Um ex-guerrilheiro à frente de um dos países mais perigosos do mundo
O presidente Sánchez Cerén assume a presidência de El Salvador, o quarto país com maior taxa de homicídios
El Salvador, com apenas 21.000 quilômetros quadrados e um pouco mais de seis milhões de habitantes, é hoje o quarto país mais perigoso do mundo por suas altas taxas de homicídios, segundo estatísticas das Nações Unidas. A tendência desde o início do ano é de alta nos níveis de violência. Esse será o desafio mais importante que enfrentará o novo presidente salvadorenho, Salvador Sánchez Cerén, um ex-chefe guerrilheiro que tomou posse neste sábado e promete frear a criminalidade já em seus primeiros dias de Governo.
O novo presidente herda um país com uma taxa de homicídios superior a 40 entre cada 100.000 habitantes. Essa cifra converte El Salvador em um dos países mais letais, principalmente pela escalada dos confrontos entre gangues, que oficialmente é a principal causa de violência.
A mais recente pesquisa da Universidade Centro-Americana José Simeón Canos (UCA) – instituição dirigida por sacerdotes jesuítas – indica que 71,3% dos salvadorenhos consideram que a delinquência é o principal problema que sofrem. Os entrevistados estimam que o problema aumentou nos últimos cinco anos, durante o Governo de Mauricio Funes e da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), da qual Sánchez Cerén é um dos principais líderes.
Segundo estatísticas do Governo de Funes, 17.400 pessoas foram mortas em consequência das disputas entre as chamadas maras (gangues), de ataques de outras facções do crime organizado e da violência social. Essa cifra representa um quarto de todos os assassinados durante os 12 anos de guerra civil. Houve um período de relativa calma na metade do mandato de Funes, quando líderes das maras que estão presos conseguiram estabelecer uma trégua, em março de 2012. Imediatamente os homicídios caíram de 15 para 5 por dia. Esse nível se manteve durante 15 meses, mas em meados de 2013 o Governo realizou uma mudança na segurança pública, o que fez com que a “trégua mara” deixasse de ser cumprida.
Por outra parte, os homicídios não são a única preocupação dos salvadorenhos: dezenas de milhares de micros, pequenos e médios empresários são vítimas de extorsão. Embora o Governo anterior afirmasse ter reduzido o problema, os empresários indicam que têm perdas de mais de 170 milhões de dólares (381 milhões de reais) anuais por causa desse delito, que provoca não só o fechamento de pequenos negócios, como também a migração de famílias afetadas.
Outro dos problemas que Sánchez Cerén tem pela frente é o da superpopulação carcerária. As autoridades reconhecem que as prisões salvadorenhas têm capacidade para apenas 8.000 pessoas, mas a população carcerária real é de 27.000.
Para a difícil missão de combater a delinquência, Sánchez Cerén designou como novo ministro da Justiça e Segurança o deputado Benito Lara, que passou nove anos à frente da Comissão de Segurança e Defesa do Parlamento, e escolheu como chefe da Polícia Nacional Civil aquele que era o subdiretor dessa força, Mauricio Ramírez Landaverde. Ambos prometeram empenhar-se tanto na prevenção da violência com na repressão da delinquência, assim como na depuração e modernização da polícia, algo que requer muitos recursos econômicos, atualmente escassos no país – mergulhado em uma crise de falta de crescimento e de geração de emprego.
Morre a mãe de Funes no último dia da gestão do filho
Mirna Cartagena de Funes, mãe do agora ex-presidente salvadorenho Mauricio Funes, morreu no sábado, o último dia da gestão governamental do filho. Mirna tinha 80 anos e morreu em consequência de uma complicação hepática.
Mirna Cartagena de Funes tinha sido internada na sexta-feira em um hospital da capital e permanecia na Unidade de Terapia Intensiva até seu falecimento, no sábado à tarde.
Funes entregou na manhã deste domingo a presidência àquele que foi seu vice, Salvador Sánchez Cerén, vencedor das eleições de março.
A mãe de Funes teve outros dois filhos: Guillermo, que é atualmente presidente do Banco Centro-Americano de Integração Econômica, e Roberto, que foi morto por militares no final dos anos setenta, durante uma manifestação antigovernamental.
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