_
_
_
_
_

Um remédio para a esclerose múltipla supera a primeira fase de testes

A doença não tem cura e só podem ser prescritas terapias paliativas durante os surtos

Na imagem, um modelo 3D de neurônio reconstruído a partir de dados de laboratório.
Na imagem, um modelo 3D de neurônio reconstruído a partir de dados de laboratório.EPFL

A esclerose múltipla é uma doença degenerativa. Consiste na destruição da mielina (a capa que recobre os nervos) pelo funcionamento anormal do sistema imunológico, e tem como consequência que os sinais do cérebro não chegam ao seu destino. Por isso se manifesta de maneiras muito variadas (problemas de visão, de coordenação, de memória, fraqueza muscular, fisgadas, tiques). Não tem cura e só podem ser prescritas terapias paliativas durante os surtos ou como manutenção. Por isso, um fármaco que tenha superado a primeira fase dos testes em humanos é uma boa notícia para os doentes (entre eles, dois milhões de europeus). Isso é o que publicou nesta quarta-feira, na revista Neurology, Neuroimmunology & Neuroinflammation, uma equipe da Associação Americana de Neurologia.

O trabalho é apenas a fase I, a que mede a segurança do medicamento, e ainda falta um longo caminho até chegar ao uso clínico, mas tem uma abordagem inovadora, explicam os autores. Até agora, o que se tenta com as terapias para a esclerose múltipla é que não se volte a ter surtos (a doença não atua de maneira contínua, mas o faz por episódios intercalados com períodos de estabilidade).

Neste caso se descobriu —ao menos nos testes com ratos— que é possível interferir na atividade de uma proteína, chamada lingo-1, que bloqueia o processo de reconstrução da mielina dos nervos.

O anti-lingo-1, como o fármaco foi chamado, impede essa atuação, o que levou animais de laboratório a recuperarem as funções nervosas. O teste em pessoas, por ora, não produziu dados disponíveis. Nesta fase foram recrutadas 72 pessoas saudáveis e 47 que tinham a doença em uma fase de não atividade ou com baixa progressão, e, como é normal nesses estudos, elas foram divididas em grupos para receberem o placebo ou várias doses do medicamento, que é injetado.

O resultado principal do estudo foi que não houve efeitos colaterais de importância. Mas foi possível determinar qual quantidade de fármaco permitia manter no sangue o nível ótimo de anti-lingo-1 que se tinha observado permitir a regeneração da mielina em animais. Por isso Diego Cadavid, membro da Associação Americana de Neurologia e do laboratório Biogen, que desenvolveu o fármaco, se mostrou otimista. “Com esses resultados podemos começar os testes da fase II para ver se esse fármaco pode recompor a mielina e se tem efeito na recuperação das funções físicas e intelectuais”, disse. Logo se fará um teste em grande escala para refinar os protocolos e medir definitivamente sua eficácia, o que costuma levar anos, a não ser que se decida, como aconteceu com o ebola, que a situação dos pacientes é tão desesperadora a ponto de se acelerar os prazos ou, diretamente, saltar essas etapas.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_