“Tenho boa aparência, não? Pois me dilacero por dentro”
Com osteoartrite, Jane Fonda chama a si mesma de “mulher biônica”
Com Jane Fonda chega o escândalo. A lenda, a atriz icônica, a estrela, e a intérprete, como também a ativista, não muda. Ela nos fez permanecer vidrados nela por seu trabalho – desde Barbarella a Amargo Regresso –, por seus protestos contra a Guerra do Vietnã nos anos de Hanói Jane, por seus exercícios durante os anos nos quais também foi a rainha da aeróbica ou por seus casamentos, três, um a mais do que premiações do Oscar na carreira da filha de Henry Fonda. E hoje, aos 76 anos (faz 77 em dezembro), continua chamando a atenção por essa forma que causou inveja no tapete vermelho no recente Festival de Toronto. Ou por esses seios (não de todo autênticos) que a atriz mostra sem nenhum tipo de pudor em sua última estreia, Sete Dias Sem Fim (previsto para estrear em novembro no Brasil) para não falar do beijo lésbico que dá em Debra Monk no filme. A que teve, reteve e conservou para a velhice.
Pergunta. Shawn Levy, diretor de Sete Dias Sem Fim, afirma que você estava demais com as próteses de seios que lhe deu no filme.
Resposta. Como não desfrutar de algo assim! Quis mostrá-los mais, mas Shawn não me deixou.
P. Você teve próteses de silicone das quais se desfez aos 50 anos. Por quê?
R. Quando você envelhece elas ficam maiores e as próteses não me pareciam apropriadas. Mas você não vai querer que eu comece a falar dos meus peitos agora!
P. E seu primeiro beijo?
R. O lésbico?
P. Quem beija melhor?
R. As mulheres. Sempre. Somos muito mais sensuais. Com exceção do meu namorado atual, claro. Fui a Los Angeles para uma operação e voltei com um novo joelho e um amante.
P. Seu futuro marido?
R. Está louca? Aos 77? Por que iria me casar? Apenas me casei com o Ted (Turner) porque ele quis. Tinha cinco filhos e vivia no sul. Foi ele quem quis a segurança do casamento.
P. O que você busca agora em sua relação?
R. Carinho. Ninguém ensinou isso quando éramos jovens. Buscamos o glamour, o sexo, o poder, mas ninguém nos diz que talvez os mais quietinhos a longo prazo são os melhores. Tenho um namorado judeu. Finalmente! Teve uma mãe que pegou em armas e não tem medo de mulheres com personalidade. É amável e carinhoso.
Fonda se refere ao produtor musical de 72 anos, Richard Perry, o último amante de uma longa lista que inclui o diretor francês Roger Vadim, com quem esteve casada em seus anos de rebeldia; o político Tom Hayden, seu marido nos anos de ativismo, e o magnata da mídia Ted Turner, seu terceiro esposo nos anos de longo sumiço de Hollywood. Com Turner houve um antes e um depois. Antes de conhecê-lo deixou nas telas o melhor de sua carreira. Depois de seu divórcio, o cinema não lhe oferece nada mais do que comédias leves. Mas, fora da grande tela, ela agora desfruta ser apenas Jane.
R. Tive que esperar os 62, deixar Ted, para me dar conta pela primeira vez de que não precisava de um homem para ser quem sou.
P. Como Ted Turner será lembrado?
R. Por seu humor. É divertidíssimo. Ele me ensinou que alguém pode ser excessivo e ao mesmo tempo adorável, algo incrível para alguém que vem de uma longa linhagem de depressivos.
P. E seu pai? Qual a maior lembrança?
R. Quando morreu, nos reunimos em sua casa. Com Jimmy Stewart, com alguns de seus amigos de sempre. E também veio aquele que foi seu maquiador durante anos. Me contou que quando se sentava não fazia outra coisa a não ser falar de sua filha. Meu pai nunca me disse isso. Eu só queria seu amor. Fui uma ativista pelos personagens que interpretou em seus filmes, Vinhas da Ira, Consciências Mortas, Doze Homens e uma Sentença. Sabia que eram seus preferidos, os personagens que amava, e quis dar-lhes vida.
P. Por que deixou o cinema? Por medo?
Em uma relação, hoje só busco carinho”, diz a atriz que deixou muitos apaixonados
R. Qualquer ator vai te dizer que o medo é constante. De fracassar. De que saibam que você é uma fraude. E quem disser o contrário mente. Não foi isso. Me afastei por 15 anos porque era infeliz. E não se pode atuar quando se é infeliz.
P. Como é sua vida agora?
R. Me mantenho ativa. Não é que goste de me vestir e de me arrumar. Preferiria ficar em casa, no rancho. Cavalgar, dedicar-me à pesca com mosca. Mas o rancho está à venda porque já não posso montar a cavalo. Tenho boa aparência, não? Pois me dilacero por dentro. Osteoartrite. Vou substituindo as peças pouco a pouco. Digo que sou uma mulher biônica.
P. Por que voltar ao cinema?
R. É preciso pagar as contas! Também escrevi sete livros e estou trabalhando em um romance, mas vou te dizer algo que não deveria: 11 editoras o recusaram. Uma lição de humildade.
P. O que ficou da Jane Fonda revolucionária?
R. Houve muita frivolidade hedonista e estupidez nos meus primeiros 30 anos de vida. Mas a partir dos 60 nasceu esta outra mulher, que sabe escolher suas batalhas, que trabalha com adolescentes, que luta para que as mulheres sejam ouvidas na mídia. Encontrei minha voz aos 62. Não há amargura. Dizem com razão que a partir dos 50 você se torna mais positivo. Deixa de fazer montanhas de grãos de areia. Esta sou eu, a que faz limonada com os dois limões que recebo.
Além de seu novo filme, a limonada de Jane Fonda inclui a série de TV Grace & Frankie na qual junto com sua amiga Lily Tomlin aproveita para defender o casamento homossexual, ao mesmo tempo em que faz comédia e ganha um salário. No lado pessoal, tem planejada uma viagem com seu irmão, o também ator Peter Fonda, para visitar o túmulo de sua mãe em Ontário, no Canadá. “Além disso, faz tempo que deixei de provocar porque meus filhos me dão bronca”, conclui com uma piscadinha marota, com a qual confirma que a megera dentro de Jane Fonda está muito longe de ser domada.
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