Um ‘kaiser’ contra todo um país
Márquez, único jogador a ser capitão em quatro Copas, guia seus comandados contra o Brasil
Em um país com os sentimentos tão à flor da pele como o México, uma vitória convida para uma festa e uma derrota leva você ao funeral. O 1 x 0 contra Camarões na primeira rodada da Copa disparou as expectativas de uma seleção que chegava no Brasil de cara amarrada após a má fase de classificação. Mais de 300 torcedores mexicanos se reuniram no domingo na porta do hotel onde se hospeda a seleção tricampeã para cantar uma serenata aos jogadores. No meio da euforia, há um cara, que leva a braçadeira de capitão no campo, que já passou por tudo isso e aguarda o momento com a seriedade dos veteranos de guerra. Rafael Márquez (Zamora, Hidalgo, 1979), o primeiro jogador da história a ser capitão em quatro Copas diferentes, é o encarregado de levar seus comandados hoje contra o Brasil, que joga em casa. O Kaiser de Michoácan está diante do maior desafio de sua carreira.
Para a atual geração de mexicanos, ganhar do Brasil não é nenhum mistério. Oribe Peralta, o centroavante titular, fez dois gols contra os brasileiros, derrotados na final dos Jogos Olímpicos dois anos atrás em Wembley (2 x 1). Em 2005, uma equipe sub-17, que contava com Giovani dos Santos e Héctor Moreno, foi campeã mundial também contra a verde-amarela. Oito jogadores já venceram alguma vez durante sua carreira o país sul-americano. O misticismo dos pentacampeões poderia provocar pavor aos que viram Pelé no estádio Azteca nos anos 1970, mas esses rapazes, mais abusados e com menos complexos, descobriram que os brasileiros são tão mortais quanto eles.
Sempre disse que México precisa uma mudança de mentalidade em todos os sentidos para crescer, e a seleção está fazendo isso" Rafael Márquez
O próprio Márquez derrotou o Brasil em cinco ocasiões. A vitória mais significativa aconteceu em 2003, quando a seleção mexicana ganhou por 1 x 0 a final da Copa Ouro. O kaiser, como é conhecido por sua categoria na hora de tirar a bola que vem contra seu gol, no lugar onde muitos ficam de pernas bambas e recorrem ao chutão, teve de voltar a conquistar o carinho dos seus torcedores. Na Copa de 2002, foi expulso contra os Estados Unidos quando o México perdia por 2 x 0 por uma cotovelada em Cobi Jones. O torcedor mexicano não o perdoou por tremer na derrota mais humilhante, aquela que apenas seus vizinhos podem lhe infligir. Os anos enterraram o ocorrido na lixeira dos acontecimentos dolorosos, e Márquez é agora um grande capitão que pode levar esses entusiasmados jogadores aonde nunca chegaram seus antepassados, terra desconhecida para o país: além das quartas-de-final.
O ex-jogador do Barcelona, pedra angular do León, a equipe do magnata Carlos Slim, vencedora do campeonato mexicano, enfrenta seu quarto campeonato mundial como líder (supera Maradona, que foi capitão em três) com um pressentimento. “Sempre disse que o México precisa mudar sua mentalidade em todos os sentidos para crescer, e a seleção está fazendo isso”, disse em entrevista. Todo um país estará medindo sua liderança neste momento.
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