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As autoridades de Kiev declaram uma trégua de Páscoa no leste da Ucrânia

A candidata à Presidência Yulia Timoshenko se reúne com dirigentes de grupos pró-Rússia em Donetsk

Pilar Bonet
A candidata à Presidência Yulia Timoshenko em Donetsk.
A candidata à Presidência Yulia Timoshenko em Donetsk.PHOTOMIG (EFE)

A celebração da Páscoa ortodoxa (que neste ano coincide com a católica) marca uma trégua nos confrontos entre as autoridades centrais de Kiev e os ativistas pró-Rússia que tomaram edifícios públicos e mantêm suas posições no leste da Ucrânia, sobretudo em Donetsk, o foco mais resistente do protesto.

A trégua, que Kiev propiciou ao suspender as ações militares da chamada "operação antiterrorista", permite no melhor dos casos uma jornada de distanciamento em relação ao problema pendente, mas não a sua resolução.

Não obstante, prossegue a disputa por espaço entre os simpatizantes de Moscou e os de Kiev em torno da torre de TV em Kramatorsk. Os primeiros voltaram a cortar neste sábado a transmissão dos canais nacionais e conectaram o sinal russo.

Os representantes da autoproclamada República Popular do Donbas (RPD), que ocupam o edifício da Administração Provincial em Donetsk, não aceitam o acordo alcançado na sexta-feira em Genebra por representantes de Rússia, União Europeia, EUA e Ucrânia.

Os líderes dos protestos, de caráter separatista pró-Moscou, mas também federalista e autonomista, se negam a desalojar os edifícios ocupados enquanto não fizerem o mesmo as autoridades de Kiev -as quais eles consideram ilegítimas- na sede do Governo e da Presidência, na capital ucraniana.

Também não querem ser desarmados enquanto não forem desmobilizados os ativistas do Maidan (praça central de Kiev) que hoje fazem parte da Guarda Nacional. Também se negam a renunciar ao referendo sobre o futuro da região de Donetsk, convocado para 11 de maio.

A ex-primeira-ministra e candidata à Presidência, Yulia Timoshenko, viajou na sexta-feira a Donetsk, onde se reuniu com vários dos líderes da RPD em um hotel. O encontro foi protocolar e serviu para marcar posições. Os líderes pró-Rússia entregaram a Timoshenko uma lista de nove presos que eles consideram políticos e que querem ver libertados de uma prisão em Kiev.

Os líderes da RPD estão de acordo com a ideia de Timoshenko de estabelecer uma mesa de negociações entre um amplo espectro de forças políticas em Donetsk. Em todo caso, a continuidade (ou não) da iniciativa fica para depois da celebração da Páscoa.

Ao viajar a Donetsk, a  líder do partido Pátria se tornou a primeira representante da elite política ucraniana a se trasladar a essa região com a intenção de “compreender”, como salientou em uma entrevista coletiva realizada antes de ela se reunir com os líderes da RPD e depois de conversar com o governador Serguei Taruta.

“As conversas para consolidar o leste e o sul da Ucrânia não podem ser mantidas a partir da Rada [Parlamento], que está muito longe tanto do leste quanto do oeste [...]. Quero começar compreendendo de uma forma total quais são as exigências das pessoas que participam do protesto”, afirmou.

"Parece-me que, se em seu momento o ex-presidente da Ucrânia tivesse encontrado a valentia e a sabedoria para conversar com as pessoas do Maidan, certamente não teríamos hoje o sangue que se derramou, e talvez não tivéssemos tido a agressão por parte da Rússia”, acrescentou Timoshenko.

A dirigente afirmou ainda que “os líderes da Rússia só entendem a linguagem da força”, mas opinou que existem possibilidades de desbloquear a situação utilizando para isso os acordos de Genebra. As autoridades centrais de Kiev não reconhecem o referendo, já que a legislação ucraniana não contempla consultas locais.

Os membros da RPD não consideram legítimos o presidente em exercício, Olexandr Turchinov, e o primeiro-ministro Arseni Yatseniuk, nem aceitam as eleições presidenciais de 25 de maio, pois insistem que antes disso deve ocorrer um referendo de autodeterminação, previsto para 11 de maio.

Por enquanto, tal como está concebida, a consulta consta de uma só pergunta sobre o status da região de Donetsk. Até agora, a RDP não teve sucesso em sua tentativa de estender a consulta a outras regiões, como Carcóvia e Lugansk. A falta de avanço na extensão da consulta parece indicar que os líderes da RPD estão encontrando dificuldades para ampliar sua base de apoio, embora por enquanto tenham conseguido se concentrar em uma só pergunta (sobre a autodeterminação e uma maior autonomia), superando a tentação de acrescentar outra sobre o futuro da região, seja a manutenção na Ucrânia ou a incorporação à Rússia.

Uma pesquisa publicada pelo semanário Zérkalo Nedelii em Kiev indica que só um terço dos habitantes do sudeste considera legítimos o presidente Turchinov e o primeiro-ministro Yatseniuk, de acordo com dados reunidos pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, atendendo a uma encomenda do semanário em Odessa, Mykolaiv, Kherson, Carcóvia, Lugansk, Dnepropetrovsk, Zaparozhe e Donetsk.

Em todas estas regiões só em Mykolaiv, Turchinov —com 55% dos participantes na pesquisa que o consideram legítimo— supera 50%. No conjunto das oito províncias entrevistadas, 30,3% consideram legítimo o presidente, e 50,8% o atribuem ilegitimidade. Isso não quer dizer que a população apoie os ocupantes de edifícios públicos. Em seu conjunto, só 11,7% das pessoas ouvidas apoiam as ocupações, sendo as maiores percentagens as de Donetsk (18,1%) e as de Lugansk (22,4%), e a mais baixa a de Kherson (2,7%).

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