_
_
_
_
_
Disputas territoriais

A ira contra a China se estende pela Ásia após uma crise marítima

Os ataques contra fábricas e trabalhadores chineses aumentam no Vietnã As disputas navais levam as Filipinas a solicitar mais ajuda naval dos Estados Unidos

Motociclistas passam por policiais que vigiam a área onde se encontra uma fábrica incendiada na província vietnamita de Binh Duong.
Motociclistas passam por policiais que vigiam a área onde se encontra uma fábrica incendiada na província vietnamita de Binh Duong.AFP

Fábricas estrangeiras incendiadas, centenas de companhias danificadas ou saqueadas, 21 mortos e uma centena de feridos —segundo fontes médicas citadas pela agência Reuters— e centenas de chineses que voltam ao seu país ou cruzaram a vizinha Camboja fugindo da violência. É o balanço, por enquanto, da crescente eclosão de violência que vive o Vietnã nesta semana, na pior onda de protestos e distúrbios contra a China registrados no país em décadas.

21 pessoas morreram nos ataques, segundo fontes médicas

A eclosão, que afeta um terço das províncias do país, é a consequência de um incidente naval ocorrido no último dia 1º de maio em águas do mar do Sul da China que disputam os dois países de regime comunista. O incidente se soma aos recentes debates entre Pequim e Tóquio pelo controle do arquipélago Senkaku/Diayou, e a onda de tensão ante as reivindicações territoriais chinesas propaga-se pela região para além do Vietnã. As Filipinas declararam ontem sua disposição a oferecer às forças norte-americanas o uso de uma base naval subutilizada próxima a uma área cujo controle Pequim também reclama. Manila e Washington acabam de selar um pacto para desenvolver sua cooperação militar. As autoridades japonesas também mostraram sua preocupação, enquanto Washington pediu contenção às partes implicadas.

A agência estatal chinesa Xinhua assegura que ao menos dois cidadãos chineses foram assassinados nas revoltas no Vietnã, mais de 100 foram hospitalizados e há 10 desaparecidos. Segundo as fontes citadas por Reuters, 16 das 21 vítimas seriam cidadãos chineses. Por sua vez, as autoridades vietnamitas reconhecem só uma vítima mortal.

Vietnã em números

  • População: o país conta com 88,76 milhões de habitantes, segundo dados de 2012 do Fundo Monetário Internacional (FMI). A esperança de vida é de 76 anos (Banco Mundial).
  • Taxa de desemprego: em 2010, (último dado que oferece o FMI) foi de 4,3% .
  • Taxa de incidência da pobreza: em 2012, alcançou 17,2% da população, segundo o Banco Mundial.
  • PIB per capita: em 2012, foi de 1.752,62 dólares (3.600 reais), segundo o FMI.
  • Taxa de crescimento anual do PIB: foi de 5,2% em 2012, segundo o Banco Mundial.

A rejeição à China não é algo novo no Vietnã. Os dois países mantiveram uma breve guerra em 1979, e não normalizaram as relações até 1991. A história vietnamita caracterizou-se durante os últimos 2.000 anos pelas incursões chinesas no atual Vietnã, e muitas ruas de suas cidades levam o nome dos heróis daqueles conflitos. Mas o sentimento contra o poderoso vizinho do norte tem rebrotado com força inesperada depois que Pequim transferisse uma plataforma petrolífera perto das ilhas Paracelso, em águas do mar do Sul da China que disputam os dois países. Hanói mostrou sua indisposição  com o movimento, que qualificou de violação de sua soberania e enviou uma flotilha de  à zona, que se depararam com os barcos deslocados por Pequim para proteger a plataforma. Com grande irritação, Hanói pediu a China que se retire.

O Governo vietnamita enviou forças antimotins aos locais atingidos pela violência. Mas muitos cidadãos chineses têm medo por sua segurança e fugiram do país em avião e por terra. A polícia de imigração do Camboja informou que 600 chineses cruzaram a fronteira terrestre no Sul do Vietnã na quarta-feira, e que o fluxo continuou nesta quinta-feira. A linha aérea taiwanesa China Airlines acrescentou dois voos partindo da Cidade Ho Chi Minh, segundo a agência taiwanesa Central News.

A porta-voz de Exteriores em Pequim, Hua Chunying, assegurou que a China está “impactada e preocupada” pelo ocorrido, e pediu ao Governo vietnamita que “chegue ao fundo do incidente, castigue com dureza aos criminosos e pague compensações econômicas”. Hua acusou a Hanói de “indulgência e conivência nos últimos dias com algumas forças antichineses” no Vietnã.

Trabalhadores vietnamitas e chineses de uma fábrica de aço em construção na província central de Ha Tinh —a 350 quilômetros ao sul de Hanói— enfrentaram-se na quarta-feira, e, como consequência, um operário chinês morreu e 90 ficaram feridos, segundo informou a companhia proprietária da planta siderúrgica, Formosa Plastics, que emprega 1.000 cidadãos chineses na instalação. O conglomerado taiwanês é um dos principais investidores estrangeiros no Vietnã.

Ao menos 400 fábricas foram danificadas nos protestos

O representante diplomático de Taiwan no Vietnã, Huang Chih-peng, afirmou que os invasores atearam fogo em vários prédios e perseguiram os trabalhadores chineses, mas não foram contra os diretores taiwaneses.

O ministro de Planificação e Inversão, Bui Quang Vinh, declarou que 400 fábricas foram danificadas desde que começaram as mobilizações violentas, e que houve protestos de trabalhadores em 22 das 63 províncias do país. Segundo o Ministério, os ataques foram obra de “extremistas”.

A propagação da violência supõe um sério desafio para o regime vietnamita, já que está manchando a reputação do país como destino de investimento estrangeira e poderia ter consequências políticas sobre seu sistema autoritário. Diante de seus cidadãos, encontra-se em uma posição delicada. E o problema tem uma solução difícil.

Se Hanói aceita que a plataforma petrolífera fique onde a situou China, isso suporia reconhecer que foi incapaz de defender a soberania do país. Se Pequim volta atrás e a retira, seria a China quem perderia força em suas reivindicações territoriais ou, quando menos, significaria que aceita que o problema precisa ser negociado.

Vietnamitas protestam contra a China em Hanói.
Vietnamitas protestam contra a China em Hanói.LUONG THAI LINH (EFE)

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_