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CONFLITO NA CRIMEIA

A OTAN nega que a Rússia tenha retirado tropas da fronteira com a Ucrânia

Os Aliados congelam a cooperação com a Rússia Diante do desafio de Putin, os ministros de relações Exteriores da Aliança dão impulso a novas medidas O comando militar avalia redirecionar forças para o Leste

Lucía Abellán

O movimento unilateral de fronteiras que a Rússia provocou com a anexação da Crimeia ressuscitou a desconfiança da OTAN em relação a Moscou. Os países aliados decidiram congelar sua relação com um país ao qual desde 1997 vêm tratando como um parceiro. Os ministros de Relações Exteriores da Aliança Atlântica ratificaram nesta terça-feira a suspensão dos trabalhos técnicos de cooperação entre os dois blocos e pediram a revisão de todos os laços que os unem, segundo disseram fontes diplomáticas.

O secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, considera que a “agressão russa” muda por completo as perspectivas da segurança na Europa. “Por meio de suas ações, a Rússia minou os princípios sobre os quais se construiu nossa associação e violou seus próprios compromissos internacionais, de modo que não podemos continuar como se nada tivesse acontecido”, afirmou Rasmussen ao chegar para a reunião que os ministros de Relações Exteriores da Aliança realizam nesta terça e na quarta-feira em Bruxelas. O secretário-geral desmentiu a informação surgida na segunda-feira sobre uma suposta retirada parcial das tropas russas do Leste da Ucrânia; “Não é o que estamos vendo”, garantiu.

Os aliados querem castigar a Rússia por sua atitude –e a ameaça que representa para os países do Leste, os mais próximos da Ucrânia– sem fechar os canais diplomáticos de diálogo. Portanto, não é provável que a OTAN decida eliminar o conselho bilateral que mantém desde 2002, com reuniões mensais, nem expulsar o embaixador russo presente na sede de Bruxelas, mas na prática esvaziará o conteúdo dessa cooperação.

Por ora, foi suspensa a operação militar que seria a primeira conjunta entre a OTAN e a Rússia: uma atividade de escolta marítima de um navio norte-americano que iria recolher material químico da Síria para destruí-lo, como parte do acordo de destruição do arsenal químico do regime de Bashar al-Assad. Fica também anulada a colaboração em comissões de especialistas, em questões logísticas e na gestão de crises. “Houve uma decepção com a Rússia; não existe confiança”, dizem fontes aliadas.

Além dessa reviravolta na relação bilateral, os ministros debaterão medidas adicionais que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o secretário-geral da Aliança, Anders Fogh Rasmussen, já discutiram na semana passada em Bruxelas. Por ser uma reunião de titulares de Relações Exteriores, não serão adotadas decisões estritamente de defesa, como o envio de tropas aos países do Leste Europeu, embora as propostas estejam em cima da mesa. “A defesa começa com a dissuasão. Daremos os passos necessários para deixar claro ao mundo que nenhuma ameaça aos aliados da OTAN terá êxito”, enfatizou Rasmussen.

Daremos os passos para deixar claro que nenhuma ameaça aos aliados da OTAN terá êxito” Anders Fogh Rasmussen

Será o principal comandante militar para o continente, o general Philip Breedlove, o encarregado de avaliar essas novas medidas e fazer uma proposta concreta à organização ao longo deste mês. Entre as alternativas figuram o envio de militares para proteger os países mais próximos à fronteira com a Ucrânia, uma maior oferta de aviões para vigiar a região (nas últimas semanas já houve oferecimento de Washington e de várias capitais europeias de envio de jatos de combate), bem como o estabelecimento de bases permanentes da OTAN nos países do Leste (só há uma pequena, na Polônia). E também a realização de exercícios militares na região, uma forma de exibir o poderio militar da organização no caso de conflito.

Mas os ministros de Relações Exteriores tratarão especificamente de como melhorar a cooperação com a Ucrânia. As autoridades desse país pediram a vários países da Aliança Atlântica equipamentos para reforçar suas frágeis Forças Armadas, assim como uma maior integração que os proteja diante do que entendem ser uma ameaça russa. Os chefes da diplomacia dos 28 Estados membros da Aliança explorarão essa maior colaboração sem considerar, pelo menos no momento, a entrada da Ucrânia na OTAN. O Parlamento ucraniano aprovou hoje uma reforma legal que permite a seu Exército cooperar com os da OTAN e os países da UE.

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