“Somos africanos, não um vírus”
Jogador de Serra Leoa é repreendido por exibir mensagem contra discriminação a atletas
A Liga Grega de Futebol convocou para prestar depoimento o jogador de Serra Leoa, John Kamara, que joga no time Lamia da segunda divisão, por ter mostrado uma camiseta com uma mensagem de protesto durante uma partida da competição. O depoimento estava previsto para esta quinta-feira, mas o órgão decidiu adiar seu comparecimento, segundo um comunicado. O meio-campista é acusado de ter violado o regulamento antirracismo, de acordo com um comunicado da Liga Grega divulgado na sexta-feira passada pela agência AFP. Kamara mostrou uma camiseta com a seguinte mensagem: “Somos africanos ocidentais. Não somos um vírus.”
Kamara, de 26 anos, em referência a surto de ebola que assola seu país, mostrou uma mensagem de protesto em 27 de outubro, depois da partida contra o Larisa, vencido por sua equipe (1x0), e quis com o gesto comemorar a vitória diante dos 3.000 torcedores. Em sua camiseta, também estavam as bandeiras de outros dois países afetados pela epidemia, Libéria e Guiné. É muito provável que o jogador não compareça à audiência no Tribunal Disciplinar da Liga Grega em Atenas, mas que seja representado por seu advogado para defendê-lo.
Kamara diz ter sido pressionado por seu clube para que ficasse na África devido ao medo de contágio pelo ebola
O jogador de Serra Leoa se considera vítima de discriminação denunciada naquela partida em outubro. Em uma entrevista à rede britânica BBC, Kamara se queixou de ter recebido um e-mail de sua equipe que lhe pedia para que ficasse na África de “15 a 21 dias”, depois de disputar uma partida com sua seleção em Yaundé, contra os Camarões, e que não voltasse a treinar na Grécia durante esse intervalo, tirando um período de “descanso”.
O Lamia, que justificou sua decisão devido às recomendações do Ministério de Saúde da Grécia, relativizou posteriormente a informação, alegando que o período de descanso sugerido a Kamara foi muito menor.
Contatado por este jornal, Kamara se esquivou em dar explicações. “Falarei depois do depoimento na audiência disciplinar”, disse por telefone. No entanto, o jogador disse à BBC que não visitava seu país há um ano. “A última vez que estive em Serra Leoa foi para uma partida classificatória para a Copa do Mundo do Brasil contra a Tunísia e Cabo Verde”, disse.
“Quando estivemos em Camarões, mediram nossa temperatura pela manhã e pela tarde. Disse ao clube que estou disposto a me submeter a qualquer tipo de cuidado médico, sempre que seja respeitado, mas não tenho o vírus do ebola”, afirmou o meio-campista. O jogador acrescentou que vai repensar seu futuro no clube. “Não posso dizer nada neste momento porque tenho que pensar em muitas coisas, falar com minha família e meu agente, antes de tomar uma decisão.”
Como consequência do medo do ebola, Marrocos tenta adiar a realização da Copa da África, prevista entre os dias 17 de janeiro e 8 de fevereiro. A Confederação Africana de Futebol (CAF) se recusa em adiar o evento e exigiu que Rabat decida, definitivamente, se vai organizar ou não o torneio na data planejada.
O caso de Kamara não é o único no qual as federações de futebol pressionam ou punem os jogadores por expressar ideias em suas camisetas. Em janeiro de 2009, a federação espanhola multou em 3.000 euros (cerca de 9.500 reais) o jogador Kanouté, natural do Mali e na época atacante do Sevilla, por seu apoio à Palestina. Em fevereiro de 2014, o atacante hispânico-hondurenho Jona, de 24 anos, jogador do Jaén, foi multado pelo Comitê de Competição em 2.000 euros por ter mostrado em sua camiseta de baixo uma mensagem de apoio às crianças com câncer: “Ânimo pequeninos”, dizia a mensagem, que terminava com a hashtag Dia Mundial contra o Câncer Infantil.
A norma 4 das regras da FIFA diz que: “Os jogadores não deverão mostrar em público roupas de baixo com slogans ou publicidade (...). A organização punirá os jogadores que levantem suas camisetas para mostrar slogans ou publicidade.”
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