Assombrosa revolução de 2014
Consequências serão enormes se o preço do petróleo continuar baixo
Está em marcha uma revolucionária redistribuição mundial da renda. Somente nos últimos seis meses, os preços do petróleo caíram 40%. Isso significa uma transferência equivalente a 2% do tamanho da economia mundial dos produtores para os consumidores por ano.
Assim, os membros da Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP) deixaram de faturar 316 bilhões de dólares (817 bilhões de reais). E a OPEP é somente 35% do mercado mundial (em 1974 era 50%). Os países da OPEP e outros petroestados como a Rússia sofreram uma severa redução de sua renda, o que os obrigará a fazer dolorosos ajustes econômicos.
Por outro lado, para os consumidores de petróleo em todo o mundo os preços mais baixos significam uma economia de mais de um bilhão de dólares (2,59 bilhões de reais). Para os norte-americanos, equivale a um corte de impostos de 110 bilhões de dólares (284,7 bilhões de reais). Para a China, cada dólar a menos no preço significa uma economia anual de 2,1 bilhões de dólares (5,44 bilhões de reais). A agricultura mundial também irá se beneficiar. Um dólar de produção agrícola consome 5 vezes mais energia do que um dólar de produção manufatureira.
As razões da queda dos preços do petróleo conhecidas. O consumo de energia diminuiu porque a economia mundial cresce pouco e a oferta aumentou drasticamente graças às novas tecnologias que estão sendo usadas, especialmente nos EUA. De 2008 para cá, os EUA aumentaram sua produção petrolífera em 80%. Esse crescimento por si só supera tudo o que é produzido por cada um dos países da OPEP, com exceção da Arábia Saudita.
Ninguém sabe quanto tempo esse racha irá durar, mas é certo que em algum momento os preços aumentarão se o consumo aumentar ou a produção baixar por conta de conflitos internacionais, revoluções, acidentes climáticos ou acontecimentos de outra natureza. Um indicador dos preços é o mercado futuro. Contratar hoje a entrega de um barril de petróleo para 2020 custa por volta de 85 dólares (220 reais). O preço atual é menos de 70 dólares (181,1 reais) por barril.
Em todo o caso, o consenso entre os especialistas é que no próximo ano os preços do petróleo estarão abaixo da média dos últimos três anos. Se isso se comprovar, as consequências serão enormes.
Entre os países produtores, o choque dos preços baixos afetará mais duramente a Venezuela e o Irã. Se o Governo da Venezuela não conseguia aprumar a economia quando o petróleo custava mais de 100 dólares (258,82 reais) o barril, é difícil acreditar que fará um trabalho melhor com o barril a 62 dólares (160,47 reais) (o petróleo venezuelano é mais barato do que a média mundial). Para cobrir seu gasto público, Caracas precisa que o preço supere os 120 dólares (310,58 reais) por barril. A crise venezuelana pode obrigar o Governo a limitar seus envios de petróleo subsidiado para países vizinhos, causando assim uma grave crise econômica na Cuba e na Jamaica, entre outros.
No Irã a queda dos preços de suas exportações petrolíferas soma-se às sanções internacionais que já afetaram severamente sua economia. De fato, é provável que os preços menores tenham um impacto maior do que as sanções por conta da importância do petróleo na renda do Estado. É preciso ver se a crise econômica levará o Irã a buscar um acordo nuclear com a comunidade internacional para conseguir a redução ou eliminação das sanções. Mas é possível que os cálculos políticos moldem mais as decisões do Governo do que a crise econômica.
Com a Rússia acontece algo parecido. Sua economia também já era afetada por um clima adverso para investimentos, uma massiva fuga de capitais e as sanções da Europa e Estados Unidos. Sua moeda desvalorizou, a Bolsa caiu, a inflação subiu e a economia entrou em recessão. 2015 será um ano difícil para Vladimir Putin e ainda mais para o povo russo.
Essas são somente algumas das repercussões da queda do preço do petróleo. Existem muitas mais. Talvez a mais importante é que muitas fontes de energia menos poluentes (solar, eólica, etc.) são mais caras e pouco competitivas. Os baixos preços também não incentivam a economia e a eficiência energética. É irônico que quando o óleo cru estava caro as energias renováveis também não eram estimuladas e sim, pelo contrário, a aparição de novas formas de produzir petróleo.
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