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Centenas de jovens são presos em uma escalada da repressão na Venezuela

A Polícia Bolivariana entra de madrugada nos acampamentos de estudantes de Caracas horas depois da prisão de um ativista da liberdade de expressão

La Policía dispersa a un grupo de manifestantes, este jueves en Caracas
La Policía dispersa a un grupo de manifestantes, este jueves en CaracasEFE

Cerca de mil homens da Polícia Bolivariana da Venezuela e tropas da Guarda Nacional atuaram durante a madrugada desta quinta-feira em uma grande operação para tomar os principais redutos dos movimentos estudantis em Caracas. Durante a operação, o corpo de segurança derrubou quatro acampamentos ao leste da cidade onde há semanas pernoitavam militantes das facções estudantis mais radicais de oposição, vanguarda dos protestos que acontecem em várias cidades venezuelanas desde o último mês de fevereiro. De acordo os dados oficiais, 243 pessoas ficaram presas. No entanto, versões de grupos estudantis e denúncias nas redes sociais diziam que essa cifra passava de 600, incluindo muitos menores de idade.

A batida policial foi o ápice de uma escalada repressiva que começou algumas horas antes, na quarta-feira à noite. Na ocasião se soube que a polícia política Sebin (siglas do Serviço Bolivariano de Inteligência) prendia no aeroporto internacional de Maiquetía, que serve à capital venezuelana,  Rodrigo Diamanti, dirigente da organização não governamental “Un Mundo sem Mordaza” (Um Mundo sem Mordaça). Já as autoridades venezuelanas tinham vasculhado na semana passada a sede da ONG, cujo trabalho se desenvolve na defesa da liberdade de expressão.

Também ao final da quarta-feira, dia em que havia sido suspensa a quarta reunião do diálogo de paz entre governo e oposição, o órgão diretor das telecomunicações, Conatel, anunciou o fechamento do programa Plomo Parejo, um popular espaço de denúncias e fofocas políticas conduzido na radioemisora capitalina RCR 750 por Iván Ballesteros. De acordo com os porta-vozes do órgão estatal, o programa contrariava o regulamento do setor ao “incitar à violência”.

O governo de Nicolás Maduro assegura que a onda de desordens e protestos de rua que brotou em fevereiro tem caráter de insurreição e faz parte de uma conspiração para derrotá-lo. Embora o tempo, as investidas policiais e o diálogo entre o governo e a opositora Mesa de Unidad Democrática (MUD) -instaurado sob a tutela da União de Nações Sul-Americanas (Unasur) e o Vaticano-, tenham contribuído para baixar o volume dos protestos até quase extingui-los, a três meses de seu início ainda persistem alguns focos de perturbação que, quase diariamente, se organizam em manifestações e fazem fechamentos de rua. As autoridades acusavam os acampamentos estudantis como pontos de irradiação subversiva.

O ministro do Interior e Justiça, general Miguel Rodríguez, felicitou-se por uma “operação limpa” que contaria com o “fator surpresa” como principal aliado. Em suas declarações, dadas em coletiva de imprensa nesta quinta-feira na manhã, o encarregado da segurança nacional afirmou que nos acampamentos estudantis se teriam apreendido armas, drogas e divisas estrangeiras. A operação arrasou quatro concentrações de barracas onde os estudantes viviam, incluindo o emblemático acampamento em frente ao edifício que aloja os escritórios das Nações Unidas na Venezuela.

Enquanto o governo chavista justificou as incursões noturnas por sua obrigação de restaurar a ordem pública na capital, seus efeitos imediatos foram os contrários: na quinta-feira, começo da tarde, diversas regiões do leste de Caracas permaneciam paralisadas por protestos de rua em nome da libertação dos detentos. Ao menos quatro estações da linha 1 do Metro de Caracas estavam fechadas e várias rotas do serviço de Metrobús ficaram suspensas.

Entretanto, outro evento do dia que ameaçava dar sua contribuição ao caos urbano, a audiência judicial do dirigente opositor Leopoldo López, foi postergado. López, ex-prefeito do município de Chacao e líder do partido Voluntad Popular, permanece detido em uma prisão militar desde o último 18 de fevereiro, quando se entregou às autoridades. O governo venezuelano acusa López, uma das cabeças de um movimento que propunha a imediata destituição de Nicolás Maduro do poder, de ser um dos principais instigadores dos distúrbios na rua.

Em cumprimento dos trâmites legais, López devia comparecer diante de um tribunal que decidiria se o ex-prefeito continuaria em prisão e se sustentava as acusações apresentadas contra ele pela Promotoria, sob controle do governo. A sessão gerava uma grande expectativa, pois se previa que a decisão judicial podia alimentar os protestos na rua. Desde cedo a Guarda Nacional tomava os arredores do Palácio de Justiça, em pleno centro de Caracas, e o próprio réu foi levado durante a madrugada da prisão militar de Ramo Verde. Sem dar argumentos, o tribunal adiou a audiência. Não foi divulgada uma nova data.

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