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O goleiro Beto coroa um Sevilla épico

O time de Emery obtém seu quarto título europeu após superar o Benfica nos pênaltis O goleiro decide o duelo após segurar as cobranças de Cardozo e Rodrigo

Rafael Pineda
Os jogadores do Sevilla comemoram o título.
Os jogadores do Sevilla comemoram o título.ALEJANDRO RUESGA

Palop viu da arquibancada. Beto imitou o que ele fez em 2007 em Glasgow: defendeu dois pênaltis na hora de decisão, um de Cardozo e outro do espanhol Rodrigo, e os sevilhanos foram implacáveis na marca dos 11 metros – Bacca, M’Bia, Coke e Gameiro converteram. Assim o Sevilla conquistou sua terceira Liga Europa, seu quarto título europeu, depois de sofrer uma enormidade, graças a uma mão que saiu do céu e lhe abriu as portas da glória. Um título que se forjou desde 1º. de agosto, jogando duas eliminatórias prévias, sobrevivendo nas oitavas contra o Betis, também nos pênaltis, com o gol de M’Bia no final no Mestalla. Não há empreitada que assuste o Sevilla, curtido em mil e uma batalhas nesta competição à qual se une por um fio especial e mágico. Graças a essa alma forjada na épica europeia que já alimenta essa equipe, o Sevilla soube competir do início ao fim diante de um grande do futebol europeu, como o Benfica. Talvez tenha lutado com armas um tanto pequenas, porém dignas, com toneladas de sofrimento. Um coração de cavalo e dois zagueiros luxuosos, aos quais se soma o futebol de Rakitic. O Sevilla, dominado quase sempre pelo Benfica, foi iluminado pela deusa da fortuna, que premiou sua apresentação prolongando a final até a prorrogação, dramática, e até os pênaltis, onde veio o ponto final glorioso. O Benfica, sob a maldição de Guttmann, já perdeu oito finais europeias (todas desde a Copa da Europa de 1962).

SEVILLA, 0-BENFICA, 0

SevilLa: Beto; Coke, Fazio, Pareja, Alberto Moreno; M'Bia, Carriço; Reyes (Marín, min. 77, Gameiro, min. 103), Rakitic, Vitolo (Diogo, min. 110); e Bacca. Não utilizados: Varas; Iborra, Fernando Navarro e Trochowski.

Benfica: Oblak; M. Pereira, Luisão, Garay, Siqueira (Cardozo, min. 98); Amorim, A. Gomes, Gaitán (Cavaleiro, min. 118); Sulejmani (Almeida, min. 25), Lima e Rodrigo. Não utilizados: Artur; Vitória, Jardel e Djuricic.

Disputa de pênaltis: (4 x 2): Lima (gol, 0 x 1); Bacca (gol, 1 x 1); Cardozo (falha, 1 x 1); M'Bia (gol, 2 x 1); Rodrigo (falha , 2 x 1); Coke (gol, 3 x 1); Luisão (gol, 3 x 2); Gameiro (gol 4 x 2).

Árbitro: Felix Brych. Advertiu Fazio, Alberto Moreno, Coke, Almeida e Siqueira.

Juventus Stadium. 33.120 espectadores.

Com tenacidade, o Sevilla sofreu de forma indizível perante um campeão português que se perguntava repetidamente por sua sina na Europa, pois desperdiçou até cinco ocasiões muito claras. Um gol abriria as portas do céu. Bacca teve a chance. Exausto, chutou para fora. Pouco depois, Emery tirava o conturbado Marin, um fantasma, para dar lugar a Gameiro. O drama da prorrogação foi vivido na panturrilha de Bacca, destroçado, e no cansaço de duas equipes que haviam dado tudo de si. Tudo com um toque épico, cheio de sentimento, dilacerador. Não houve surpresas na escalação inicial, porque Emery recuperou Vitolo, lesionado. Mas há detalhes que podem definir os grandes duelos. Por exemplo, o excesso de força com o que Fazio e Alberto Moreno jogaram no primeiro quarto de hora. Dois amarelos com peso. Em especial para o lateral.

O Sevilla apertou o Benfica na saída de bola, consciente, possivelmente, de que um dos poucos senões que podem ser atribuídos a essa equipe é que lhe falta um pouco de criatividade. Sem muitos sobressaltos, salvo em um arremate de Garay numa cobrança de falta espalmada por Beto, as duas equipes se estudaram muito. O Benfica dominava um pouco mais, mas o Sevilla respondia com ofício, sério na defesa, à espera de alguma aparição de Rakitic. Na equipe andaluza destoaram algumas ações dos seus laterais, que não estiveram à altura da partida. Coke e Alberto se equivocaram às vezes em suas funções, confundindo velocidade com a precipitação. Chegaram como um temporal cinco minutos angustiantes, nos quais o Sevilla se apagou – logo antes do intervalo. O Benfica, atento, farejou sangue. Beto salvou na frente do lateral Pereira, que encontrou as costas daquilo que o Sevilla tinha de melhor, a sua zaga central.

O Sevilla, aos cacos, sobreviveu com uma nova defesa de Beto numa finalização de Rodrigo. Fazio ainda se atirou na frente de Gaitán, que chegava sozinho. O argentino por milagre não cometeu pênalti no seu compatriota. Lambendo as feridas, o Sevilla chegou ao intervalo. O time português deixava o Sevilla jogar, mas se mostrava voraz quando detectava uma fuga em seu sistema defensivo.

A equipe de Jorge Jesus se lançou no encalço dos espanhóis, aproveitando a inércia. Um novo erro de Alberto Moreno propiciou um contragolpe demolidor, em que Pareja salvou sob as traves uma finalização de Lima. O jogador de seleção, atabalhoado, atemorizado pelo cartão que havia levado, se tornou um perigo para a sua própria equipe. A partida se desvirtuou, perdendo a aura conservadora que a cercava até então.

O Benfica reclamou um pênalti de Alberto, e o Sevilla, guiado por um Rakitic genial, aproximou-se com perigo em dois arremates de Reyes. Quando estavam no seu pior momento, os andaluzes encontraram orgulho para resistir, enquanto tinha início um vaivém emocionante. Cansado, fazendo de cada ação defensiva um ato heroico, o Sevilla continuou suportando. Por exemplo, a bomba de Lima afastada por Beto, coroando o enésimo cruzamento de vida ou morte feito por Fazio. Assim, sobreviveu até a prorrogação. E até uma maravilhosa disputa de pênaltis.

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