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Di María redime Messi

A Argentina passa às quartas-de-final ao derrotar a Suíça na prorrogação, graças a uma jogada entre Leo, que não está em sua plenitude, e o incansável ‘Fideo’

José Sámano
Rio de Janeiro -
Di María comemora seu gol contra a Suíça.
Di María comemora seu gol contra a Suíça.Sebastião Moreira (EFE)

A poucos segundos de começar o segundo tempo da prorrogação, Sabella conversava com seus jogadores numa rodinha, e Messi estava curvado, assoando o nariz sem parar e ouvindo o sussurro paternal de Mascherano. Como se quisesse metabolizar o fato de estar, de certa forma, sozinho diante do perigo e, ainda por cima, alquebrado. Está claramente abaixo da sua plenitude, e não há ninguém que corra mais riscos do que ele, que suporta uma pressão descomunal. Já com a bola em jogo, Messi surgiu do nada e encontrou ajuda em Di María, o melhor da partida, seu anjo da guarda, que chegou com uma assistência do astro aonde o astro já não podia chegar. O homem com um depósito sem fim, que costuma liquidar as partidas como um foguete quando à sua frente só há restos de jogadores. Contra a Suíça fez isso mais uma vez e quando a toda a Argentina já sofria por antecipação a paúra dos pênaltis, lá pelos 28 minutos da prorrogação, o Fideo abriu as portas das quartas de final para a alviceleste, depois da aceleração que restava a Leo. Essa é a única parceria sólida desta seleção argentina de remendos, em que o ídolo não encontra a tranquilidade definitiva. Carrega na mochila o mito de Maradona, a Argentina do vestiário e um povo entregue à sua suposta capacidade messiânica. Uma derrapagem nas oitavas contra a Suíça teria desatado uma tormenta na Argentina, com Messi no olho do furacão como nunca.

Não há tréguas neste Mundial onde ninguém está a salvo de ninguém. Não importam os pedigrees, nem a história. Empalidece o Brasil, treme a Alemanha, sua a França… A Argentina, mais esfarrapada que outros favoritos, não iria deixar por menos, e viveu momentos de agonia. Nunca teve jogo, só alguns lampejos de Messi e do incontrolável maratonista que é Di María. Por causa de Shaqiri, de Benaglio ou das suas muitas carências, a Argentina enfrentou preocupações constantes. Primeiro recebeu vários avisos de Shaqiri. Sem firmeza, a retaguarda argentina se decompõe ao mínimo ataque, como quando o astro da Suíça a desmontou numa lateral da área e assistiu Xhaka, que chutou à queima-roupa nos pés do Romero. De novo Shaqiri viu a zaga descoberta e deixou para Drmic, que foi uma carmelita em seu mano a mano com o goleiro alviceleste.

Quando a Suíça se resguardou, a Argentina, com mais arrebatamentos do que no primeiro tempo, conseguiu enjaular o seu adversário, mas se viu frustrada por Benaglio. Outro que despontou nesta Copa de goleiros com maiúsculas. Com o jogo na prorrogação, o que sempre é um precipício, a Argentina prendeu a respiração até que apareceram Messi e Di María. Nem assim teve paz. Dzemaili cabeceou na trave nos desconto do terceiro tempo, e Shaqiri ainda teve uma falta na entrada da área. A bola bateu na barreira, e só aí foram espantados os fantasmas argentinos.

A Argentina e a confusa a Suíça selaram uma partida de charlatães, com Shaqiri e Messi como dois marcianos entre os bocejos dos demais, que só encontravam alívio nos piques de Di María. Mesmo com eles em cena era difícil segurar as pálpebras. A Suíça tem o que tem, um pouco de alguma coisa, como um bom goleiro e Shaqiri, um jogador habilidoso, que aproveita muito bem um corpo que parece ter engolido uma bomba. O resto semeia o campo de minas e propõe uma partida cheia de nós. E o árbitro se faz de desentendido até que se acumulam 28 faltas em três tempos (19 do seu adversário).

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A Argentina tem Messi. Ele é o plano, o propósito, a ideia. Como executá-la? Isso também é coisa para Leo, ciente de que com a alviceleste lhe cabe ser meio-campista, porque a equipe não tem jogadores brilhantes no meio. Ocorre que, exceto por Di María, o ataque não tem pegada, apesar da reputação de Higuaín, Agüero – agora lesionado –, Lavezzi e Palácio. O peso de Maradona já é enorme; obrigar alguém a ser Maradona para criar e Maradona para concretizar é uma missão quase impossível até para um gênio como Messi.

O ponto de partida assumido por Leo foi o eixo do campo, onde Mascherano há tempos não aparece, e onde Gago é uma sombra, nem fede nem cheira, só se dispersa. Como não há ninguém capaz de dar uma luz, a Pulga vai ao socorro e busca abrir espaços entre o funil rival. O normal seria que acabasse preso pelas emboscadas suíças, que não eram poucas. Quando conseguiu finalmente armar um chute, lá estava o formidável Benaglio.

Ou Messi ou Di María. A Argentina não dava para mais, ante a paralisia de Sabella. Para sorte dele e de todos os argentinos, o Messi que saiu para disputar os últimos 15 minutos com a garganta em ebulição encontrou uma fresta, ligou o turbo, deu uma olhada e viu a melhor noticia possível: quem chegava aonde ele já não conseguia estar era Di María. A ele se aferrou Messi e toda a Argentina.

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