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A guerra consome Gaza

Em quatro dias, caíram 550 foguetes do Hamas sobre zonas civis de Israel

Ataque de Israel contra uma casa em Rafah, ao sul de Gaza.Foto: reuters_live

Os bombardeios israelenses mataram nesta sexta-feira 103 palestinos ao final do quarto dia da operação militar contra Gaza, ordenada pelo Executivo de Benjamin Netanyahu. Segundo as autoridades palestinas, 74 das vítimas eram civis. Entre elas, estão 23 crianças.

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Esta sexta-feira terminou sendo uma jornada relativamente tranquila depois dos tremendos ataques e da noite anterior. Mas, ao cair da tarde, voltaram o ruído das bombas e dos motores dos helicópteros de combate sobre Gaza. De madrugada, esse som costuma anteceder as explosões ubíquas na cidade.

A zona está sob controle permanente de aviões não tripulados de Israel, que também se ocupam de "assassinatos seletivos" como o que matou na sexta-feira ao farmacêutico Mata Abu Alkas em sua casa no centro. Três mísseis de precisão arrebentaram toda a casa, matando-o e ferindo vários de seus familiares. Dizem os vizinhos que ele trabalhava em um hospital de Gaza e não tinha filiação política. Os escombros de sua casa, no primeiro andar, chegavam até a metade da rua sem trânsito. O desmoronamento das fachadas pelas bombas é um dos perigos pairando sobre os poucos motoristas que estes dias atravessam Gaza.

Nesta sexta, durante o dia, as ruas estavam quase vazias, pois não houve chamado à oração nas mesquitas. É muito grande o medo das bombas e dos mísseis, que às vezes vêm precedidos por explosões ou ligações avisando. Outras vezes, não. Além disso, entre os foguetes de aviso e o míssil que mata transcorre um lapso de tempo imprevisível: a morte pode chegar uns minutos depois da advertência ou, em outras ocasiões, horas mais tarde. Outras vezes, são só os foguetes de ruído que não anunciam nenhum ataque. A tensão entre a hospitaleira população de Gaza cresce, assim, a cada minuto. O cansaço pelas mortes começa a ficar evidente, inclusive, entre os mais jovens da cidade.

Segundo as autoridades palestinas, 74 do total de vítimas eram civis. Entre elas, estão 23 crianças.

Enquanto as bombas de Israel continuam golpeando Gaza, a Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, expressava nesta sexta suas "sérias dúvidas" de que Israel esteja cumprindo com as leis internacionais que proíbem matar civis intencionalmente. Pillay disse que a ONU está “recebendo inquietantes notícias de que as baixas civis, inclusive crianças, estão ocorrendo em bombardeios a residências”.

Há casas particulares destruídas pelas bombas em quase todos os distritos da pequena faixa de Gaza. A maioria das crianças morreram nesses ataques que, segundo Israel, estão dirigidos contra militantes do Hamas. Até o momento não foi anunciada a morte de nenhum dirigente significativo da organização extremista. O avô da família Hamad, que na terça-feira perdeu seis parentes em um ataque com drones em sua casa, se queixava no jardim da "perversidade" que significa acusá-lo de ter usado seu neto de três anos como escudo humano. Ferido pelas bombas que o deixaram sem pais, o menino estava brincando em seu próprio jardim.

No dia seguinte, Nidal e Mohamed Nawasra, de cinco e dois anos, brincavam no andar térreo quando foram mortos por outro míssil na casa da família. Minutos antes do início do sabá, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apareceu para acusar o Hamas e a Jihad islâmica de "todas as baixas" que está produzindo a escalada. "Seus líderes estão se escondendo atrás dos cidadãos de Gaza", acusou, evitando as críticas pelo elevado número de mortos civis de sua operação. Netanyahu celebrou o sucesso de ter golpeado uns 1.100 objetivos relacionados aos islamistas, a um ritmo que duplica o da Operação Pilar Defensivo (2012). A ofensiva, apesar disso, terá que continuar "até que cessem os foguetes".

Solene, assegurou aos israelenses que eles são sua "primeira consideração" e fará "tudo que for necessário" para defendê-los. Nem sequer os fracos movimentos para tentar arrancar uma trégua fazem com que modifique seu discurso. "A pressão internacional – advertiu – não vai impedir que Israel atue contra os terroristas". Netanyahu também avisou que a opção de uma ofensiva terrestre com tanque em Gaza está sobre a mesa.

Contra solo israelense foram disparados em quatro dias mais de 550 foguetes, dos quais uma centena foram interceptados pelo sistema de defesa antiaérea Cúpula de Ferro. Na quinta-feira, as sirenes tocaram em Tel Aviv – onde todos os impactos foram evitados –, nos arredores do aeroporto Ben Gurion (o que provocou atrasos de poucos minutos) e em Haifa, a 140 quilômetros da faixa, o ponto mais distante ameaçado pelas milícias até agora.

Já são sete os feridos por esses disparos. Um deles está em estado grave, depois que um projétil impactou em um posto de gasolina de Ashdod, na costa central, causando um incêndio. Dois soldados sofreram feridas leves depois de um ataque com mísseis antiaéreos na barreira fronteiriça. Uma anciã morreu por um infarto quando entrava em um refúgio em Haifa.

Do Líbano, também foram disparados dois foguetes contra Israel. Um se desintegrou e o outro impactou, sem danos, em Metula, a cidade que se acha mais ao norte do país. O exército israelense respondeu com 25 disparos de artilharia, que não causaram baixas. Fontes militares trabalham com a hipótese de que é uma provocação de algum grupo palestino ou jihadista menor, que tenta atrair a atenção em plena crise com Gaza. A Força Provisória da ONU para o Líbano investiga o caso.

Impacto do foguete lançado de Gaza a um posto de gasolina em Ashdod.
Impacto do foguete lançado de Gaza a um posto de gasolina em Ashdod.DAVID BUIMOVITCH (AFP)

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