‘Relatos selvagens’, um golaço argentino nos cinemas
Filme de Damián Szifrón estreia no Brasil durante a 38ª Mostra de Cinema de São Paulo
No Brasil, a Argentina é sinônimo de inimizade no futebol e de idolatria no cinema. É comum escutar dos espectadores atentos aos filmes argentinos, cada vez mais frequentes nos nossos circuitos, que eles fazem cinema melhor do que nós. Pois no caso de Relatos selvagens, o filme de abertura da 38ª Mostra de Cinema de São Paulo, não lhes falta razão: a vizinhança fez um golaço.
Um traço une as seis histórias que compõem essa comédia negra que defenderá a Argentina na disputa por uma cadeira no Oscar 2015: nós, seres humanos, somos animais selvagens que, em certos momentos da vida, simplesmente perdem o controle. Tem o atentado de avião arquitetado por um sujeito ‘maltratado’ a vida inteira por familiares e amigos; a vingança que acontece sem comprometer o vingador porque outro concluiu o serviço; a briga de trânsito entre machos que não medem consequências; o estresse que faz do cidadão comum e até louvável um criminoso indefensável; a corrupção sem limites de uma família rica que salva o filho mimado de ir à cadeia; e a loucura coletiva de uma festa de casamento que termina em catarse total.
Tudo contado com a ajuda dos melhores atores argentinos da atualidade, uns mais jovens, outros mais velhos, potencializando um roteiro sob medida para agradar tanto o espectador de gosto mais comercial, como o que espera do cinema que ele seja uma arte questionadora e que faz pensar. Tem, por exemplo, Ricardo Darín, grande astro do cinema latino-americano hoje e protagonista de O segredo de seus olhos (filme de Juan José Campanella pelo qual a Argentina conquistou seu segundo Oscar); Julieta Zylberberg, talento juvenil de A menina santa, de Lucrecia Martel, que cresceu em La mirada invisible, de Diego Lerman; Leonardo Sbaraglia, rosto que reconhecemos de Plata quemada e Las viudas de los jueves, de Marcelo Piñeyro; e Oscar Martínez, veterano da TV e do teatro que fez O ninho vazio, de Daniel Burman.
O filme foi produzido por Agustín e Pedro Almodóvar, que têm bom faro na hora de se associar com o cinema argentino (vide, entre outros, os filmes de Lucrecia Martel, coproduzidos pela dupla de espanhóis), e foi total sucesso de público na Argentina, fazendo mais de três milhões de espectadores em salas comerciais do país. Além disso, foi o único competidor da América Latina na principal seção do Festival de Cannes – em que por pouco não levou a Palma de Ouro –, tendo circulado por uma quinzena de importantes festivais internacionais.
O talento por trás desse gol é um craque dos jovens (para o padrão do cinema, não do futebol): Damián Szifrón, de 39 anos, que debutou no cinema em 2001 com outra comédia negra, El fondo del mar. Em 2005, veio seu segundo longa-metragem, de maior repercussão internacional, a comédia policial Tiempo de valientes. Em Relatos selvagens, Szifrón consolida um estilo e dá mostras totais de um humor e uma sensibilidade ao estilo de Tarantino – tem o mesmo domínio dos diálogos e uma capacidade de conduzir com naturalidade as narrativas mais cotidianamente explosivas.
Durante a Mostra de Cinema de São Paulo, serão apenas três as exibições do filme. Sendo assim, aproveite a oportunidade de passar duas boas horas no cinema e também de falar bem (sempre mais saudável que falar mal) dos argentinos.
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