Cerca de 400 ataques em Gaza provocam mais de 70 mortos
As Forças Armadas lançaram 400 toneladas de explosivos sobre o território palestino
As rádios de Gaza transmitiam na quarta-feira comunicados de guerra exaltados sobre os foguetes do Hamas que, segundo insistia a transmissão, entre o ruído de bombas, já tinham alcançado a distante localidade de Haifa, a mais de 100 quilômetros ao norte da fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel.
Segundo o exército israelense, os projéteis só chegaram a uns 40 quilômetros de Haifa. Mas surpreende a nova capacidade bélica mostrada pelo Hamas nesta fase das hostilidades. Os foguetes provocaram feridas leves em duas pessoas, em parte graças ao sistema de defesa Cúpula de Ferro. Ainda assim, o eco das sirenes anti-aéreas no norte de Tel Aviv e os recentes impactos em Jerusalém, próximo às instalações nucleares de Dimona, preocupam Israel cada vez mais. Mas nas ruas vazias de Gaza, hoje só se sentia raiva, dor ou até resignação, enquanto os mísseis israelenses atingiam a cidade várias vezes por hora. Nem um pingo de triunfalismo. A noite anterior, confirmaram muitos, "foi a pior em anos". Isso foi certificado com as dezenas de crateras e casas destruídas por toda a cidade.
A família Hamad teve seis dos mais de 70 mortos provocados pelos bombardeios israelenses por mar e ar contra a faixa de Gaza desde a madrugada da terça-feira. Algumas horas antes de que seus parentes enchessem sua casa, em Beit Hanun, para dar as condolências, o ancião Mohamed tinha perdido sua mulher, três filhos e uma neta em um bombardeio que também mandou ao hospital outro neto de três anos. Em seu jardim, na quarta-feira, era possível ver os restos do pequeno projétil que, com a precisão cirúrgica tão alardeada pelos militares, havia extirpado meia família. O jogo de chá que usavam até a explosão continua espalhado entre sangue seco e plantas no jardim. Um de seus filhos mortos, Hafez, militava na Jihad Islâmica. Hamad está desolado: "Meu neto de três anos e minha neta de 22? São os civis que pagam." Conversavam tarde da noite, depois de romper o jejum do Ramadã. Faz um gesto como se estivesse cansado, depois de ouvir sobre o suposto uso de crianças como escudos humanos: "Isto é o jardim da minha casa."
Em Gaza, no bairro de Zaitun, Mayed al Zabut contou como os israelenses ligaram para sua casa no meio da noite para que a desalojasse. No local, resta apenas um monte de escombros. Perdeu tudo, explicou. De repente, o ruído de um grande foguete palestino disparado entre as casas a uns 100 metros fez os adultos fugirem, pelo medo de um contra-ataque imediato da aviação israelense. As crianças, por outro lado, saíram todas ao mesmo tempo na direção do lançamento.
Em Israel acusam o Hamas de se ocultar entre civis para que cada resposta militar provoque a morte de vítimas inocentes. Nos 360 quilômetros quadrados de Gaza vivem mais de 1,8 milhão de pessoas. Toda a Faixa tem a densidade populacional de uma grande cidade. Entre um bombardeio e outro, as ruas da Gaza em guerra são das crianças e dos jovens, que parecem não ter medo de nada. Eles se juntam ao redor das enormes crateras pouco depois de cada explosão e comemoram os lançamentos de mísseis como se fossem gols da Copa do Mundo. Na Faixa, o desemprego supera 65% da população e a pobreza castiga 90%. Segundo explicou o ativista palestino Raji Surani em seu escritório em Gaza: "A vida aqui é catastrófica desde 2007", quando começou o cerco israelense à zona, que tinha ficado sob controle do Hamas depois da breve guerra que dividiu os territórios palestinos.
A segunda matança de civis foi no bairro de Askola, onde Mahmud e Abdelkarim Malaka retiraram seus primos Amina e Mohamed, de 28 e três anos, já mortos em uma casa em ruínas. À tarde, os homens tentavam resgatar alguns frangos ainda vivos entre os restos do galinheiro. Outros três parentes estão no hospital de Al Shifa, em Gaza. O chefe dos serviços de emergência, Ashraf al Kidra, explicava que ali "ficam dois ou três dias para que a situação fosse insustentável" nas clínicas da zona, cujas reservas de medicamentos estão em 30% e as de material cirúrgico, em 50%.
Grandes cidades como Tel Aviv, Jerusalém e Hadera são objetivo dos projéteis do Hamas, embora sem causar vítimas mortais
O ativista Surani pede que se evite “avaliar a situação em termos de matemática militar”. O alcance dos foguetes do Hamas é "irrelevante frente à superioridade israelense". Acha que os palestinos têm outras possibilidades de se rebelar "para sair de uma opressão pior que antes da segunda Intifada", que começou em 2000.
Enquanto isso, se ouvia uma curta rajada de mísseis israelenses. O ativista comparou a ocupação militar com as areias movediças. "Quem entra se afunda ainda mais a cada movimento". O pior de tudo, enfatizou, "é o desmoronamento moral".
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