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Obama prepara a retirada total da tropa do Afeganistão

O presidente presume que Karzai não assinará o pacto bilateral de segurança, o que fará com que Washington não deixe nenhum militar em solo afegão a partir de 2015

Yolanda Monge
Um idoso passa junto a um soldado de EUA dispersado em Afganistán.
Um idoso passa junto a um soldado de EUA dispersado em Afganistán.Victor J. Blue (Victor J. Blue)

Barack Obama voltou na terça-feira a ameaçar o presidente Hamid Karzai com a retirada total das forças norte-americanas do solo afegão caso Cabul não assine um acordo bilateral de segurança (BSA, na sigla em inglês) sobre o qual o presidente afegão já se demora muito, na opinião de Washington. Em conversa por telefone, o presidente dos Estados Unidos advertiu seu homólogo de que a missão militar norte-americana que ficar no Afeganistão a partir do final de 2014 será menor “em escala e ambição” – ou inclusive será nula –a cada dia que Karzai retardar a assinatura do tratado que estabelece as condições de permanência das tropas norte-americanas no país, após fim do mandato da OTAN, em dezembro de 2014.

A paciência da Casa Branca com Karzai parece ter chegado ao seu limite e, depois da conversa, Obama avisou o Pentágono para que se prepare para uma possível retirada total no fim de ano. “O presidente Obama pediu ao Pentágono que assegure ter o plano adequado para retirar toda a tropa do Afeganistão após 2014”, disse a Casa Branca em nota. Nesse sentido, Chuck Hagel, secretário de Defesa, pediu a seus comandantes que tenham mais “flexibilidade” diante de uma eventual retirada, sem que os EUA mantenham uma presença no Afeganistão.

O comunicado da Casa Branca explica que Obama considera “improvável” que Karzai firme o pacto, e por isso a Administração já trabalha em “um plano de contingência” que garanta uma saída ordenada no final do ano. A relação entre Washington e Cabul é a cada dia mais tensa, e Obama e Karzai se falaram muito pouco nos últimos meses, o que deixa clara a frustração que a Casa Branca sente a respeito do mandatário afegão.

Levar a cabo a conhecida como opção zero é mais complicado que deixar vários milhares de efetivos sobre o terreno, já que não tanto faz extrair os mais de 52.000 soldados que há na atualidade em Afganistán que deixar um contingente de 10.000 homens 

A conversa entre os dois presidentes ocorreu no contexto da próxima eleição presidencial do Afeganistão, em abril próximo, na qual Karzai não concorre. Com essa data em mente, Karzai insiste em não assinar o acordo bilateral de segurança – que, na sua opinião, não atende às condições desejadas por seu país –, propondo em vez disso que se espere a conclusão do pleito, o que significa retardar todo o processo, já que não existe a expectativa de que surja um ganhador claro no primeiro turno.

Como é óbvio, levar a cabo a chamada “opção zero” é mais complicado que deixar vários milhares de militares no terreno, já que não é a mesma coisa retirar os mais de 52.000 soldados que há na atualidade no Afeganistão (o total da força da OTAN, chamada ISAF, com mais de 33.000 militares norte-americanos) em vez de deixar um contingente de 10.000 homens para operações conjuntas contra a Al Qaeda e para treinamento e modernização do Exército afegão.

A resistência de Karzai em assinar o pacto bilateral pode significar um efeito-dominó em outros países cujos mandatários, assim como Obama, decidam recolher suas tropas para evitarem a insegurança decorrente de não ficarem estabelecidas as condições em que se darão as tarefas de adestramento e as operações antiterroristas. No caso dos EUA, o Pentágono exige imunidade para sua tropa, ponto que no passado, quando deixou de ser garantido, levou Washington a retirar suas forças do Iraque, após outubro de 2011.

O secretário de Defesa confirmou que o Pentágono já avança na direção solicitada por Obama e conta com “seu total apoio”. “É um passo prudente, dado que o presidente Karzai demonstrou não ter intenção de assinar o Acordo Bilateral de Segurança que garante amparo ao pessoal do Departamento de Defesa”, concluiu Hagel.

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