na noite desta sexta-feira aos ministros de Finanças da zona do euro. A previsão é que ele assente as bases para destravar o diálogo entre a Grécia e “as instituições”. Ou seja, o que até agora se conhecia como troika (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia)
Otimismo
Varoufakis chegou “otimista” à reunião, onde, apesar das divergências entre os diferentes países do euro – especialmente a Alemanha, que na quinta-feira rechaçou a proposta grega –, deixou clara sua posição e afirmou acreditar que haveria um acordo. “O Governo grego espera encontrar seus parceiros [do euro] na metade do caminho”, declarou, referindo-se às posições conflitantes da Grécia e do restante do Eurogrupo sobre a extensão do programa de resgate para poder ter acesso a mais crédito.
O Banco Central Europeu (BCE) traz novamente à tona os planos de uma possível saída da Grécia do euro, segundo informou o Eurogrupo na manhã desta sexta-feira. Diante das dúvidas sobre um Grexit, Michel Sapin, ministro francês das Finanças, se apressou a deixar o assunto fora do debate: “A única opção é trabalhar para que Atenas se sinta cômoda” entre os 19 países que compartilham a moeda única. Enquanto isso, o presidente François Hollande era contundente durante uma entrevista à imprensa no Palácio do Eliseu, ao lado da chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel: “A Grécia está na zona do euro e deve permanecer nela.”
Bruxelas afirmava na quinta-feira que, sem acordo, a próxima segunda-feira poderia provocar uma sacudida nos mercados. Mas a dureza da Alemanha antecipa um Eurogrupo –cujo início atrasou até as quatro e meia da tarde, uma hora e meia além o previsto – muito complicado. “A carta de solicitação da Grécia é um passo adiante. O problema é que os ministros da zona do euro têm de torná-la operacional, e isso não vai ser fácil. Não deveríamos brincar com fogo”, explicou uma fonte da diplomacia europeia.
O representante alemão na Comissão Europeia, Günter Oettinger, acusou a Grécia de “entrar como um elefante em uma loja chinesa” e prenunciou que não haveria acordo até a semana que vem, mas depois foi desautorizado pela Comissão. O Governo de Malta afirmou nesta sexta-feira que a Alemanha está disposta a deixar a Grécia sair da zona do euro. Em 2012, Berlim já ponderou a saída da Grécia da UE, mas a crise do euro recrudesceu, e Merkel descartou a ideia. O próprio Varoufakis, em 2012, defendia a manutenção da Grécia no euro, diante do abalo que isso poderia provocar tanto no país mediterrâneo como na zona do euro.
Tanto Alexis Tsipras, o primeiro-ministro grego, como a Comissão Europeia se mostraram convencidos esta manhã da possibilidade de um acordo. Até mesmo os porta-vozes do Governo alemão suavizaram seu tom depois das declarações de quinta-feira, nas quais rejeitaram de imediato a proposta de Varoufakis. O cenário mais provável, segundo as fontes consultadas, continua sendo um acordo de compromisso: a Grécia já cedeu na maior parte do que queria o Eurogrupo, embora alguns parceiros desejem uma posição ainda mais dura por diferentes motivos. A Alemanha e os credores não estão gostando do tom de Tsipras desde sua chegada ao poder e não querem que ninguém possa considerar a Grécia um exemplo a seguir. Os países periféricos também participantes de planos de resgate são severos com a Grécia porque temem um contágio político. A Bélgica, a Holanda e os países bálticos foram também muito duros na quinta-feira em uma reunião prévia do Eurogrupo, segundo uma das pessoas que estiveram nesse encontro. A Grécia espera alguma concessão por parte do Eurogrupo depois de ter cedido em quase tudo que era importante.
O historiador econômico Barry Eichengreen, um dos grandes especialistas em crises financeiras, afirmava há algumas semanas que uma saída da Grécia do euro “seria como um Lehman Brothers ao quadrado”. Está para ser visto que em Bruxelas escutem a voz dos historiadores econômicos.
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