_
_
_
_
_

Promotor encarregado da denúncia de Nisman indicia Cristina Kirchner

O sucessor de Alberto Nisman, morto em janeiro deste ano, decide continuar a investigação contra a presidenta argentina por acobertar autores do atentado terrorista

Francisco Peregil
A presidenta argentina, Cristina Fernández, em 11 de fevereiro.
A presidenta argentina, Cristina Fernández, em 11 de fevereiro.Rodrigo Abd (AP)

Gerardo Pollicita, o promotor encarregado da denúncia feita por Alberto Nisman contra a presidenta da Argentina por acobertamento de terroristas decidiu continuar o caminho aberto pelo promotor falecido. Ou, ao menos, parte do caminho. Pollicita não pediu –até o momento– que Cristina Kirchner seja interrogada, como solicitou Nisman em sua denúncia. Mas indiciou a presidenta, o ministro de Relações Exteriores Héctor Timerman, o deputado Andrés Larroque e o dirigente Luis D'Elía, entre outros, pela “decisão deliberada de acobertar” os iranianos acusados pelo atentado terrorista que em 1994 acabou com a vida de 85 pessoas em Buenos Aires.

Mais informações
Encontrado na casa do promotor Nisman perfil genético distinto ao dele
Percurso da bala que matou promotor aponta para suicídio
Nisman estudava pedir a prisão da presidenta da Argentina
Mais notícias sobre o 'caso Nisman'

A notícia, adiantada na edição de sexta-feira pelo diário Clarín, implica que Pollicita solicitará que se pratiquem várias medidas de prova para que se investiguem as acusações que Nisman formulou contra a presidenta e outros membros do Governo. Finalmente, será o juiz Daniel Rafecas, que está de férias, o responsável por decidir se dá prosseguimento às medidas solicitadas por Pollicita.

Do lado do Governo, o secretário da Presidência Aníbal Fernández tentou diminuir a importância da medida. “Não tem nenhum valor jurídico ser indiciado. Aqui, parece que dizer indiciado é equivalente a afirmar que já está semicondenado. Não tem nada a ver, não tem nenhuma importância”, afirmou. Fernández reconheceu que o indiciamento tem um grande impacto na opinião pública. “O strepitus fori [escândalo] que se gera tem muita importância e é isso o que questiono do promotor, porque é uma clara manobra de desestabilização antidemocrática”. O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, falou de “golpismo judicial ativo” e assinalou que o promotor só tenta provocar “impacto político” e “estrépito social”.

Na Casa Rosada e nos círculos afinados com o Governo estão usando nestes dias as palavras “golpismo” e “golpe suave”. Fazem referência à suposta tentativa de um setor da Justiça, em conivência com a oposição e com os “meios hegemônicos”, ou seja, Clarín e La Nación, de “desestabilizar” um Governo ao qual restam apenas dez meses de mandato. Os seis promotores que convocaram uma marcha silenciosa em homenagem a Nisman para na próxima quarta-feira, 18 de fevereiro, quando se completa um mês de sua morte, foram chamados de golpistas pela televisão pública.

Raúl Plée, um dos promotores que convocaram a marcha da próxima quarta-feira, saiu em defesa do colega Gerardo Pollicita frente às críticas do Governo. “Não me parece que seja bom ou razoável que, pela atividade de um juiz ou um promotor, se diga que existe golpismo. Repete-se um pouco a história sobre a qual Alberto Nisman lançou um alerta”, afirmou à Radio Mitre, pertencente ao grupo Clarín.

Os altos funcionários que começaram a criticar Pollicita baseiam seus argumentos no fato de que a denúncia de Nisman não contém, na opinião deles, nenhuma prova que garanta a acusação de acobertamento de terroristas. Nesse sentido, o Governo apresentou na quinta-feira um texto de 68 páginas de “caráter institucional” ao tribunal do juiz Daniel Rafecas, encarregado de instruir a denúncia, para defender a “falta de culpabilidade” de Cristina Kirchner. O documento, feito pelos advogados da Procuradoria do Tesouro Nacional, afirma que Nisman não apresentou prova alguma, nem sequer como indício, para demonstrar que Kirchner ou qualquer outro membro do Governo tentou suspender as ordens de busca e captura de vários cidadãos iranianos. O texto aponta que a denúncia, “não oferece nenhuma prova objetiva, nem sequer indicial, da existência do hipotético acordo secreto” entre o Governo argentino e o iraniano.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_