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México admite a participação da polícia no assassinato de imigrantes

Em agosto de 2010, 72 centro-americanos foram encontrados mortos em San Fernando (Tamaulipas). Em abril de 2011, foram outras 193 pessoas

Paula Chouza
Os 72 cadáveres, em uma vala abandonada em San Fernando.
Os 72 cadáveres, em uma vala abandonada em San Fernando.AFP

Em agosto de 2010, 72 imigrantes centro-americanos foram mortos na cidade de San Fernando, localizada no estado de Tamaulipas no nordeste do México. Em abril de 2011, as autoridades encontraram outros 193 corpos em valas comuns. Nos dois casos, o crime organizado foi responsabilizado pelas mortes. A área, perto da fronteira com os Estados Unidos, tornou-se território proibido para centenas de milhares de refugiados que tentam chegar ao território norte-americano. Quatro anos depois desses eventos, a Promotoria mexicana (PGR) reconheceu pela primeira vez que houve cumplicidade das forças de segurança.

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De acordo com informações fornecidas dia 10 de dezembro pelo National Security Archive – um instituto de pesquisa da Universidade de George Washington –, os policiais municipais de San Fernando foram pagos por seu trabalho pelo cartel dos Zetas, uma das organizações criminosas mais sanguinárias do país, que opera na região.

A PGR divulgou as conclusões depois que o Instituto Federal de Acesso à Informação Pública e Proteção de Dados (IFAI), órgão que supervisiona a transparência das instituições públicas, solicitou a entrega dos dados de investigação, cujos detalhes tinham ficado sob sigilo todo este tempo. O IFAI conseguiu obter as informações ao argumentar que os massacres constituíram violações aos direitos humanos (algo negado pelas autoridades), tal como estabelecido nos tratados internacionais ratificados pelo México e pelas decisões da Suprema Corte de Justiça do país.

A promotoria indica que os elementos da polícia municipal de San Fernando realizaram “trabalho de vigilância, interceptação de pessoas e omissões no seu dever de observar os crimes cometidos por membros da organização criminosa dos Zetas”.

A versão oficial usada até a data indicava que os massacres foram cometidos pelos Zetas, mas a informação fornecida pela PGR mostra detalhes sobre os policiais envolvidos nos crimes. O departamento do Governo de Enrique Peña Nieto também acrescenta que alguns oficiais foram detidos em 2010 e 2011 por seu envolvimento nos fatos. O documento inclui o testemunho de um deles: “Sei que a polícia e agentes de trânsito de San Fernando ajudam a organização dos Zetas, porque quando as pessoas são detidas, em vez de serem levadas para a prisão municipal, são entregues aos Zetas (...). “

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