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O Governo mexicano veste como policiais as autodefesas

A dissolução dos grupos civis armados aconteceu quatro meses depois da intervenção do executivo de Peña Nieto em Michoacán Dissidentes ameaçam criar novos grupos

Paula Chouza
Alfredo Castillo, o comissário em Michoacán, abraça Estanislao Beltrán, porta-voz dos paramilitares
Alfredo Castillo, o comissário em Michoacán, abraça Estanislao Beltrán, porta-voz dos paramilitaresRonaldo Schemidt (AFP)

Desde este sábado, não existem autodefesas em dois municípios fundadores do movimento em Michoacán: Buenavista e Tepalcatepec. Ao menos, foi isso que disse o enviado do Governo de Enrique Peña Nieto em uma cerimônia organizada pela comissão de Segurança e Desenvolvimento Integral do Estado, a agência criada em janeiro para resolver a crise de violência na entidade ao oeste do México. No entanto, uma dissidência do movimento liderada por José Manuel Mireles, até 7 de maio o líder em Tepalcatepec e agora investigado por homicídio, ameaça criar um novo grupo em escala nacional.

No evento, realizado pela manhã, o comissário Alfredo Castillo entregou as armas - uma longa e outra curta - e os uniformes do novo corpo da Polícia rural. Em uma marcha simbólica, seus integrantes desfilaram desde La Ganadera - uma fazenda que se converteu durante 15 meses no quartel general do movimento de civis armados contra o cartel dos Cavaleiros Templários - até o Palácio Municipal de Tepalcatepec, a menos de um quilômetro de distância e onde aconteceu a revolta de 24 de fevereiro de 2013.

Segundo o próprio comissário, cerca de 3.000 pessoas inscreveram-se até 9 de maio para ingressar nas guardas rurais. Mas por enquanto haverá 105 almas em Tepalcatepec e 120 em Buenavista. Também informou que 6.442 armas foram registradas. Dessas, 4.497 são de uso exclusivo do exército e 1.945 de calibres permitidos.

A entrega das armas aconteceu depois que o governo e os porta-vozes do movimento civil concordaram com um processo de registro e desarmamento para legalizar a polícia rural, em abril. Desde hoje, ninguém que não faz parte do corpo de segurança pode carregar uma arma.

A fundação da Polícia Rural Estatal chega, no entanto, em meio a uma profunda crise de um dos seus líderes. Nos últimos três dias, o Conselho Geral dos grupos paramilitares destituíram o doutor José Manuel Mireles, um dos porta-vozes do movimento, por considerar que suas declarações sobre possíveis ligações de alguns integrantes com o crime organizado não eram apropriadas. Estanislao Beltrán, conhecido como Papai Smurf e até então o segundo da organização, passa a ser a principal voz do movimento. A troca de acusações sobra a relação com o cartel dos Cavaleiros Templários passou a dividir o movimento. "O povo não quer ver [Mireles]", declarou Beltrán na última sexta-feira.

Nas últimas horas, o comissário Alfredo Castillo descobriu que José Manuel Mireles, também cirurgião em Tepalcatepec, está sendo investigado pelo assassinato de cinco pessoas no começo de maio. Uma fotografia publicada neste sábado pelo diário mexicano Milenio mostra Mireles segurando a cabeça de um homem ferido. Embora o comissário tenha dito que não existem provas suficientes para a sua prisão, admitiu as denúncias. O porta-voz de Tepalcatepec não seria o primeiro líder do movimento acusado de homicídio. Desde o mês de março, Hipólito Mora, fundador dos paramilitares em Ruana, uma comunidade de Buenavista, está preso pela morte de dois vizinhos.

Enquanto isso, José Manuel Mireles anunciou na última sexta-feira a criação de novos paramilitares em outras partes do país, um movimento "nacional" que contaria com o respaldo de defensores dos direitos humanos como o empresário Alejandro Martí, o poeta Javier Sicilia e a ativista Isabel Miranda de Wallace.

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