Sonda pousa na superfície de cometa
É a primeira vez na história que uma nave consegue essa proeza Arpões do módulo não dispararam; ele está preso com parafusos
Às 14h03 (hora de Brasília), exatamente no horário previsto, a sonda Philae estabeleceu um marco sem precedentes na história da exploração espacial: aterrissou na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, que se encontra atualmente a 510 milhões de quilômetros da Terra.
“A Philae falou conosco, ele aterrissou... Estamos na superfície do cometa”, informou, emocionado, o chefe da equipe da sonda em queda, Stephan Ulamec, minutos depois de receber o primeiro sinal no centro de controle de Colônia, na Alemanha. Era apenas um sinal, mas o fato de a sonda ter sido capaz de transmiti-lo, de dizer “estou aqui”, já era importante, pois significava que ela chegou ao solo em boas condições.
O diretor-geral da Agência Espacial Europeia (ESA), Jean-Jacques Dordain, mostrava-se igualmente emocionado. “É um grande passo para a civilização”, disse. Com senso de humor, acrescentou que “o problema do sucesso é que parece fácil”, mas não é. “É necessário muito conhecimento e muita dedicação para obtê-lo”, acrescentou Dordain, destacando o trabalho de mais de duas décadas “dos especialistas europeus em colaboração com nossos parceiros”.
A sonda havia se desprendido sete horas antes da nave Rosetta, que está dando voltas no cometa, e iniciou o a descida até o solo, num local batizado de Agilkia. Nunca até agora havia sido tentado o pouso de um robô num cometa, mas há mais de 20 anos a ESA alimentava essa ideia.
O sinal da aterrissagem foi recebido no centro de controle da ESA na Alemanha e nos dois centros de controle, o da nave principal (em Toulouse, na França) e o da sonda de descenso (em Colônia, na Alemanha). No centro científico da agência, o ESAC, nos arredores de Madri, mais de 200 pessoas que lotavam a sala principal explodiram num longo e eufórico aplauso, assim como nos centros de controle.
Um cometa descoberto em 1969
- O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko foi descoberto em 1969 por Klim Churyumov, com base numa foto tirada por Svetlana Gerasimenko. Foi o 67º. cometa periódico a ser localizado, daí o seu nome.
- Ele se aproxima do Sol a cada seis anos e meio, até uma distância de 185 milhões de quilômetros da estrela (a Terra está a 150 milhões de quilômetros). Sua órbita teria variado em 1959, e certamente também em 1840, aproximando-se do Sol devido à influência gravitacional de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Por isso, só recentemente o cometa voltou a se aproximar um pouco mais do centro do sistema, tornando-se um bom alvo para a missão Rosetta – já que esse corpo celeste, ao contrário de outros cometas, provavelmente não foi muito alterado por sucessivas aproximações do Sol em sua história.
- Sua massa é de 10 bilhões de toneladas, e sua densidade é de 400 quilos por metro cúbico. Seu diâmetro máximo é de quatro quilômetros.
- A nave Rosetta já descobriu que ele tem uma forma irregular, com dois lóbulos, como a cabeça e o corpo de um patinho de borracha, segundo os cientistas. A sonda Philae pousou na cabeça.
Tratava-se de uma operação de alto risco. Pouco depois de pouso, a equipe confirmou que os arpões que a sonda deveria usar para se prender à superfície do cometa não funcionaram, e que ela ficou presa apenas com parafusos. A equipe ainda tentará disparar os arpões novamente.
Durante cinco das sete horas da queda, a sonda Philae enviava dados e fotos à Terra. A grande expectativa, após a aterrissagem, era pela foto panorâmica que o módulo deveria tirar assim que tocasse o solo. O cometa atualmente viaja pelo Sistema Solar a 55.000 quilômetros por hora. A Rosetta, com a sonda Philae enganchada, partiu da Terra há 10 anos e percorreu 6,4 bilhões de quilômetros até chegar ao cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
“É uma missão muito ambiciosa: a primeira a ir ao encontro de um cometa, a primeira a acompanhá-lo ao redor do Sol, e agora a primeira a aterrissar nele”, declarou Martin Kessler, chefe de operações científicas do ESA, no ESAC, na Villanueva de la Cañada, perto de Madri.
A partir das 13h30, o sinal de aterrissagem era esperado a qualquer momento, e todos os técnicos do ESA mantinham os olhos grudados nas telas. Na verdade, o contato com o solo do cometa havia ocorrido quase meia hora antes, mas os sinais de rádio demoram 28 minutos para percorrer os 510 milhões de quilômetros até a Terra.
Além de uma minuciosa preparação por parte dos engenheiros e cientistas, a Philae contou com a sorte. “Em Agilkia há rochas e desníveis, e isso que era o ponto mais fácil para possíveis aterrissagens. Precisamos de sorte para não cair em um despenhadeiro ou numa rocha grande”, havia explicado Miguel Pérez Ayúcar, engenheiro de operações da Rosetta no ESAC, poucos minutos antes da confirmação do pouso. A coisa se complicara a partir das primeiras horas da madrugada, quando os encarregados de controlar o módulo de descenso constataram que não houve o acionamento dos pequenos propulsores que deveriam ajudar a nave a minimizar o impacto com o cometa. O resto da manobra foi saindo conforme o previsto. O módulo se separou, girou e abriu as patas durante a descida… e duas horas depois restabeleceu o contato com a Rosetta, e esta com a Terra. Começaram a chegar as primeiras fotos e dados. Especialmente aplaudida foi a da Rosetta fotografada a partir do módulo Philae logo após a separação, e a imagem que a Rosetta tirou da Philae, já com as patas abertas, a certa distância.
Mas a missão Rosetta não se limita a essa bem-sucedida operação de aterrissagem. A nave continua ao redor do cometa, estudando-o durante os próximos meses. “Temos mais de um ano de ciência pela frente, acompanhando o 67P/Churyumov-Gerasimenko”, disse o astrofísico espanhol Álvaro Giménez, diretor científico da ESA. E agora, além disso, a Philae deve começar a colher dados científicos também do solo.
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