‘Caso Nisman’ aprofunda a fratura social e política na Argentina
Milhares de pessoas pedem transparência nas investigações Apoiadores do Governo dizem que promotor se matou por medo de acusação fracassar
Kirchnerista ou antikirchnerista. Com o Clarín ou com o Governo… A polarização na Argentina cruzou uma linha vermelha com a morte de Alberto Nisman, o promotor de 51 anos que acusou a presidenta Cristina Kirchner de encobrir terroristas iranianos. O Governo garante que Nisman agiu pressionado por um “setor mafioso” dos Serviços de Inteligência. Na noite de segunda-feira, milhares de pessoas saíram às ruas em várias cidades argentinas para exigir transparência nas investigações sobre a morte de Nisman. Muitos manifestantes levavam cartazes com os dizeres “Eu sou Nisman”.
No dia seguinte, também havia quem criticasse Nisman. O jornalista Hernán Brienza, declarava na Radio Nacional: “Eu não sei o que significa ser Nisman. Significa fazer uma investigação e uma acusação muito grave contra a primeira magistratura da nação sem provas e sem dispor de muitos elementos? Ou significa, tendo em conta as pressões, o temor ao fracasso ou a possíveis pressões que tenha sofrido em termos políticos ou mafiosos? Não sei o que exatamente significa ser Nisman. Ser Nisman é ter negociado durante dez anos com o setor mais sujo da SIDE [a atual Secretaria de Inteligência] a investigação na AMIA [Associação Mutual Israelita Argentina]?”.
Para jornalistas e setores próximos ao Governo, o promotor pode ter experimentado um momento terrível de medo do fracasso ao saber que, na segunda-feira, teria de apresentar ao Parlamento provas da grave acusação que tinha feito contra a presidenta. Os deputados governistas tinham avisado que o submeteriam a uma dura bateria de perguntas. E talvez Nisman não tenha resistido à pressão. Essa é a versão próxima ao Governo. Mas fontes próximas à família duvidam até mesmo que Nisman tenha se suicidado, apesar de os primeiros exames periciais indicarem que não houve intervenção de terceiros em sua morte.
Nesse contexto, a presidenta divulgou na segunda-feira uma mensagem no Facebook que instigou os ânimos de quem acredita que o promotor não se suicidou. Kirchner falou de suicídio e disse que Nisman aproveitou a comoção causada pelos atentados terroristas em Paris para apresentar sua denúncia. A presidenta deu a entender que o promotor agia com motivação política e sob as ordens de alguém, em um contexto sensível para o qual, segundo ela, contribuíram várias manchetes do jornal Clarín. “Quem foi que ordenou ao promotor Nisman voltar ao país em 12 de janeiro, deixando sua filha pequena sozinha no aeroporto de Barajas, interrompendo férias familiares e licença no trabalho que tinham começado em primeiro de janeiro e deviam terminar depois do dia 20?”, perguntou Kirchner.
Quer se trate de suicídio ou assassinato, um manto de desconfiança cobriu as investigações sobre a morte de Nisman. O líder oposicionista da Frente Renovadora, Sergio Massa, qualificou o incidente como uma “mancha enorme no processo democrático”, “uma mancha de sangue enorme para as instituições e à democracia”. Massa disse que a presidenta deveria ter se pronunciado de maneira a transmitir tranquilidade, em vez de usar o Facebook. E pediu união dos políticos, para que não ajam em proveito próprio este ano, a poucos meses das eleições presidenciais. Mas a união está muito longe de ser alcançada.
Os juízes deverão investigar o que aconteceu com Nisman. Mas terão de fazê-lo nesse clima viciado. E, enquanto isso, ainda se está longe de encontrar as respostas que Nisman buscava havia dez anos: Quem colocou o carro bomba em frente à sede da AMIA? Quem matou 85 pessoas na manhã de 18 de julho de 1994? Quem foram os executores e autores intelectuais? O promotor acusou Kirchner de encobrir os terroristas. E Kirchner assegura que o que está sendo feito agora é “desviar, mentir, encobrir e confundir”.
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