Preso um general colaborador de Hugo Chávez a pedido dos EUA
Desde 2008, o militar da reserva Hugo Carvajal está incluído na Lista Clinton por possíveis ligações com o narcotráfico
Hugo Carvajal, um general da reserva do Exército venezuelano e um dos mais próximos colaboradores do falecido presidente Hugo Chávez, foi preso nesta quinta-feira em Aruba, ilha-nação a 25 quilômetros da costa da Venezuela.
Em janeiro, Carvajal foi nomeado cônsul geral da Venezuela em Aruba pelo atual presidente Nicolás Maduro. Ele estava na ilha à espera da aprovação de sua nomeação por parte do Governo da Holanda, antiga metrópole colonial que mantém a responsabilidade nos assuntos de Defesa e Relações Exteriores do Estado insular.
A detenção teria acontecido a pedido da justiça dos Estados Unidos, que busca sua extradição. Carvajal figura na chamada Lista Clinton do Departamento do Tesouro norte-americano desde 2008, quando era oficial ativo e chefe da inteligência militar venezuelana. Nela estão incluídos os nomes de personalidades estrangeiras as quais Washington congela contas e propriedades por seus vínculos com o tráfico de drogas. O Governo de Caracas repudiou energicamente a detenção “ilegal e arbitrária” do funcionário venezuelano, alegando seu status diplomático, e pediu sua libertação à Holanda.
Outros dois militares venezuelanos, hoje governadores de províncias pelo Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), atualmente no poder, Ramón Rodríguez Chacín —ex-oficial da Armada, governador do Estado de Guárico— e Henry Rangel Silva —ex-oficial do Exército e ex-ministro da Defesa, à frente do Estado de Trujillo—, aparecem também na lista. Quando o trio foi incorporado à lista, o Departamento do Tesouro apontou que os militares “proporcionaram assistência militar às atividades de narcotráfico das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), uma organização narcoterrorista”.
Tanto Chacín como Rangel estiveram vinculados aos serviços secretos do Governo chavista. Mas, ao contrário deles, Carvajal manteve sempre um perfil baixo que o foi convertendo em legenda. A revista Semana de Bogotá chegou a batizá-lo em 2008 como o Montesinos de Chávez, em alusão ao assessor de inteligência de Alberto Fujimori, presidente peruano entre 1990 e 2000.
Apelidado de “frango”, Carvajal graduou-se como oficial do Exército em 1981. Ao lado de seu colega de promoção, o também ex-governador chavista Ronald Blanco La Cruz, participou na intentona comandada pelo então tenente-coronel Hugo Chávez em fevereiro de 1992. Tornou-se homem de confiança do líder revolucionário que, já presidente, nomeou-o em duas ocasiões chefe da Direção Nacional de Inteligência Militar (DIM), e em uma chacota irônica que parecia dirigida a Washington, em 2012, o colocou à frente do recém-criado Escritório Nacional contra a Delinqüência Organizada e o Financiamento do Terrorismo.
No submundo da contra-inteligência, Carvajal teve de encarar a guerrilha colombiana e os chefões do tráfico de drogas, que o teriam fisgado. Durante anos, foi mencionado na imprensa colombiana e norte-americana como responsável de operações para refugiar na Venezuela chefes guerrilheiros e do narcotráfico. Nos e-mails presumidamente encontrados nos computadores do abatido líder guerrilheiro das FARC, Raúl Reyes processados pelo britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), Carvajal aparece como coordenador para obter sistemas sofisticados de armas para as forças irregulares. Ele também foi relacionado com a morte, em 2007, de dois oficiais do Exército colombiano, infiltrados em uma coluna das FARC que atuava na Venezuela.
A designação de Carvajal como cônsul em Aruba havia despertado suspeitas. Aruba é um paraíso fiscal. A Holanda demorou de modo inusual na concessão do beneplácito consular, o que deu tempo para tramitar a petição norte-americana de captura.
Essa detenção constitui uma escalada na pressão de Washington sobre Caracas. Depois da violenta repressão contra os protestos que em fevereiro sacudiram a Venezuela e se saldaram com 43 mortes, mais de 3.000 detidos e a prisão para vários dirigentes políticos como Leopoldo López, parlamentares norte-americanos tentaram ativar sanções contra as autoridades chavistas e seus parceiros empresariais. Essas iniciativas foram bloqueadas pelo Departamento de Estado. Contudo, a captura de Carvajal representaria uma mensagem de firmeza para Caracas.
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