Hamilton e a sua sombra

Para saber do que Lewis Hamilton é capaz no volante na Fórmula 1 basta proporcionar a ele um carro que atenda ao seu gosto. Se tudo estiver em seu lugar, o britânico é um torpedo, provavelmente o piloto que possui mais velocidade pura no grid, isto é, em disputas contra o relógio. Na China, em um dia desses de sofá e cobertor, com chuva e frio (14 graus no ambiente), o britânico conseguiu sua terceira pole em uma temporada dominada pela Mercedes, seja em vitórias (três) como ou poles (quatro). Chegou-se a 34 vezes em que o garoto da região inglesa de Tewin largará na primeira colocação, um número que o permitiu superar Jim Clark e que o coloca como o quarto a acumular mais ‘poles’, atrás apenas de Michael Schumacher (68), Ayrton Senna (65) e Sebastian Vettel (45). Em Xangai neste domingo, formará na primeira fila junto com Daniel Ricciardo, que voltou a superar seu companheiro de Red Bull (terceiro). O espanhol Fernando Alonso arrancará em quinto, e o brasileiro Felipe Massa (Williams) em sexto, em sua melhor saída desde o início do ano.

Hamilton aproveita o momento como nunca. Vai rápido em qualquer ponto e circunstância. E se não pode fazê-lo, como na sexta-feira pela manhã, sua equipe encontra a forma de recuperar o W05 e o entrega em algumas horas pronto para a batalha. Assim, a cronometragem não teve outro dono que não o campeão do mundo de 2007, que reduziu duas vezes seu tempo para terminar com uma margem de mais de meio segundo à frente. Na sessão matinal, Hamilton mal completou três voltas, mas que foram suficientes para que visse que tudo seguia bem. Desta forma, as vitórias da Mercedes se dão quase que como certas. “Existe a possibilidade de que uma Red Bull possa ganhar amanhã?”, perguntaram a Vettel, logo depois de descer do carro. “Pode ser que coloquem chicanes em cada reta e tenhamos alguma chance”, respondeu o alemão.

Mas se na Red Bull há dificuldades, basicamente devido à preguiça do motor Renault incorporado pelo RB10, o panorama parece ainda mais sombrio para a Ferrari. Alonso faz o que pode para tratar de não se descolar antes da metade da temporada, à espera de que alguém em Maranello tire coelho da cartola. Essa eventualidade parece improvável no curto prazo, tal e como têm se comportado as coisas até agora. Raikkonen ainda está pior. Nas quatro provas até o momento, o espanhol sempre conseguiu se meter no último desafio da cronometragem (Q3), enquanto o nórdico só o fez em duas ocasiões. O F14T não está para muita festa, e menos ainda com a pista molhada. Ao contrário de Hamilton, que enfrenta a si mesmo, o finlandês não parece nem a sombra do que já foi.