Emma Watson se une à causa das feministas uruguaias
A atriz britânica provoca tumulto ao redor do Parlamento, ao qual compareceu para promover a paridade na política

As aguerridas feministas uruguaias receberam nesta quarta-feira o inesperado reforço da atriz britânica Emma Watson, que realizou no Uruguai sua primeira missão como embaixadora da ONU Mulheres e conseguiu lotar o Parlamento com uma incomum mistura de adolescentes febris, militantes e políticos.
Sorridente e um pouco desorientada, Watson pôs sua fama mundial a serviço da paridade política no Uruguai, uma causa tão complexa como a legislação uruguaia sobre a questão. O país rioplatense tem um porcentual de participação feminina no Parlamento de 11%, uma das mais baixas da América Latina, “menor que nos países árabes”, segundo reconheceu o vice-presidente Danilo Astori.
Há cinco anos, deputados e senadores votaram uma lei de paridade que garantia 30% dos postos nas listas eleitorais às mulheres. Mas numa reviravolta insólita se decidiu que a norma seria válida somente uma vez, ou seja, apenas nas eleições de 2014. Faltando 39 dias para a votação e a campanha mais disputada do que nunca, as feministas uruguaias tentam obter o compromisso dos candidatos de que a paridade se manterá, e que seja por tempo indefinidamente.
Portanto, a jovem intérprete de Hermione na saga de Harry Potter veio a Montevidéu pôr o dedo na ferida, em plena campanha eleitoral. “Os partidos acataram a lei da paridade escrupulosamente, se alguém olha as listas eleitorais, em todas aparecem dois homens e uma mulher, de modo que sucessivamente se limitaram aos 30%, mas só isso, nem um posto mais”, disse Lucy Garrido, da ONG Cotidiano Mulher.
Na prática, as feministas consideram que a lei de cotas permitiu a presença de mulheres com experiência e trajetória política nas relações de todos os partidos, algo que de outra forma não teria acontecido. A agenda da mulher, no entanto, é quase inexistente nesta campanha, apesar de uma das propostas mais ambiciosas da esquerdista Frente Ampla (FA) consistir em promover a incorporação da mão de obra feminina ao mercado de trabalho. “Tabaré Vázquez e Raúl Sendic (os candidatos da FA) apresentaram o projeto junto com nove homens, sem que houvesse uma só mulher. São coisas reveladoras”, afirma Lucy Garrido.
Emma Watson entendeu as sutilezas da legislação uruguaia e a inércia machista dos políticos? De qualquer modo, a ONU Mulheres estava a par do contexto e pôde comprovar em Montevidéu o poder da convocação de sua nova embaixadora.