Hong Kong anula repentinamente diálogo com estudantes
Ruptura coincide com a abertura de uma investigação sobre pagamentos de empresa australiana ao chefe do Executivo local
O processo de diálogo em Hong Kong foi subitamente cancelado na quinta-feira pelo Governo autônomo do território, na véspera de uma reunião programada com os estudantes que exigem eleições livres. A vice-chefe do Executivo local, Carrie Lam, que encabeçaria essa rodada de negociações, argumentou que o Governo estava sendo pressionado pelos estudantes, que nos últimos dias convocaram uma escalada das manifestações se não houver avanços.
Lam disse a jornalistas que a iniciativa dos estudantes demonstra “falta de sinceridade” e um desejo de impor pré-condições que não haviam sido pactuadas no diálogo com o Governo. “A convocação dos estudantes à expansão de uma campanha de desobediência solapou a confiança que é a base das nossas negociações e impossibilitou que se mantenha uma conversa significativa”, disse ela.
Na avaliação dos líderes estudantis, trata-se de uma “mera desculpa”. “Lam disse que estamos utilizando o diálogo para levar mais gente às ruas, quando o número de manifestantes está diminuindo... Mas a realidade é que uma grande massa de gente pode obrigar o Governo a recuar um pouco. Então os cidadãos deveriam voltar a tomar as ruas”, afirmou Alex Chow, presidente da Federação de Estudantes de Hong Kong, em entrevista coletiva.
Em nenhum momento, como salientou a Federação, o Governo estipulou nas negociações preliminares que seria proibido convocar novas manifestações. O único requisito prévio que veio à tona desse diálogo, ocorrido no começo desta semana, havia partido dos próprios estudantes: que o diálogo seria suspenso em caso de violência contra os participantes nas ocupações urbanas mantidas desde em 28 de agosto no centro de Hong Kong e nos bairros de Causeway Bay e Mong Kok.
A decisão do Executivo surpreendeu tanto os líderes estudantis como os manifestantes. A pauta da reunião da sexta-feira incluía o desenrolar da reforma constitucional em Hong Kong. Os manifestantes que bloqueiam as ruas no território chinês reivindicam o sufrágio universal e a livre indicação popular de candidatos na próxima eleição para a chefia do Executivo, em 2017.
O Governo central chinês apresentou em agosto uma proposta de reforma eleitoral que prevê o sufrágio universal, mas não a designação pública de candidatos. Impõe também uma série de condições, como ao exigir que os aspirantes ao cargo de chefe do Executivo contem com o apoio da maioria dos membros de um comitê eleitoral. Segundo os manifestantes, isso implica necessariamente que qualquer candidato precisará contar com o aval prévio de Pequim.
Os estudantes também exigem a demissão do atual chefe do Executivo local, Leung Chun-Ying. Mas o Governo havia rejeitado discutir a renúncia dele ou o arquivamento da proposta de Pequim para a reforma eleitoral.
Depois do anúncio da suspensão das negociações, o número de manifestantes no centro de Hong Kong voltou a crescer. O jornal South China Morning Post calculava que quase 5.000 pessoas se encontravam na área principal dos protestos, nos arredores da sede do Governo local. A presença de público nas ocupações diminuiu nesta segunda semana de protestos, já que escritórios e escolas voltaram a funcionar após um feriado prolongado. Depois do cancelamento do diálogo, as organizações estudantis convocaram um novo protesto para sexta-feira às 19h30 (6h30 em Brasília).
A ruptura do diálogo coincide também com a abertura de uma investigação sobre pagamentos equivalentes a mais de 15 milhões de reais feitos a Leung por uma empresa australiana. O departamento de Justiça de Hong Kong encarregou seus promotores de investigarem e se necessário apresentarem denúncia contra o político. O grupo de comunicações Fairfax Media, da Austrália, publicou que a companhia UGL Limited fez depósitos a Leung entre 2012 e 2013, relativos a um acordo de dezembro de 2011, quando a empresa adquiriu a imobiliária DTZ, onde Leung trabalhava na época como diretor para a Ásia/Pacífico. Leung, que não tinha divulgado esse rendimento, nega ter cometido qualquer ato ilegal. Ele assumiu o cargo de chefe do Executivo em julho de 2012.
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