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De catadora de papelão a primeira presidenta de uma petroleira

A vida de Maria das Graças Foster parece ter lhe forjado um caráter muito tenaz

Maria das Graças Silva Foster, em 29 de janeiro.
Maria das Graças Silva Foster, em 29 de janeiro.Antonio Lacerda (EFE)

“Venho aqui, na qualidade de primeira presidenta eleita no Brasil, para assistir à posse da primeira mulher presidenta de uma petroleira no mundo.” Corria o mês de fevereiro de 2012, e Dilma Rousseff acabava de colocar a sua amiga e colaboradora Graça Foster, uma engenheira química com destacado perfil técnico e 31 anos de experiência na Petrobras, à frente da maior empresa do Brasil. Todos eram só sorrisos, mas já naquela época analistas do mercado de energia alertavam que seu antecessor no cargo, José Sérgio Gabrielli, havia lhe deixado um campo minado. Em seu breve discurso, assim que Rousseff terminou de falar, Foster prometeu entre outras coisas “disciplina de capital”. Não está claro até o momento se a presidenta da empresa já estava àquela altura a par da gigantesca trama de corrupção que desviara bilhões de dólares na década anterior (período em que dirigiu várias áreas). O que se sabe é que o caso Petrolão abreviou significativamente o seu mandato, no qual a maior empresa pública da América Latina bateu recordes de produção, mas perdeu quase a metade de seu valor de mercado. A Petrobras enfrenta investigações judiciais em diversos países e é considerada hoje a petroleira mais endividada e menos rentável do mundo.

Devorada pela Operação Lava Jato e com as ações em queda livre, a ainda presidenta da Petrobras colocou em dezembro seu cargo à disposição de Rousseff, que a manteve. Nos círculos políticos brasileiros, especulava-se na última semana sobre o significado da sua permanência, pois se sabe como a presidenta se aborreceu com duas decisões recentes da colaboradora, e também que esta lhe serve de escudo político: o caso Petrobras levará mais de um ano até ser verdadeiramente dimensionado, e a própria presidenta é alvo de acusações. O sofrimento emocional da amiga “incondicionalmente fiel”, que foi secretária-executiva de Dilma no Ministério da Energia, teria pesado na decisão.

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Seja como for, a vida de Maria das Graças Silva Foster (Caratinga, 1953) parece ter lhe forjado um caráter muito tenaz – chegou a ser conhecida como “a dama de ferro do petróleo”. Sua infância foi dura: mudança do Estado de Minas para o Rio de Janeiro aos dois anos, violência familiar, crescimento numa complicada favela da zona norte carioca, onde catava papelão e latas para colaborar com a economia doméstica. Estudou engenharia química em Niterói e, assim que se formou, entrou como estagiária na Petrobras. Seu temperamento forte lhe valeu o respeito dos colegas – respeito este que, conforme se diz na empresa, frequentemente se transformou em temor quando ela ascendeu à presidência de um conselho dominado por homens. Conhecida por ser extraordinariamente disciplinada e trabalhadora, tem dois filhos de dois casamentos, o segundo deles com o empresário inglês Colin Foster.

Suas medidas para aplacar o golpe do Petrolão (contratação de dois escritórios para investigações internas independentes, criação de uma Diretoria de Governança, proibição de novos contratos com as 23 empresas implicadas até agora) foram ineficazes em curto prazo contra um caso descomunal, que cresce a cada dia. Apesar da acusação firme de uma ex-funcionária, Foster assegura que nunca soube dos malfeitos praticados por diretores da Petrobras, grandes empreiteiras e uma quantidade indeterminável de políticos do Governo e da oposição, até que o caso explodiu. Em novembro, após a detenção de 24 pessoas, Foster prometeu apurar responsabilidades a fundo, “doa a quem doer”, e enviou três mensagens centrais: é preciso “melhorar a produção e a transparência da Petrobras”, recuperar “o respeito” e “elevar o moral” de 85.000 trabalhadores acostumados a trabalharem no “orgulho do Brasil”. A onda expansiva da corrupção e a forte queda no preço do petróleo frustraram seus desejos.

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