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Guerrilha colombiana declara cessar-fogo unilateral e indeterminado

As FARC asseguram em comunicado que só romperão a trégua se forem atacadas

Membros das FARC na Colômbia.Foto: atlas | Vídeo: AP / Atlas

A guerrilha colombiana das FARC declarou na quarta-feira um cessar-fogo unilateral por tempo indeterminado. Em comunicado publicado em sua página na internet, as FARC explicam a decisão: “Decidimos declarar um cessar-fogo e cessar de hostilidades unilateral por tempo indeterminado, que deve se transformar em armistício. Para que tenha êxito pleno, esperamos contar com o monitoramento do Unasul, da CELAC (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos), do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e da Frente Ampla pela Paz”, diz o documento. Mas impõe condições: “Este cessar-fogo unilateral, que desejamos que se prolongue no tempo, se dará por terminado apenas se for constatado que nossas estruturas guerrilheiras foram alvos de ataques por parte da força pública”. A trégua começaria à meia-noite do dia 20 de dezembro, mas apenas se contasse com a verificação de pelo menos uma das organizações citadas no comunicado.

A decisão foi anunciada dias depois de terem sido retomadas as negociações que as FARC mantêm há dois anos em Havana com o Governo de Juan Manuel Santos e que foram suspensas por três semanas em novembro devido ao sequestro de um general do Exército. Este cessar-fogo é diferente dos anteriores anunciados pela guerrilha ao longo do processo, já que eles sempre tinham caráter temporário e coincidiam, por exemplo, com datas como as eleições presidenciais ou o Natal.

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Nesta ocasião, as FARC manifestam o desejo de que a trégua “se prolongue no tempo”, algo que Jorge Restrepo, analista de temas de segurança no Centro de Recursos para a Análise de Conflitos (CERAC), considera que não tem precedentes, nem mesmo em negociações anteriores.

“Trata-se de um gesto de paz muito importante, mas eles colocam essa condição, de não serem alvos de ataques”, indica o especialista. “Isso faz com que o Governo perca a iniciativa e o obriga a tomar uma decisão” sobre decretar uma medida análoga ou não.

Nesta fase das conversações na capital cubana, as partes estavam discutindo medidas que contribuíram para reduzir a intensidade do conflito. Mas Restrepo descarta a possibilidade de a trégua unilateral por tempo indefinido anunciado pelas FARC na quarta-feira ser consequência de um acordo surgido da mesa de negociações em Havana.

Até agora o Governo de Juan Manuel Santos vem mantendo sua posição de que negociará no meio do conflito e não suspenderá a ofensiva militar contra a guerrilha. O objetivo era evitar que as FARC aproveitassem a trégua para se fortalecer, como fizeram em processos de paz anteriores. Esta trégua da guerrilha obriga o Governo a decidir, já que qualquer golpe contra as FARC poderia significar o fim dessa trégua unilateral.

Para Ariel Ávila, pesquisador da fundação Paz e Reconciliação, a decisão das FARC é arriscada, porque agora a grande pergunta vai ser que ações empreendidas pelo Exército levariam à suspensão do cessar-fogo – por exemplo, se fosse bombardeado um dos acampamentos dos chefes guerrilheiros.

“É uma notícia muito boa, mas falta definir a técnica, e é esse o risco que vejo.” Para Ávila, essa decisão é fruto da tensão vivida com o sequestro do general e “revela que as FARC estão começando a levar em conta a opinião pública”.

As FARC afirmam que tomaram a decisão inspiradas no “direito das pessoas, na tradição constitucional colombiana e em homenagem a todas as vítimas feitas pelo conflito que queremos superar”, e depois de reunir-se no último semestre com 50 afetados de todos os setores envolvidos no conflito armado.

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