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O avanço jihadista no norte do Iraque desestabiliza a região

As forças divididas do Líbano se unem em uma frente comum contra o grupo Estado Islâmico

Natalia Sancha
Milicianos do Estado Islâmico, no norte do Iraque.
Milicianos do Estado Islâmico, no norte do Iraque.AP

Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos atacavam o Estado Islâmico (EI) no norte do Iraque, o Líbano se somava à onda de desestabilização regional desencadeada pelo avanço dos jihadistas nos países que têm fronteiras com a Síria.

Após quatro dias de combates entre o Exército libanês e os jihadistas sunitas da Frente Al Nusra e do Estado Islâmico na cidade libanesa de Ersal (a 12 quilômetros da fronteira com a Síria), as Forças Armadas libanesas afirmaram nesta sexta-feira que tinham o controle da área.

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“A situação está quase sob controle, mas há duas horas tivemos que revidar um ataque na entrada de Ersal, após vários jihadistas armados dispararem contra um comboio de militares”, relatou um soldado do último posto de controle que permite a entrada em Ersal e onde a passagem de jornalistas e de membros de grupos que prestam ajuda humanitária foi barrada.

Os jihadistas deixaram as montanhas que separam o Líbano da Síria – que haviam sido transformadas em reduto do EI – para escapar da perseguição do Exército sírio e de combatentes do Hezbollah (grupo radical xiita aliado ao regime de Damasco), saindo do território sírio para se dirigir ao outro lado da fronteira libanesa.

Várias centenas de jihadistas vindos da Síria conseguiram manter as Forças Armadas libanesas em xeque durante quatro dias. Mataram 55 civis e 14 militares, além de terem capturado outros 35, que ainda se encontram em seu poder. Fontes militares libanesas confirmaram nesta sexta-feira que os jihadistas pretendem trocar 10 oficiais por presos islamitas que estão em prisões no Líbano, ação coerente com um anúncio do líder do EI feito através um vídeo postado na Internet em julho deste ano, no qual convocava seus homens a “atacar o Exército libanês e o Hezbollah, e libertar seus irmãos presos”. O EI impõe, dessa forma, um novo cenário de luta ao Líbano, onde até agora os atentados terroristas haviam sido atribuídos a propósitos contrários aos objetivos xiitas, sem levar a enfrentamentos diretos com as forças de segurança.

A entrada do EI na guerra síria desestabilizou muito o Exército Livre Sírio (ELS), primeiro grupo a levantar armas contra o regime, e também os seus companheiros islamitas de luta e a Frente Al Nusra, afiliada da Al Qaeda. Melhor financiado e por isso mais bem armado, o EI conseguiu assumir o controle e o monopólio da luta em Raqa, no norte do país, dividindo e ao mesmo tempo debilitando o campo rebelde. Essa divisão favoreceu o discurso do Governo Sírio e de seu presidente, Bashar al Assad, e suavizou temporariamente a ofensiva das potências ocidentais contra ele.

Os líderes religiosos dos três principais pilares sunitas do Líbano (Trípoli no norte, Sidon no sul, e Ersal, na fronteira leste com a Síria) estão contra o EI, que pode tomar uma parte de seus seguidores. “Não há espaço para o EI no Líbano porque aqui os grupos sunitas obtêm sua força e seu financiamento de líderes e dinâmicas locais. Se o EI entrar no Líbano diminuirá o poder dos diferentes grupos locais sunitas, que perderiam sua capacidade de mobilizar seguidores nas ruas”, explica o xeque Abu Mazen, influente líder religioso de Bab al Tabbaneh, em Trípoli.

A regionalização dos confrontos do EI na Síria, no Iraque e no Líbano, sacudiu o regime de alianças políticas locais e regionais. A crise de Ersal e o pânico disseminado entre a população libanesa diante de uma possível avalanche de jihadistas do EI em seu próprio país radicalizou o debate.

Os dois principais blocos políticos libaneses, opostos por apoiarem ou confrontarem o regime do sírio Bashar al Assad, pactuaram há vários meses um plano de emergência de segurança nacional, colaborando pela primeira vez contra um inimigo comum. O Governo libanês pediu esta semana que a França acelere a entrega do armamento prometido e financiado pela Arábia Saudita, no valor de 2,2 milhões de euros (6,7 milhões de reais), para o combate dos terroristas.

No Iraque, o rápido avanço dos jihadistas, apoiados por várias tribos sunitas locais surpreendeu tanto o Exército e o regime iraquianos quanto as potências regionais; redesenhando uma nova política de alianças conjunturais na região. Os Estados Unidos incrementaram sua ajuda ao Governo de Maliki, aliado de Bashar al Assad na luta contra os rebeldes, e autorizaram o bombardeio das zonas onde o EI atua, efetivando nesta sexta-feira o ataque aéreo contra o grupo.

O avanço do EI e seu efeito desestabilizador sobre as políticas nacionais dos vizinhos da Síria resultaram em alianças incomuns entre Estados Unidos, Líbano, Síria, Arábia Saudita, Irã e Iraque. Todos no mesmo barco contra os combatentes do EI, neutralizando temporariamente a inimizade entre potências regionais sunitas e xiitas.

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