O banco português Espírito Santo perde a metade de seu valor em sete dias
A família vendeu 4,99% das ações a um real quando há um mês comprou por quase dois
As ações do Banco Espírito Santo (BES) continuaram a despencar nesta terça-feira na Bolsa de Lisboa pelas dúvidas sobre a situação financeira do grupo. Na parte da tarde após chegar a ceder 20% na abertura e marcar um novo mínimo histórico em 35,5 centavos de euro (1,07 reais), diminuiu levemente a avalanche de vendas. Finalmente, a sessão encerrou com uma queda da Bolsa de Lisboa de mais de 1% e de 14% para o BES.
Nas primeiras duas horas de negociações mudaram de mãos 37 milhões de ações do banco, quando a média diária era de 28 milhões. Na primeira hora da tarde já eram 135 milhões e o expediente se encerrou com um intercâmbio de aproximadamente 150 milhões de títulos. No expediente de segunda-feira, marcado pela demissão acelerada na diretoria e a expulsão da família Espírito Santo dos postos de responsabilidade, as ações do BES foram superiores a 7%.
Por volta de meio dia, o novo administrador do Banco, Vítor Bento, fez um comunicado aos trabalhadores no qual dizia para "reconquistar a confiança dos mercados", pedindo a colaboração deles para "dar um fim na especulação e abrir um novo capítulo do banco". Após a mensagem aos 10.000 empregados, as ações do BES chegaram a ter uma subida de 5%, que se manteve durante alguns minutos em um expediente tão volátil como os anteriores.
Esta terça-feira deveria ser o dia em que uma das sociedades do grupo Espírito Santo, a Rioforte, deveria pagar para a operadora Portugal Telecom uma dívida de 875 milhões de euros (2,64 bilhões de reais) mas, segundo publicou a Reuters, esta sociedade estaria preparando a petição de uma junta de credores. Esta informação fez baixar as ações da PT que, por sua vez, está em pleno processo de fusão com a brasileira OI, o que afetaria a composição acionista da operadora resultante. Em princípio a representatividade da PT deveria ser de 37%, e agora se especula que não passe de 20%.
Os bancos controlados por famílias podem ser problemáticos, mas os grandes bancos administrados por acionistas familiares podem ser muito problemáticos
Graças à notificação do Espírito Santo Financial Group – que continua sem cotação – à Comissão portuguesa de valores foram conhecidos os detalhes da venda de 4,99% de suas ações no BES. O grupo recorreu à ampliação do capital mas com um empréstimo do banco japonês de investimentos Nomura, garantido com 4,99% de ações. A queda da cotação (mais de 40% em uma semana) dava ao banco japonês a opção de exigir mais garantias ou a devolução do empréstimo. A família Espírito Santo optou pelo mal menor: vender esta porcentagem de ações, apesar de tê-las comprado um mês atrás por 65 centavos de euro (1,96 reais) e vendê-las agora por 34 centavos de euro (um real). No total, perdas superiores a 89 milhões de euros (268 milhões de reais).
Enquanto isso, o que fica cada vez mais forte é o boato de que várias holdings do Grupo Espírito Santo – como a ESI, ESFG e a Rioforte – solicitarão em Luxemburgo – onde está sua sede – uma junta de credores para as autoridades mercantis judiciais, o que imobilizaria também todos os ativos das empresas da família e por consequência sua participação de 20% no mesmo banco.
Um triste final para uma família orgulhosa
Os grandes diários econômicos internacionais Financial Times e Wall Street Journal dedicaram hoje espaço para a queda do grande império familiar Espírito Santo. "Um triste final para uma família orgulhosa", escreveu Patrick Jenkins no FT. "A saga do português Banco Espírito Santo nos faz recordar muita coisa: que os bancos da periferia da zona do euro seguem sendo frágeis, que a percepção dos investidores sobre eles ainda pode ser volátil, e que os resgates de bancos pagos por contribuintes já não são apreciados pelos governos", assinala.
"Os bancos controlados por famílias podem ser problemáticos", escreveu Jenkins, "mas os grandes bancos administrados por acionistas familiares podem ser muito problemáticos".
Ainda assim, lembra que existem casos de sucesso de bancos familiares, como o Santander – ainda que a família Botín tenha apenas 2% dele – que subiu 43% na bolsa nos dois últimos anos, e o SEB da família sueca Wallenberg, que duplicou seu valor no mesmo período de tempo. Neste ano, o BES perdeu mais de 50% do valor.
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