Abdullah aprofunda a crise ao declarar-se vencedor das eleições no Afeganistão
Vencedor do primeiro turno, o candidato denuncia fraude maciça para favorecer seu rival Ghani
Abdullah Abdullah declarou-se hoje vencedor das eleições presidenciais no Afeganistão, rejeitando a vitória de seu rival Ashraf Ghani e com isso abrindo uma crise política e étnica no país asiático faltando poucos meses para a retirada das tropas da OTAN. “Somos os vencedores das eleições e devemos formar um governo legítimo”, ele afirmou numa reunião da Loya Jirga (assembleia tradicional) em Cabul, um dia depois de os primeiros resultados preliminares terem apontado a vitória de Ghani.
O ex-dirigente da Aliança do Norte contra o Taliban disse que nos próximos dias vai anunciar seu Governo, atendendo ao pedido “legítimo de seus eleitores”, e ameaçou levar seus eleitores às ruas. Mas ele não apoiou a criação de um Governo paralelo, como pediam alguns de seus aliados. O pedido tinha suscitado receios de um possível conflito étnico.
Tecnocrata com experiência no Banco Mundial, Ghani é pashtun, etnia que compõe 40% da população afegã. Abdullah é filho de pai pashtun e mãe tadjique, razão pela qual se vincula com a etnia tadjique. “Não queremos a partilha do Afeganistão”, ele declarou. “Queremos preservar a unidade nacional e a dignidade do país. Não queremos uma guerra civil, mas estabilidade.”
A Comissão Eleitoral do Afeganistão ((IEC) anunciou ontem os resultados preliminares do segundo turno das eleições do último 14 de junho, com Ghani na dianteira, com 56,44% dos votos, e Abdullah com 43,56%. No primeiro turno, realizado em 5 de abril, Abdullah teve 45% dos votos e Ghani, cerca de 31%.
Os resultados finais serão anunciados no próximo 22 de julho, e a previsão é que o novo presidente tome posse em 2 de agosto.
Abdullah acusou o presidente Hamid Karzai, a IEC e Ashraf Ghani de organizar uma fraude “em escala industrial”, com a introdução de cédulas falsas nas urnas, e em repetidas ocasiões pediu a recontagem das cédulas. A IEC concordou em fazer a recontagem em quase 2.000 centros eleitorais. O número foi considerado insuficiente por Abdullah e pelos observadores eleitorais da União Europeia, que, em comunicado, afirmaram que pode ter ocorrido fraude em 6.000 centros.
Abdullah desistiu de sua candidatura no segundo turno das eleições de 2009, em que concorria com Hamid Karzai, em meio a denúncias de fraude. Ele disse que vem tendo conversas telefônicas com o presidente dos EUA, Barack Obama, e com o secretário de Estado americano, John Kerry, que, segundo ele, viajará a Cabul na sexta-feira.
A tensão política devida aos resultados das eleições soma-se hoje a um novo atentado suicida que deixou pelo menos 16 mortos. As vítimas são quatro soldados da missão da OTAN no Afeganistão (ISAF), dois policiais afegãos e dez civis, segundo um primeiro balanço feito pela organização internacional e as autoridades locais, que atribuem o ataque ao Taliban. O ataque aconteceu na província de Parwan, no nordeste do país.
O ataque, que foi o mais grave sofrido pela missão da OTAN este ano, se deu em frente a um centro de saúde, por volta das 7h de hoje (23h30 da terça-feira em Brasília). O porta-voz das autoridades de Parwan, Waheed Sediqqi, disse à agência France-Presse que um homem-bomba atacou um grupo de soldados que estava no local. O Taliban reivindicou o ataque no Twitter, com uma mensagem em que disse que um de seus homens detonou um colete de explosivos.
As tropas internacionais iniciaram em 2011 uma retirada gradativa do Afeganistão e a transferência da responsabilidade pela segurança ao Exército e à Polícia afegãos. A ISAF vai encerrar sua missão no Afeganistão no final deste ano, mas os EUA anunciaram que vão manter cerca de 9.800 soldados no país até concluir sua retirada total, no final de 2016.
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