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Copa do Mundo 2014

Neymar conclui o trabalho de Nishimura

O Brasil vira contra a Croácia graças ao árbitro, ao vigor de seus jogadores e às falhas do goleiro

Ramon Besa
Nishimura vê Neymar comemorar um dos seus gols.
Nishimura vê Neymar comemorar um dos seus gols.Ivan Sekretarev (AP)

Não é fácil digerir o futebol do Brasil, e às vezes custa admitir também que o substituto de Ronaldo, Romário e Rivaldo já se chama Neymar. O 10, em todo caso, é o único jogador que se sustenta em uma equipe com muito corpo, sem encanto, disposta a ganhar as partidas por eliminação, como se viu no jogo de abertura da Copa. Neymar e o Brasil precisaram da ajuda do árbitro, o japonês Nishimura, para derrubar a Croácia, uma boa equipe, batida pelo árbitro e por seu goleiro Pletikosa.

O arqueiro se mostrou muito atrapalhado perante Neymar. O brasileiro o surpreendeu com um chute mascado de fora da área, e depois lhe dobrou as mãos em um pênalti inventado pelo mesmo árbitro japonês que na África do Sul apitou a eliminação do Brasil frente à Holanda. Nishimura, por outro lado, ignorou uma penalidade máxima contra Olic. Há vento de popa a favor do Brasil e de Neymar, que varreu o comando de ataque com perseverança e muita fé, convencido de que é o rei de um Brasil febril.

Os atletas brasileiros vieram para o aquecimento como se fossem padres que cantam a missa diante de uma torcida entusiasmada, que tingia de verde e amarelo as arquibancadas da Arena de São Paulo. Embora haja muitos brasileiros que se manifestam diariamente contra a Copa, e segundo as pesquisas 27% deles não se interessem por futebol, esse esporte é uma religião no Brasil. Os rapazes de Felipão olhavam para o céu com os braços abertos, como se fossem uma equipe de escolhidos em busca do hexa.

BRASIL 3 x 1 CROÁCIA

Brasil: Julio César; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz, Marcelo; Paulinho (Hernanes, min. 62), Luiz Gustavo, Hulk (Bernard, min. 68), Oscar, Neymar (Ramires, min. 86) e Fred. Não utilizados: Jefferson; Víctor, Maicon, Henrique, Dante, Maxwell, Fernandinho, Ramires, William e Jô.

Croácia: Pletikosa; Srna, Corluka, Lovren, Vrsaljko; Rakitic, Modric; Perisic, Kovacic (Brozovic, min. 60), Olic e Jelavic (Revic, min. 77). Não utilizados: Subasic; Zelenika, Vida, Schildenfeld, Vukojevic e Sammir.

Gols: 0 x 1, min. 12, Marcelo, contra; 1 x 1, min. 29, Neymar; 2 x 1, min. 69, Neymar, de pênalti; 3 x 1, min. 90, Oscar.

Árbitro: Yuichi Nishimura (JAP). Mostrou cartão amarelo a Neymar, Luiz Gustavo, Corluka e Lovren.

Arena Corinthians (Itaquerão), em Sao Paulo. 62.103 espetadores.

Já não se fala do jogo bonito, nem de pontas como Garrincha, tampouco de camisas 10 como Pelé, e muito menos de figuras luminosas como o falso nove Tostão. A pressão é o melhor alimento para um grupo de cavaleiros coroado pelo encanto de Neymar. A cappella, muito emocionados, como que possuídos, os jogadores e os torcedores entoaram o hino nacional, numa fervorosa comunhão, às vezes até com jeito de cerimônia militar. O transe local durou tanto que o primeiro chute a gol foi de Kovacic.

O Brasil não estava em campo, e sim no limbo, para sorte da Croácia. As transições armadas por Modric, Rakitic e Kovacic, sempre apontando para as laterais, esquartejavam Daniel Alves e Marcelo. Os laterais atacavam e não defendiam, e Olic se lambuzava, caindo pela lateral esquerda e sempre disposto a fazer cruzamentos para a chegada dos volantes ou de Jelavic, ou para que colocasse a perna qualquer dos zagueiros ou inclusive Marcelo, como aconteceu no 0 x 1, quando o madridista fechou mal na frente de Julio César.

Estatísticas da partida.
Estatísticas da partida.

Dominado por fora e sem pegada por dentro, com Oscar superado, o Brasil só intimidava nas bolas paradas, sobretudo quando o feroz David Luiz crescia após escanteios em que Pletikosa saía mal. Com o tempo, o Brasil foi se animando graças às escapadas de Paulinho e sobretudo ao jogo de cintura de Neymar, excelente em uma finta sobre Rakitic, junto à linha de fundo, que Oscar arrematou bem, mas o goleiro croata espalmou. Neymar saiu com tudo para resgatar sua equipe e firmou pessoalmente o 1 x 1.

Apanhou a bola num contra-ataque e, antes de chegar à área, chutou mascado, de canhota, na trave esquerda de Pletikosa. O goleiro, lento e mal colocado, caiu atrasado, e o tornozelo esquerdo do camisa 10 fez São Paulo explodir. Ardia o estádio e retumbava a cidade pelo gol do revoltoso Neymar. Vivo, ágil e malandro, o atacante agitou a partida para o bem e para o mau, estourado como costuma ser, porque tanto marca como dribla, depois perde bobamente a bola, defende mal e mais tarde ganha um cartão por uma cotovelada em Modric.

O 32º. gol de Neymar em sua 50ª. partida pela seleção encorajou o Brasil. À falta de jogo e de solistas que acompanhem o 10, a equipe é muito forte fisicamente, tem vigor e ânimo, pressiona e compete com intensidade, circunstância que revelou a falta de um volante central na Croácia. A equipe de Kovac perdeu fluidez e alegria diante da investida do Brasil, disposto a ganhar por intimidação, necessitado de um ponto de pausa e cabeça, auxiliado de maneira descarada por Nishimura.

O juiz marcou pênalti numa queda de Fred, que, de costas para o gol, desabou feito um saco de batatas diante de um mero resfolegar de Lovren, surpreendido pelo apito do árbitro. Não foi falta, e para arrematar a jogada Pletikosa engoliu surpreendentemente o chute de Neymar. Embora desse a impressão de que defenderia, acabou deixando a bola entrar de um jeito feio, possibilitando a vitória do Brasil – a qual seria selada com o terceiro gol, de Oscar, depois de a Croácia desperdiçar um par de boas chegadas à frente de Julio César.

No final, certamente o Brasil precisou da ajuda de Deus, evocado no começo de uma liturgia que já pressagiava que, mais do que uma partida de futebol, o que estava em jogo era uma questão de honra.

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