_
_
_
_
_
30ª RODADA DA LIGA | BARCELONA X CELTA

O joelho de Valdés range

O Barça goleia o Celta com dois gols de Neymar e outro de Messi, num duelo marcado pela lesão do goleiro, que deve ficar cerca de seis meses afastado caso se confirme a ruptura de ligamentos no joelho direito

Ramon Besa
Messi supera Yoel no 2 a 0.
Messi supera Yoel no 2 a 0. Alberte Gea (Reuters)

As piores notícias, e também as lesões, costumam acontecer nos momentos mais inesperados, de surpresa, de maneira traiçoeira e injusta, sem que haja contato nem atrito, fruto da fatalidade. Ontem à noite, na partida de número 1.000 da Liga no Camp Nou, de volta da estrondosa vitória no Bernabéu, quando o Barcelona já ganhava do Celta com um gol de Neymar, Víctor Valdés desmoronou quando saía para interceptar uma falta cobrada sem perigo aparente por Orellana. A cara do goleiro era um poema, e sua dor foi contagiosa, à espera de um boletim médico que, teme-se, poderá certificar as previsões mais funestas: Valdés, que desde o ano passado havia anunciado para maio sua saída do Barça, ficará afastado por cerca de seis meses, caso se confirme que sofreu uma ruptura de ligamentos no cruzado anterior do joelho direito.

BARCELONA 3 X 0 CELTA

Barcelona: Valdés (Pinto, min. 23); Adriano, Bartra, Mascherano, Jordi Alba; Cesc, Song, Iniesta (Sergi Roberto, min. 46); Alexis, Messi e Neymar (Pedro, min. 72). Não utilizados: Piqué, Alves, Busquets e Tello.

Celta: Yoel; Hugo Mallo, Cabral (Íñigo López, min. 38), Fontàs (Borja Oubiña, min. 74), Aurtenetxe, Jonny; Augusto, Álex López, Madinda; Santi Mina e Orellana (Bermejo, min. 64). Não utilizados: Sergio; David Costas, Nolito e Charles.

Gols: 1 x 0, min. 6, Neymar; 2 x 0, min. 30, Messi; 3 x 0, min 67, Neymar.

Árbitro: Ayza Gámez. Advertiu Adriano, Jordi Alba, Augusto e Hugo Mallo.

Camp Nou. 67.162 espectadores. Foi observado um minuto de silêncio em memória de Enric Ribelles, ex-jogador do Barcelona.

De modo que Valdés ficaria sem Liga, sem Champions, sem Copa do Rei e sem Copa do Mundo, um final cruel para a sua gloriosa etapa como arqueiro do Barcelona. A equipe azul-grená sentirá a falta do seu goleiro, uma garantia nas partidas mais duras, capitão e jogador notável, amigo íntimo de Iniesta, igualmente chateado pela lesão de Valdés e resguardado durante o descanso, quando o placar já estava mais ou menos definido: 2 x 0. Abatido o goleiro e resolvido o confronto, ninguém reparou em nada nem em ninguém, nem sequer em Luis Enrique na sua volta ao Camp Nou. Houve somente alguns aplausos para Pinto, o reserva de Valdés, que, diante da sua ex-equipe, fez uma estupenda dupla defesa nos arremates de Augusto e Mina, e uma ovação para Neymar, autor de dois gols.

Martino havia preparado um jogo sob medida para o brasileiro, que não levou nem cinco minutos para responder ao protagonismo que lhe foi dado pelo treinador do Barça. Neymar empurrou para a rede uma assistência preciosa de Alexis pela lateral direita, possibilitada pelo passe de Messi, novamente conectado a Iniesta. A associação Messi-Iniesta é atualmente uma garantia de sucesso para qualquer atacante, e também para Neymar, que não marcava desde fevereiro, quando carimbou a meta do Rayo Vallecano. O gol desmontou o plano do Celta, que havia colocado cinco na defesa, e chamou a atenção para a curiosa formação azul-grená, sem Alves, Piqué, Xavi e Busquets, poupados para o dérbi de sábado em Cornellà-El Prat.

Entre os titulares tampouco esteve Pedro, surpreendentemente em posição de impedimento, tanto faz que seja uma partida difícil, como a do Bernabéu, ou um jogo inicialmente guloso, como o do Celta, muito debilitado pelas ausências de Krohn Dehli e Rafinha, jogadores que poderiam ser muito daninhos no espaço que sobra entre os zagueiros e os volantes do Barcelona. O Celta nem atacava nem defendia, e as disputas mano-a-mano se sucediam diante de Yoel: Neymar ficou desatento, e o goleiro impediu um arremate fácil do 10. Um mau presságio, tranquilidade excessiva. Os anúncios mais assustadores ocorrem nas jornadas aprazíveis, quando o jogo transcorre manso, sem tensão, dias em que a vitória se dá como certa no Camp Nou. Assim chegou a dolorosa lesão de Valdés.

Valdés sai contundido do campo.
Valdés sai contundido do campo.Albert Gea (REUTERS)

Adriano colocou a mão num cruzamento do Celta, o árbitro surpreendentemente apitou pênalti, embora a faltas tivesse sido fora da área, o auxiliar corrigiu a decisão, e Orellana cobrou na direção de Valdés. O goleiro saltou, as duas mãos para cima, o corpo descoordenado girou sobre a sua perna direita enquanto ele devolvia a bola, e ato contínuo desabou de mau jeito, vencido por uma careta que paralisou o Camp Nou. Com Valdés desconsolado, o Barça chorava pelo temor que essa tenha sido a última partida do goleiro com a equipe azul-grená.

A lesão de Valdés teve um impacto demolidor sobre a partida e a torcida. Não havia um só culé que não sentisse o joelho. Todos na arquibancada ficaram espantados pela imagem do goleiro sendo retirado de maca, com as mãos cobrindo um rosto que refletia o ranger do joelho. Iniesta, amigo íntimo de Valdés, quis lhe dedicar um gol antes que o médico apresentasse seu boletim: o 8 fez um passe vertical, longo e profundo, para o qual Messi se desmarcou e avançou recebendo a bola de maneira precisa. Foi então questão de fintar

Yoel e colocar o 2 x 0 no placar – um gol necessário para que o time se despreocupasse do marcador e se preocupasse com Valdés. Assustado com lesão do guarda-meta, Martino tirou Iniesta no intervalo, já que ele sentia a perna esquerda, e deu a vaga para Sergi Roberto. O bracelete de capitão foi para Messi.

Com o Barcelona atordoado por causa de Valdés, o Celta abrandou sua defesa, aumentou a linha de meio-campo e apareceu na área de Pinto, peremptório e muito bem colocado, até que seu joelho esquerdo batesse na trave direita após um recuo ruim de Sergi Roberto. O susto foi monumental, porque a torcida continuava aflita à espera de notícias de Valdés. Não houve outros protagonistas exceto o goleiro e Neymar, presente nas duas áreas, capaz de disputar uma bola com Madinda na frente de Pinto e depois marcar o 3 x 0: o 11 controlou com o peito uma longa diagonal de Alexis, deu continuidade à jogada com um toque de cabeça e cruzou com a canhota na saída de Yoel. Um bom gol, mas insuficiente para tirar da cabeça a lesão de Valdés. A notícia não estava sob as traves do Celta, e sim sob as do Barça.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_