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obituário

Morre Gordon Willis, diretor de fotografia de ‘O Poderoso Chefão’

O Príncipe da Escuridão como era chamado, iluminou a saga de Francis Ford Coppola Também colaborou em oito longas de Woody Allen, entre eles 'Manhattan' e 'Memória'

Elsa Fernández-Santos
Gordon Willis e Woody Allen durante as filmagens de 'Manhattan'.
Gordon Willis e Woody Allen durante as filmagens de 'Manhattan'.

Filho de um maquiador da Warner Brothers, devemos a Gordon Willis uma maneira de ver. O meticuloso e obsessivo diretor de fotografia, morto aos 82 anos, se converteu em lenda quando revolucionou com sua câmera as luzes e sombras de um cinema que, nas suas mãos, encontrou uma nova expressão, mais sombria e naturalista. O Príncipe da Escuridão, como era chamado por alguns, iluminou para Francis Ford Coppola os três filmes da saga de O Poderoso Chefão; para Woody Allen oito de seus longas metragens mais emblemáticos, entre eles as obras primas Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Manhattan, e para Allan J. Pakula Klute - O passado condena e Todos os homens do presidente, cujos contraste entre a luminosa redação do Washington Post e as obscuras catacumbas do caso Watergate marcaram a memória visual dos anos 70 e uma maneira de entender uma fatídica era.

Gordon Willis, à direita, junto a Lauren Bacall e Roger Corman, em 2009, quando receberam o Oscar Honorífico às suas respectivas carreiras.
Gordon Willis, à direita, junto a Lauren Bacall e Roger Corman, em 2009, quando receberam o Oscar Honorífico às suas respectivas carreiras.reuters

Willis atribuía seu estilo visual à sua condição de homem da Costa Leste. Nascido no Queens, Nova York, em 1931, ele e sua família aprenderam a seguir adiante mesmo passando pelo túnel da Grande Depressão. Estar longe de Hollywood permitiu com que ele criasse mundos que jamais seriam permitidos sob os limitados parâmetros estéticos dos grandes estúdios. Quando em 1972 estreou o primeiro Poderoso Chefão, o impacto e a polêmica foram imensos. De Marlon Brando, sua principal estrela, não se viam olhos, que apareciam como duas bacias negras e escuras.

O rosto do ator, envelhecido com uma pesada maquiagem, permanecia em grande parte do filme no escuro. Um trabalho com iluminação zenital que na realidade nasceu como uma necessidade para ocultar o trabalho de cabine e fazer crível que o ator, então com 48 anos, passasse por um homem quase idoso. “Me criticaram muito porque não se via seus olhos”, contou anos depois Willis. “A verdade é que muitas vezes ocultei seus olhos de propósito porque isso acentuava o mistério de um personagem que, na realidade, nunca sabemos no que está pensando”.

Imitado incansavelmente, Willis converteu em arte a baixa exposição, a tela quase negra, os personagens em sombra, caminhando como fantasmas por telas que levavam da escuridão dos pesadelos ao território dos sonhos. “Sua morte é uma enorme perda”, disse o presidente da Associação Americana de Diretores de fotografia , Richard Crudo, diante da notícia de sua morte. “Ele era um gigante que mudou radicalmente o aspecto dos filmes”. Willis, que só recebeu, em 2010, um Oscar tardio honorífico, costumava dar pouca importância à sua contribuição para a história do cinema. “Eu só imaginava as coisas de outra maneira. Eu não fazia isso para provocar alguém, eu fazia porque gostava assim”.

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