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Erro do IBGE mobiliza o Governo Dilma e é explorado na campanha eleitoral

Órgão, vinculado ao Ministério do Planejamento, pediu desculpas por dados errados na PNAD, divulgada nesta quinta. Ministros defendem instituto, em meio a críticas de adversários de Rousseff

Carla Jiménez

Toda nação tem um órgão oficial para apurar as estatísticas oficiais do país, seja de natureza econômica, social ou populacional. Assim é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cuja fundação tem raízes ainda nos tempos do Brasil Império, quando em 1871, Dom Pedro I criou a Diretoria Geral de Estatísticas, que ganhou músculos com o tempo, e em 1936 recebeu a alcunha de IBGE. Hoje, um dos documentos mais valiosos, produzido pela instituição, vinculada ao Ministério do Planejamento, é a Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios, um calhamaço de quase 130 páginas, com informações sobre a população de cada um dos 27 estados brasileiros, assim como o tipo de educação, trabalho, renda, fecundidade, número de moradias, e bens de consumo por família.

Por isso, o anúncio desta sexta-feira, de que alguns cálculos apresentavam erros “extremamente graves”, segundo as palavras da presidenta do IBGE, Wasmália Bivar, nas conclusões finais da PNAD, divulgada no dia anterior, criou uma celeuma que mobilizou o Palácio do Planalto e os ministros do Governo de Dilma Rousseff. Neste sábado, quatro ministros do Governo de Dilma se pronunciaram para esclarecer as informações. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, reuniu jornalistas em Brasília para dizer que “o Governo ficou chocado com este erro gravíssimo do IBGE. A presidenta Dilma ficou perplexa. O erro foi muito grave mesmo”, disse Belchior, que se apresentou junto com Henrique Paim, ministro da Educação, Tereza Campello, do ministério do Desenvolvimento Social, e Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

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A PNAD é esperada ansiosamente por economistas, cientistas políticos e acadêmicos que cruzam essas informações para entender as tendências apontadas para o Brasil por essa radiografia de números. Esta última edição, em especial, também tinha um peso fundamental no meio do tiroteio eleitoral da campanha à presidência da República, uma vez que o IBGE apura a variação da desigualdade social e a renda dos brasileiros, dois temas fundamentais para o Governo do PT. A divulgação inicial apontava que a desigualdade tinha parado de cair, com uma leve tendência de alta.

O índice que mensura o nível de desigualdade de 2013 (conhecido como índice Gini, quanto mais perto do número 1, mais desigual é uma sociedade) foi apresentado inicialmente como sendo de 0,498, um pouco acima do registrado um ano antes, de 0,496. Com a correção, ele foi revisto para 0,495, ou seja, com uma leve tendência de queda. Segundo o IBGE, o erro foi ocasionado pela utilização inadequada das regiões contempladas para apurar os dados, o que teria superdimensionado algumas informações.

A renda dos brasileiros, por sua vez, que segundo a primeira versão da PNAD, havia crescido 5,7% no ano passado, teve uma expansão menor, de 3,8% depois da revisão feita pelos técnicos. As informações sobre analfabetismo também foram corrigidas: a taxa de pessoas de 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever foi apresentada inicialmente como sendo de 8,3%. Na revisão, ficou em 8,5%.

Embora as frações sejam até pequenas, o tamanho do estrago é grande e coloca em dúvida a continuidade da presidenta do IBGE, Wasmália Bivar, no cargo. Segundo a ministra Belchior, uma sindicância está sendo aberta com integrantes do Planejamento, da pasta da Justiça, Casa Civil e Controladoria Geral da União, para avaliar o episódio. Ela reconhece que o erro acontece em um momento inoportuno. “O período eleitoral aumenta a amplitude das coisas”, disse ela.

De fato, os adversários políticos da presidenta exploraram o assunto, atacando a gestão da instituição. Aécio Neves, candidato do PSDB, disse neste sábado, durante campanha no interior de Minas Gerais, que os erros da PNAD mostram “a marca perversa do petismo no Brasil, a desmoralização das nossas instituições”, lembrando outras informações divulgadas por órgão oficiais, que depois foram revisados, como a pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sobre machismo no Brasil, divulgado em abril deste ano, que apresentou dados errados, depois corrigidos publicamente.

Também o coordenador da campanha de Marina Silva (PSB), Walter Feldman, cobrou explicações do órgão por ter cometido esse tipo de erro. Wasmália Bivar reuniu jornalistas nesta sexta-feira para dizer que o órgão “devia desculpas à sociedade brasileira”. Bivar é funcionária de carreira do IBGE, e assumiu a presidência em 2011. Desde então, enfrentou algumas dificuldades no órgão, como a greve de 77 dias de funcionários por melhores condições de trabalho. Marcelo Neri, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, porém, defendeu a credibilidade do órgão.“O IBGE admitiu o erro. O que arranha [a credibilidade] é não corrigir erros rapidamente”, afirmou.

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