Europa intensifica pressão sobre a Grécia de Tsipras
União Europeia e mercado rejeitam teses do primeiro-ministro em seu discurso de posse
Preparam armas, enviam avisos, esperam a hora. Europa e Grécia se aprontavam nesta segunda-feira para o Eurogrupo e a cúpula com a usual cacofonia de vozes já quase típica dos momentos de maior tensão na crise do euro. Atenas não fez seu movimento e reiterou que não pedirá extensão do resgate, embora um porta-voz do Executivo tenha assegurado que as únicas linhas vermelhas de Alexis Tsipras são a imprescindível reestruturação da dívida e um corte no superávit primário (antes do pagamento de juros), que os sócios podem assumir totalmente. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, aumentou a pressão e advertiu os gregos que não devem esperar boas notícias: a Europa não aceita as demandas de Tsipras e dos seus.
"O remédio, na verdade, é um veneno, e o médico sabe disso", adverte Varoufakis
A União Europeia é especialista nesse tipo de bravatas, que costumam acabar em um pacto de compromisso, depois de uma subida de tom encenada que tem sido repetida nesta Grande Recessão. O ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, apelou a uma metáfora em relação à necessidade de um terceiro resgate e assegurou que “o que é chamado de remédio é na verdade um veneno, e o pior é que o médico sabe disso”. Tsipras indicou que seu programa de Governo (baseado em cumprir suas promessas de gastos e em pedir um acordo-ponte para cobrir o buraco financeiro, que está entre 10 bilhões e 20 bilhões de euros, aproximadamente 32 a 64 bilhões de reais) não é de ruptura nem representa um lastro para os europeus. Ele lembrou que os resgates anteriores “não foram um ato de solidariedade em relação à Grécia, mas sim com os bancos do Norte da Europa”.
Troca de acusações
• O Governo grego, que prometeu cumprir seus compromissos de gastos, pede um acordo-ponte para cobrir o buraco financeiro, de entre 10 bilhões e 20 bilhões de euros.
• Tsipras afirmou que vai desmantelar o “cruel” programa de austeridade e não hesitou em pedir à Alemanha reparações de guerra.
• Berlim lamenta o “endurecimento” do tom. O vice-chanceler, o social-democrata Sigmar Gabriel, acusou as “elites” gregas de terem “saqueado” seu país.
Tsipras tem bons argumentos a seu favor: a gestão do resgate grego, protagonizada pelo Eurogrupo e pela troika, foi um verdadeiro desastre. Só que Atenas tem parte da culpa nessa gestão, em especial sobre todos os excessos dos anos pré-crise. Os dois lados se agarram a seus respectivos relatos: Tsipras afirmou nesta segunda-feira que vai desmantelar o “cruel” programa de austeridade, e no domingo não hesitou em pedir à Alemanha, com voz rouca, reparações de guerra. Mas os dirigentes europeus continuam a mandá-lo ao chão quando há a menor oportunidade. “A Europa respeitará a Grécia contanto que a Grécia respeite a Europa”, disse Juncker na Alemanha. “A Grécia não pode considerar que o estado de ânimo tenha mudado tanto que a eurozona vá assumir sem concessões seu programa.”
Alemanha e França cerram fileiras com essa posição. Berlim lamentou o “endurecimento” do tom de Tsipras e acusou as “elites” gregas de terem “saqueado” o país, segundo o vice-chanceler Sigmar Gabriel. O ministro da Economia da França, Michel Sapin, pediu para se “respeitar o resultado das eleições gregas”, desde que Atenas “respeite as normas europeias”. É sempre assim que termina o debate sobre a Grécia.
E cuidado com as longas trocas de bola quando o tempo está no fim. O chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, sustenta que a Grécia tem como data limite a quinta-feira para pedir uma extensão do resgate. E Atenas vai ficando sem aliados: Varoufakis disse na RAI que a Itália também corre risco de insolvência, o que provocou protestos óbvios em Roma. O ministro estreia nesta quarta-feira no Eurogrupo, depois de uma semana e meia durante a qual mostrou tanto seus dotes midiáticos quanto sua escassez de talento diplomático. Tsipras ficará na quinta-feira cara a cara com Angela Merkel, François Hollande e companhia em reunião de líderes que se pressupõe tensa. “Não creio que se chegue a um acordo final tão logo”, avisou Juncker, ciente de que se o resgate expirar, qualquer coisa será possível, inclusive um incidente grave como uma saída do euro, para o que vários países preparam planos de contingência.
“Uma saída suja do resgate, sem um corta-fogo financeiro nem um acordo-ponte, como quer a Grécia, é agora o mais provável. Atenas fez concessões, mas continua longe do que pedem os parceiros”, diz Mujatba Rahman, da consultoria Eurasia Group.
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