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Dona Sofía, sempre fiel a seu compromisso

Em períodos conturbados, a Rainha sempre colocou seu dever acima de qualquer outra circunstância

Mábel Galaz
A Rainha Sofía, com alguns de seus cães, em La Zarzuela.
A Rainha Sofía, com alguns de seus cães, em La Zarzuela.MARISA FLÓREZ

Filha de reis, irmã de rei, esposa de rei e mãe de um futuro rei, Sofía da Grécia desempenhou um importante papel institucional junto ao homem que é seu marido há mais de meio século – no último dia 14, comemoraram 52 anos de casados. Seu senso de responsabilidade e seu compromisso com a Coroa prevaleceram nestes anos de luzes e, às vezes, de sombras. Uma trajetória vital que sempre foi marcada por suas obrigações com a instituição. “A Rainha é uma grande profissional”, costuma dizer dom Juan Carlos sobre sua esposa. Reis se casam para sempre, e por isso os casamentos são frutos de uma vida na qual o relacionamento pessoal se mistura ao institucional. Mas a união de dona Sofía e dom Juan Carlos vai mais além e supera o pessoal. O casamento se baseia no que eles, e sobretudo ela, acreditam ser o seu dever. Dona Sofía não gosta de divórcios nem de mudanças. Em suas raras declarações públicas, sempre defendeu que o Monarca nunca abdicaria. “A Espanha precisa ouvir ‘o Rei está morto, viva o Rei’”. A seu ver, era o que a Coroa necessitava para mostrar sua solidez. Pensando justamente no futuro, em seu filho, dona Sofía trabalhou sem descanso desde que, junto com o marido, assumiu suas tarefas institucionais. E o fez com dupla dedicação: trabalhando pela Espanha e educando dom Felipe para ser o herdeiro do trono.

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O Príncipe é seu ponto fraco e quem mais se parece com ela. Os dois mantêm um relacionamento próximo e de muita cumplicidade. Falam inglês entre si. Quem os conhece de perto assegura que dom Felipe cuida de sua mãe e a protege. E também busca seus conselhos. Se a Rainha é a pacificadora, a mediadora da família, o Príncipe assume este mesmo papel em relação aos pais. Dom Felipe herdou muitas características da mãe, entre elas o senso de responsabilidade e uma certa timidez. Juntos, formaram uma boa equipe nestes últimos anos em que dom Juan Carlos tem estado limitado fisicamente por causa de problemas de saúde. Sondagens internas realizadas pela Casa Real sobre o grau de aceitação dos membros da família real mostram que seu trabalho é reconhecido: tanto Dona Sofía quanto o Príncipe são os mais valorizados, à frente de dom Juan Carlos e da princesa Letizia.

Neste período conturbado que a Coroa tem vivido por causa da imputação de Iñaki Urdangarin pelo caso Nóos, dona Sofía se viu obrigada a fazer malabarismos para manter a família unida. Depois que os duques de Palma foram afastados da agenda oficial, a Rainha sempre trabalhou para que dona Cristina não perdesse seu lugar na família. Como sogra, diz que prefere esperar a decisão da Justiça; como mãe, sofre por sua filha; e como avó, tenta dar todo o apoio possível a seus quatro netos Urdangarin. Nas reuniões de trabalho na Casa Real, dona Sofía sempre deixou claro que não iria renunciar a essa parte da família, ainda que tenha feito algumas mudanças no protocolo de suas visitas, agora muito mais discretas.

A crise de Botsuana e a aparição da princesa Corinna em vários meios de comunicação falando da sua amizade “íntima” com dom Juan Carlos também colocaram dona Sofía em uma situação até então inédita para ela. Mas, longe de dar um passo atrás, ela decidiu prosseguir seu trabalho com mais empenho. Pediu aos membros da Casa do Rei que ampliassem sua agenda, e rara é a semana em que não comparece a vários compromissos públicos.

“A Rainha está melhor do que nunca”, afirmavam nas últimas semanas os colaboradores de dona Sofía. O site da Casa do Rei recebe muitas mensagens dirigidas a ela. “Cartas nas quais lhe pedem coisas, mas também muitas nas quais a estimulam a continuar e demonstram seu carinho”, explica um porta-voz do palácio de La Zarzuela. A Rainha lê todas as cartas, e a maior parte é respondida por seus assessores. Nos últimos anos, sua agenda de trabalho esteve muito focada principalmente em atividades de cooperação. Em março, ela fez sua última viagem como rainha. Esteve durante quatro dias na Guatemala para visitar os projetos de cooperação que o Governo da Espanha financia no país. Também a Fundação Rainha Sofía, destinada a investigar e cuidar dos doentes de Alzheimer, ocupa grande parte do seu tempo.

Em fevereiro, quando ninguém suspeitava que dom Juan Carlos poderia abdicar, a Rainha e a Princesa começaram a receber salários, “por expresso desejo” do Monarca, segundo La Zarzuela. O de dona Sofía é de 131.739 euros (cerca de 400 mil reais) por ano; o de dona Letizia fica em 102.464 euros (312.500 reais). As novas remunerações não implicaram um aumento de gastos, apenas uma mudança de filosofia, segundo o La Zarzuela. No ano passado, as duas haviam recebido valores muito semelhantes, mas apenas a título de gastos de representação. Agora, trata-se de “profissionalizar” seu trabalho a serviço da Coroa. “É mais profissional, mais transparente e mais justo fazer assim”, afirmou um porta-voz do palácio.

A agenda oficial de dona Sofía prevê para esta semana uma viagem a Nova York para participar da reunião executiva do Unicef, além de participar de um almoço com embaixadoras nas ONU e comandar um ato na Fundação Liceu. A Rainha se manterá em seu posto até o final, com o mesmo senso de responsabilidade e dever que demonstrou durante estes 39 anos.

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