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Encontrada no Egito tumba de uma rainha desconhecida

Khentkaus III, ‘Mulher do Rei’ e ‘Mãe do Rei’, não figurava nas listas da V dinastia egípcia

Jacinto Antón
Foto divulgada pelo Ministério de Antiguidades egípcio da tumba de uma rainha da V dinastia faraônica (2500-2350 a. C).
Foto divulgada pelo Ministério de Antiguidades egípcio da tumba de uma rainha da V dinastia faraônica (2500-2350 a. C).efe

No momento em que os três camelos dos Reis Magos já apontam no horizonte, uma nova rainha chega do Oriente. A notícia da descoberta, às vésperas do Dia de Reis, de uma rainha egípcia desconhecida de 4.500 anos de antiguidade ilumina a data com um resplendor distinto de animação e mistério. Não que seja completamente excepcional encontrar personagens desconhecidos da realeza faraônica –as listas são bastante incompletas em alguns períodos (são listas abertas) e a areia ainda encobre muitas surpresas—, mas acrescentar uma rainha à história do Antigo Egito é, além de uma grande conquista científica, algo maravilhosamente estimulante.

A sepultura, uma mastaba, foi encontrada durante escavação na necrópole de Abusir

O Ministério de Antiguidades do Egito anunciou no último domingo a descoberta da tumba em Abusir de uma rainha até então desconhecida, chamada nas inscrições nos muros do local de Khentakus III. A sepultura foi encontrada durante a campanha de escavações do Instituto Tcheco de Egiptologia, dirigido por Miroslav Barta na necrópole de Abusir, um dos cemitérios da antiga capital faraônica de Mênfis, composta ainda por Gizé, Saqqara e Dashur. Abusir foi o principal cemitério da V dinastia e inclui várias pirâmides, ainda que menores e menos espetaculares que as de Gizé, onde foram enterrados os grandes faraós da IV dinastia.

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Em declarações ao Luxor Times, Barta afirmou que a descoberta "revela uma parte desconhecida da história da V dinastia e abre as portas para futuros estudos sobre a árvore genealógica desta rainha, da qual não sabíamos nada".

Na tumba, cuja destinatária está identificada inequivocadamentenas inscrições que a decoram com os títulos de "Mulher do Rei" e "Mãe do Rei", o que quer dizer que foi uma esposa principal que se casou com um faraó e deu à luz outro, foram encontradas 23 vasilhas de cerâmica pequenas e grandes, incluindo uma jarra, e quatro ferramentas de cobre, parte do enxoval funerário da rainha. Nada foi dito sobre o sarcófago e a múmia da soberana, o que significa que provavelmente desapareceram há muito tempo.

O túmulo é uma mastaba, a estrutura sepulcral clássica do Antigo Império junto com a pirâmide, em forma de caixa retangular, e contém uma capela de oferendas e a câmara de sepultamento, à qual se chega por um poço, no subsolo.

Arqueólogos encontraram uma pequena parte do enxoval funerário

“A tumba faz parte de um pequeno cemitério a sudeste do complexo da pirâmide do rei Neferefré", disse Barta, "o que nos leva a pensar que a rainha Khentkaus pode ter sido a esposa desse faraó, dado que foi enterrada perto de seu complexo funerário". Jaromir Krejci, membro da equipe tcheca que trabalha no local, destacou que os títulos dados à dama na tumba mostram a importância histórica da descoberta. "Se assumimos que a rainha foi enterrada durante o reinado de Nyuserre (2445-2421 antes de Cristo), com base na marca que leva seu nome e que encontramos na tumba, podemos dizer que Khentkaus III é a mãe do rei Menkauhore, que foi o sucessor de Nyuserre. E isso pode revelar mais informações desse rei, do qual temos muito poucos dados."

A dinastia V é considerada a parente pobre da IV, pois seus membros ergueram pirâmides bem mais modestas que a de seus predecessores famosos Quéops, Quéfren e Miquerinos. Além disso, sua época, com nove faraós, foi de prosperidade e projeção do Egito no exterior, tanto por campanhas militares como por empresas comerciais. Os faraós foram enterrados em Abusir, mas, no final da dinastia, Isesi e Unas voltaram ao cemitério real de Saqqara.

Uma curiosidade da V dinastia é que o Papiro Westcar afirma que os três primeiros reis foram trigêmeos concebidos por Rá em outra Khentkaus, a primeira.

A famosa rainha Khentkaus I, que possui o título de "Mãe de dois reis", teria reinado efetivamente como faraó ou regente durante a menoridade de seus filhos (os faraós Userkaf e Sahure), pois é retratada em sua tumba muito particular em Gizé com uma barba falsa. O faraó Neferirkaré I, seu suposto terceiro filho, teve como esposa outra Khentkaus (II), que possui uma pirâmide em Abusir. Outra Khentkaus é uma filha de Unas enterrada em Saqqara.

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