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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

A confusão vem de longe

Para o observador desatento, a confusão na política brasileira pode parecer episódica. Mas não é

Para o observador desatento, a confusão na política brasileira pode parecer episódica. Mas não é. Vem de longe. Abordo aqui, neste curto espaço, três aspectos que reputo importantes na avaliação da política nacional.

O primeiro é o fato de não termos partidos no sentido clássico. Embora eles existam no Brasil desde o século XIX, são agremiações de competições eleitorais cujo arranjo é a busca pelo poder. Pura e simplesmente. Daí alianças ideologicamente incompatíveis ocorrerem sem problemas. Alias, o inimigo de ontem pode ser o seu melhor amigo hoje e voltar a ser seu inimigo. Tudo de acordo com os interesses e as conveniências.

Para aprofundar a falta de unidade partidária, o marco de orientação é, invariavelmente, o interesse paroquial. As alianças federais servem para atender os interesses estaduais e paroquiais, por isso muitas alianças nacionais não se reproduzem nos estados. Os interesses – e não as ideias – pautam os acordos.

O segundo aspecto importante para avaliar a política no país é que temos uma imensa vocação para a conciliação e arreglo dos interesses. Lutamos por interesses e não por ideias. E justamente pelo fato – para alguns, até mesmo “pós-moderno” – de não se transformar as ideias em barreiras instransponíveis existem espaços para todo tipo de arranjo.

Um exemplo: como podemos entender que, dentro da base governista, existam partidos que formam um bloco que pode agir de forma “independente” da orientação do governo? Nesse sentido, a ideologia e os programas entram como carros alegóricos de desfiles de escola de samba. Simbolizam e significam sinais exteriores de intenções, mas não são paradigmas firmes. Adornam os discursos tais como os adereços de carnaval.

É evidente que alguns fanáticos e outros desavisados caem no discurso da ideologia. Até mesmo pelo fato de que todos precisam de um motivo para viver. Alguns poucos, no Brasil, acreditam na força das ideias tradicionais. Ideias de antanho. Curiosamente, na oferta das ideologias não existe nenhuma relevante no campo da direita. Somos um país de centro-esquerda e de esquerda. Pero no mucho...

O que nos move é o interesse. Tanto o PT, que é uma confederação de forças de esquerda tal qual um esqueleto sindical, quanto o PMDB, que é uma confederação de caciques estaduais, se movem em torno de um plano tático de poder. Puro pragmatismo.

O que resulta dessa fórmula brasileira de fazer política? Uma busca incessante pelo consenso – e esse é o terceiro aspecto característico de nossa política. Tal fato tem grandes vantagens e enormes desvantagens, o que é paradoxal. Mas o Brasil é absolutamente paradoxal.

A busca pelo consenso apara sobretudo os radicalismos. Tendo a necessidade de compor uma imensa maioria para governar, as áreas de intercessão são pequenas. Daí as reformas não avançarem. Tampouco tomam-se medidas desmioladas, como alguns de nossos vizinhos. É o ritmo do Brasil.

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