_
_
_
_

Messi deixa a sua marca no Maracanã

O 10 da Argentina, empenhado em ser Maradona, consegue bater a Bósnia e selar a vitória alviceleste após um ‘slalom’ tipicamente seu e de uma pancada de fora da grande área

Ramon Besa
Rio de Janeiro -
Messi chuta para marcar o segundo gol.
Messi chuta para marcar o segundo gol.RICARDO MORAES (REUTERS)

Messi marcou um golaço muito ao seu estilo no dia em que pisou no Maracanã. Não é um dado menor, mesmo em se tratando de um jogador que tem uma média superior a 40 tentos nas últimas cinco temporadas e que já ganhou quatro vezes a Bola de Ouro. Tampouco se pode considerar um feito heroico, apesar de ele ter passado oito anos sem balançar as redes em uma Copa do Mundo– o que até hoje havia acontecido apenas uma vez, contra Sérvia e Montenegro, na edição de 2006, na Alemanha. A proveitosa apresentação do 10, entretanto, tem importância e um grande valor simbólico, sem ser obviamente um Maracanazo. O gol valeu pela partida porque Messi foi Messi durante alguns segundos.

Há cenários e situações que exigem respostas imediatas e inequívocas: a Copa é disputada no Brasil, a Argentina quer voltar em 13 de julho ao Maracanã para jogar a final, e Messi quer ser Maradona. O 10 ontem foi de novo o número 1 no segundo gol da Argentina. Uma só jogada marcou uma partida áspera, pouco bonita, na qual chamou a atenção sobretudo a instabilidade da Argentina, confundida pelas mudanças de mensagem de seu treinador e pelo pouco talento da estreante Bósnia, que deixou um gol para aprofundar a ferida alviceleste, por enquanto sem fazer jus à sua condição de favorita a ganhar a Copa.

Não se sabe o que aconteceu na concentração da equipe nem o que deu em Sabella, mais intervencionista que de costume, surpreendentemente distanciado dos supostos gostos de Messi e mais próximo dos seus tempos de técnico do Estudiantes. O treinador se impôs desde o começo e, do 4-3-3 definido em comum acordo com o 10, passou para um 5-3-2. Não jogavam nem Lavezzi nem Higuaín, e em vez de um terceiro atacante apareceu Campagnaro como terceiro zagueiro. Não é que o desenho fosse uma novidade, porque Sabella já o repetiu muito recentemente, num amistoso justamente contra a Bósnia, resolvido com um 2 x 0. Naquele dia, porém, Messi não jogou.

Sabella gosta da disciplina tática, do jogo de posições, dos detalhes que ajudam a reduzir o risco, e trabalha especialmente a estratégia. Nos últimos treinos, Maxi e Messi se cansaram de cobrar escanteios e faltas e de fazerem cruzamentos, pois os argentinos estão convencidos de que as jogadas de bola parada são a fórmula do sucesso, conforme aliás ficou claro em várias partidas já disputadas nesta Copa. Funcionou também no Maracanã. Assim que o jogo começou, Messi bateu uma falta lateral, e Kolasinac surpreendeu o seu arqueiro Begovic. A ingênua defesa bósnia pôs a partida à disposição da Argentina de Sabella.

Na falta de meias criadores, ausente um caudilho em campo, a alviceleste se entregou a um sofrido exercício futebolístico, nada agradável, abençoado apenas pelo placar: 1 x 0. A Bósnia sofre para conter qualquer adversário, dependendo sempre do seu bom goleiro, e por outro lado toca bem no meio campo, graças à qualidade dos seus pontas, sempre à espera dos desmarques do gigante Dzeko, o excelente artilheiro do Manchester City. Houve algumas chegadas interessantes antes do intervalo e uma boa ocasião resolvida por Romero. Era pouco, e não chegou a ajudar em nada a Argentina.

Os jogadores das duas equipes deixaram momentaneamente o campo com a boca aberta, asfixiados pela umidade, paralisados depois de um primeiro tempo inócuo também por parte de Messi. O 10 ficou afastado da área, mal entrou no jogo, tropeçou frequentemente e não chutou a gol, numa atuação que recordou as últimas dele com o Barça. Carente de explosividade, o capitão atuou mais como passador do que como um jogador capaz de desequilibrar, como se tivesse esquecido como driblar, como ser o número 1. Sabella observou que Messi e a sua Argentina estavam mal, e se corrigiu: entraram Higuaín e Gago no lugar de Maxi e Campagnaro.

Recuperada a Argentina, de volta ao 4-3-3, a partida se entreabriu um pouco, melhorou, ganhou em incerteza e profundidade, e se deu uma monumental mudança de ritmo de Messi. Assistido por Higuaín, o 10 agarrou a bola em uma ponta da área, serpenteou por fora da linha, sempre em diagonal, recortando e desviando, perfilando-se até encontrar o ângulo de disparo, para colocar a bola de rosca, à direita do goleiro bósnio. Ela bateu na trave e entrou, como que para dar plasticidade ainda maior ao golaço do Messi. O slalom do 10 teve tanto impacto sobre a partida que ninguém reparou no tento da Bósnia.

O gol deu a razão a Messi frente a Sabella. A Argentina, seja como for, não chegou a encontrar o equilíbrio ante um adversário muito pouco competitivo como a Bósnia. Os rivais e o calendário jogam a favor da Argentina. Ontem, por enquanto, recuperou o gol do Messi, o que não é pouco, sobretudo porque, com o 10 despertado, desejoso de ser Maradona, a Argentina pode voltar para o Rio de Janeiro atrás de protagonizar um novo Maracanazo. Às vezes, uma jogada tem mais valor terapêutico do que a melhor das partidas, se o protagonista for o número 1.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_