O ‘annus horribilis’ da Petrobras não termina
Estatal, que vale 40% a menos na Bolsa, acumulou graves danos à imagem em 2014
Os altos executivos da Petrobras estão prometendo há alguns meses uma nova maneira de fazer as coisas, mas não devem confiar que a mudança do ano traga alívio a suas angústias. O colossal caso de corrupção que atinge a maior empresa do Brasil e até envergonha muitos de seus 80.000 funcionários leva a uma situação complicada: sem ser capaz de apresentar balanços sem auditar, tendo perdido quase 40% de seu valor na Bolsa este ano e em meio a um cenário internacional de queda do preço do barril de petróleo, os danos à sua imagem são irreversíveis no curto prazo.
A presidenta da empresa, Graça Foster, colocou este mês seu cargo à disposição da presidenta da República, Dilma Rousseff (ex-presidenta do Conselho de Administração da empresa), que a manteve no cargo; são esperados, no entanto, mudanças no próprio Conselho de Administração. A determinação de Rousseff não foi afetada pela acusação pública de uma geóloga e ex-funcionária da empresa, Venina Velosa, que diz ter alertado Foster por e-mail em 2009 sobre a corrupção generalizada na empresa (Foster negou veementemente essa informação).
Não há dia em que as manchetes da imprensa não afundem um pouco mais a reputação de uma empresa que há apenas alguns anos tinha sido chamada para garantir “o futuro do país” com a descoberta de jazidas marinhas de pré-sal a 7 mil metros de profundidade. A empresa reagiu em outubro, com a contratação de dois escritórios de advocacia (um brasileiro, outro norte-americano) para impulsionar investigações independentes, com acesso teoricamente ilimitado a computadores e arquivos. A Securities and Exchange Commission (SEC), reguladora do mercado de ações dos EUA também investiga a petroleira por irregularidades e seu impacto sobre o preço das ações.
Os últimos dias do ano foram marcados pela criação de uma nova direção de Governança que será responsável por fazer cumprir a lei e, acima de tudo, pelo congelamento de pagamentos e novos contratos com 23 empreiteiras envolvidas na trama: entre elas estão incluídas as ‘gigantes’ da construção Odebrecht SA, Camargo Correa e Andrade Gutierrez, assim como o grupo ítalo-argentino Techint e a empresa sueca Skanska AB. Completam a lista Alusa, Carioca Engenharia, Construcap, Egesa, Engevix, Fidens, Galvão Engenharia, GDK, IESA, Jaraguá Equipamentos, Mendes Junior, MPE, OAS, Odebrecht, Promon, Queiroz Galvão, Setal, Tomé Engenharia e UTC. A medida audaz vai forçar a Petrobras a buscar novos sócios para seu ambicioso plano quinquenal de investimentos (221 bilhões de dólares, 600 bilhões de reais), destinados a explorar as grandes jazidas descobertas em 2006.
A Polícia Federal, impulsionadora da Operação Lava Jato, e a Procuradoria da República estimam que o volume de dinheiro desviado e lavado em subornos e financiamentos irregulares de partidos políticos pode chegar a 4 bilhões de dólares (10,5 bilhões de reais) tornando-o de longe no maior caso de corrupção conhecido na história do Brasil. Pelo menos 39 pessoas, a maioria delas altos executivos das principais construtoras brasileiras, serão julgados a partir de fevereiro. Políticos relevantes de três partidos, incluindo o PT (no poder há 12 anos), estão implicados, mas até agora nenhum foi formalmente acusado pelo Ministério Público. O processamento formal será o próximo passo em um caso de repercussão ainda imprevisíveis.
“Com a adoção dessas medidas preventivas, a Petrobras busca proteger a empresa e seus sócios de perdas financeiras de difícil reparação e dos danos à sua imagem”, explicou a empresa em um comunicado esta semana sobre as suas últimas decisões. Os problemas, no entanto, continuam a se multiplicar. A estatal reconheceu que o fundo de pensão dos funcionários da empresa, Petros (o segundo maior do Brasil), com 24 milhões de dólares acumulados, também está sob suspeita. Para piorar a situação, o novo atraso na publicação de seu balanço do terceiro trimestre (cujo auditor, PricewaterhouseCoopers, recusou-se a validar em outubro), agora previsto para janeiro, poderia fazer com que a empresa seja declarada em default técnico parcial por uma ação dos detentores de seus bônus nos Estados Unidos, segundo informou a Reuters. A agência de qualificação financeira Moody’s colocou em revisão para possível rebaixamento, a nota da dívida da Petrobras.
No final de 2014, a Petrobras caiu da segunda para a quarta posição na lista de empresas brasileiras com maior valor de mercado, depois de perder mais de 80 bilhões de reais (30 bilhões de dólares) este ano: um reflexo da queda de cerca de 40% no preço nominal de suas ações, arrastadas pelas contínuas denúncias de corrupção e a queda do preço do petróleo. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de capitais no Brasil, anunciou esta semana que abriu a primeira investigação oficial contra a Petrobras. A situação da empresa é tão complicada que algumas fontes citadas por InfoMoney indicam que a petroleira poderia paralisar alguns projetos e demitir até 10.000 trabalhadores. Seu peso na economia nacional é tão relevante que muitos políticos e empresários prendem a respiração enquanto esperam que o castigo das construtoras acusadas não paralise as obras em andamento e desacelere ainda mais, se for possível, o crescimento da sexta economia mundial.
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