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A velha Europa não dignifica o Maracanã

Uma cabeçada de Hummels leva a Alemanha às semifinais, contra uma França intimidada por Neuer

Ramon Besa
Hummels marca o gol da vitória da Alemanha.
Hummels marca o gol da vitória da Alemanha.Julian Finney (Getty)

Alemanha e França, dois resistentes da velha Europa na Copa da América, desmereceram durante um bom momento o Maracanã. Ou pelo menos não o dignificaram como prometiam. A partida ficou resumida a um gol de falta do zagueiro Hummels. Mal se ouviu falar de solistas famosos, como Müller e Kroos, e de atacantes estupendos, do porte de um Benzema. Muito ternos, os franceses se deixaram vencer praticamente sem um pio, entre temerosos e espantados, sobressaltados pelo gigante Neuer. Não tiveram sangue nem paixão contra um rival que muda a cada rodada e até troca de plano duas ou três vezes em uma mesma partida, como se não quisesse revelar o seu jogo até a final, mas sempre versátil e ganhador, e ainda mais contra a inócua França. No Maracanã ganhou a história, protagonizada pela velha Alemanha.

Apesar da solenidade do confronto, Deschamps atuou com a maior naturalidade e escolheu a escalação mais racional, sobretudo pela presença do ponta Griezmann, melhor aliado de Benzema do que o centroavante Giroud. A linha mais vital da França passa pelo trio Cabaye-Valbuena-Benzema. O ponto frágil é a juventude da equipe, em fase de formação, sobretudo na defesa, comandada pelo goleiro e capitão Lloris.

De nada serve a anunciada fluidez ofensiva da França, manifesta quando Valbuena recebe a bola, se Varane a cede numa falta cobrada com precisão por Kroos. O zagueiro se apequenou diante da bravura de Hummels, poderoso no salto e acertado no giro de pescoço, arrematando muito perto do corpo do goleiro da França. A Alemanha quis ganhar o confronto a partir da intimidação, mais física do que de costume, próxima à versão da Mannschaft, e conseguiu: 1 x 0. Löw tirou Lahm da posição de volante para que jogasse como lateral, montou um duplo pivô com Khedira e Schweinsteiger e deixou Götze no banco.

Klose, 36 anos completos, foi titular pela primeira vez no Brasil, já como máximo goleador da história das Copas, ao lado de Ronaldo (15 tentos). Löw vestiu a camisa de treinador depois das dificuldades que passou com Gana e especialmente com a Argélia, e mexeu em todas as linhas – inclusive na zaga, ao deixar Mertersacker na suplência. Mais poderosa do que virtuosa, a Alemanha perdeu o encanto, algo surpreendente em uma escola que conta com Müller, Kroos e Özil. A terceira linha mal entrou em jogo até o final, e, se o time dominou o placar, foi pela pouca combatividade da França, muito estática e mansa, muito pouco agitada.

Benzema, abatido depois da derrota.
Benzema, abatido depois da derrota.Pool (Getty)

Os franceses não conseguiram imprimir ritmo à partida, e os alemães souberam se defender bem, apesar de estarem novamente vulneráveis no centro da retaguarda, permeáveis aos passes filtrados de jogadores como Valbuena e Cabaye. A França, entretanto, foi excessivamente seletiva em suas saídas, não conseguiu se soltar futebolisticamente, como se estivesse assustada. Bastou um chute de Valbuena, afastado pela mão esquerda de Neuer, para revelar as deficiências da Alemanha e convidar a França a ir atrás do jogo no Maracanã. Mas não houve jeito.

Embora Benzema ameaçasse concluir mais jogadas do que Klose, havia uma atitude inocente na cândida França, empenhada em pentear a bola, muito acadêmica e asseada, excessivamente formal contra um rival que sabe tudo, como é a Alemanha. Nem com a pausa para a hidratação os franceses se corrigiram, e os alemães alcançaram o descanso tranquilos com o gol de Hummels. Griezmann tampouco conseguiu dar nova cara ao jogo, apesar da sua velocidade e de um par de intervenções que estimularam Pogba e Matuidi a se soltarem para o ataque.

Houve um período em que nada aconteceu, nem no campo nem na arquibancada, como se não houvesse ninguém no Maracanã, castigado pelo sol. Todos os jogadores trataram de se resguardar à sombra e se dedicaram a cobrar laterais diante dos bancos de Deschamps e Löw, enquanto o árbitro não parava de apitar a torto e a direito. Os técnicos então agitaram o encontro com as substituições: Müller recuperou seu posto de falso 9 quando Schürrle substituiu Klose, e Deschamps prescindiu do seu metrônomo Cabaye e do pé de Valbuena para se virar com a garra e o preparo físico mais do que com qualquer critério, decidido a romper a monotonia, com Giroud no comando de ataque.

A França, entretanto, ficou desativada por causa da mão ruim de Deschamps, sem um volante capaz de colocar uma bola área para Giroud, e a Alemanha não se contentou com a proteção de Neuer, passando a contra-atacar com tabelas tão rápidas quanto mal definidas. Müller jogava mais à vontade, e Götze fazia mais danos que o sumido Özil. O gol de Lloris esteve mais ameaçado que o de Neuer, que deu a partida por concluída com um prodigioso tapa na bola após chute de Benzema à queima-roupa. Neuer foi suficiente para engolir a França, numa das partidas mais fracas da Copa do Mundo. Não houve riscos, nem emoção, e o final, prestando atenção na história das Copas, já estava cantado.

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