_
_
_
_

Cuba sai em busca de negócios na Flórida

A cidade de Tampa multiplica os intercâmbios empresariais e esportivos com a ilha, enquanto acompanha com atenção a tímida aproximação entre os EUA e Havana

As portas da cidade de Tampa, no Estado da Flórida, se abriram para receber, nesta quinta e sexta-feira, o chefe da diplomacia cubana nos Estados Unidos, José Ramón Cabañas. É a primeira vez em uma década que o maior representante do Escritório de Interesses de Cuba em Washington visita a cidade, que nos últimos anos se tornou um ponto nevrálgico do intercâmbio entre ambos os países, apesar do embargo comercial em vigor. E é a primeira vez que ele o faz para procurar negócios, no contexto da lenta, mas sustentada, abertura econômica empreendida pelo Governo da ilha.

Cabañas viajou a Tampa nesta quinta-feira, convidado pela congressista democrata Kathy Castor, uma das mais firmes defensoras da revogação das leis do embargo contra Cuba que vigoram nos Estados Unidos desde a década de 1960. Trata-se, aliás, da única legisladora da Flórida – o Estado norte-americano com maior presença de exilados cubanos – a promover essa medida. Pelas mãos de Castor, Cabañas participou de um almoço com um seleto grupo da Câmara de Comércio de Tampa, visitou a sede do jornal Tampa Bay Times, o porto e o aeroporto, além de fazer nesta sexta-feira um passeio pelo bairro histórico de Ybor City.

“Este é um momento importante para que os Estados Unidos estejam mais comprometidos com Cuba. Estão ocorrendo mudanças na ilha e na economia. [Os cubanos] podem possuir propriedades, automóveis e pequenos negócios. Este é o momento para que os Estados Unidos promovam e respirem essas mudanças”, disse a anfitriã, Kathy Castor, nesta quinta-feira aos editores do jornal Tampa Bay Times, que por sua vez fizeram a Cabañas perguntas gerais sobre o futuro dos direitos humanos na ilha e, em particular, sobre o futuro do empreiteiro norte-americano Alan Gross, condenado a cumprir 15 anos da prisão em Cuba por delitos de espionagem.

Sobre Gross, Cabañas disse: “Estamos dispostos a confrontar esse problema, a falar disso e a encontrar uma solução. Mas a contraparte precisa fazer algo, precisa haver vontade política para nos sentarmos para conversar”. A respeito de uma eventual abertura política que garanta o respeito aos direitos humanos em Cuba, o diplomata se limitou a recordar as excelentes relações que os Estados Unidos mantêm com a China, um país também famoso por violar sistematicamente os direitos fundamentais de seus cidadãos.

Em cada encontro, Cabañas insistiu em ver o copo meio cheio: apesar de as relações diplomáticas entre Washington e Havana estarem rompidas há mais de 50 anos, as duas partes deram um jeito de estabelecer acordos mínimos em assuntos de seu interesse, ao mesmo tempo em que o Governo de Havana empreendeu, nos últimos anos, tímidas reformas sociais e econômicas que pouco a pouco foram transformando a vida cotidiana dos cubanos. Desde janeiro de 2013, os residentes na ilha têm a possibilidade de viajar ao exterior sem prévio consentimento do Estado. Também têm agora oportunidade de arrendar imóveis, empreender pequenos negócios por conta própria e comprar automóveis, ainda que a preços astronômicos para o seu deteriorado bolso. Enquanto isso, Washington e Havana concordaram em compartilhar, por exemplo, informações sobre o movimento de furacões na região, além de assinarem recentemente um acordo para gerir eventuais vazamentos de petróleo no Caribe. Ao mesmo tempo, o diálogo migratório segue seu curso, apesar dos desencontros políticos; a mais recente reunião entre representantes dos dois Governos aconteceu no último dia 10 de janeiro em Havana, e é a terceira que se realiza no último ano, depois de as discussões sobre assuntos práticos ficarem congeladas a partir de 2011.

Em Tampa, onde reside uma comunidade de mais de 140.000 cubanos e cubano-americanos, de esportistas a empresários, esse grupo acompanha com atenção tais movimentos e decidiu assumir a dianteira com várias iniciativas. Ao contrário do que ocorre em Miami, onde reside o núcleo mais beligerante do exílio, o debate sobre a nova relação parece menos apaixonado e mais prático, do ponto de vista dos negócios. Em março de 2013, a Aliança para a Fundação de uma Política Responsável para Cuba convidou o cônsul-geral de Escritório de Interesses de Cuba em Washington, Llanio González, para participar de uma conferência intitulada: “Aproximação para Cuba: bom para Tampa, bom para a Flórida, bom para os Estados Unidos”. Era a segunda tentativa, pois já em 2011 a mesma organização convidou ao cônsul e outros funcionários cubanos para um evento similar, mas o Departamento de Estado dos EUA – que, nas atuais circunstâncias, deve autorizar cada movimento da diplomacia cubana pelo território norte-americano – negou-se a autorizar a viagem. Depois, em julho de 2013, Llanio González visitou Miami pela primeira vez, para estimular que o setor mais neutro do exílio fosse a Cuba após passar mais de cinco décadas acumulando capitais e nutrindo o desejo de voltar ao seu país e nele investir.

Este tipo de intercâmbio vem ocorrendo a partir de Tampa de forma quase tão fluida como a partir de Miami, mas com menos dramalhão. Em 2013, a Câmara de Comércio da cidade enviou a Havana uma delegação de 38 membros para sondar o terreno; no grupo havia empresários e líderes civis e políticos, e entre eles também estava a deputada Castor. Dois anos depois de o presidente Barack Obama revogar as restrições às viagens de familiares e envios de remessas a Cuba, o aeroporto local começou a oferecer voos diretos para a ilha. Atualmente, três empresas realizam viagens fretadas a Havana, Santa Clara e Holguín, e, das cerca de 500.000 pessoas que viajaram em 2012 dos Estados Unidos para Cuba, 44.711 partiram de Tampa; estima-se que em 2013 essa cifra se tenha aumentado em 15%, até somar 51.594 viajantes. O maior número de passageiros continua embarcando em Miami, e outros tantos o fazem das cidades de Fort Lauderdale e Key West, também na Flórida. Mesmo assim, em sua visita da quinta-feira José Ramón Cabañas descreveu o terminal de Tampa como “a porta de entrada para Cuba”– mais por uma questão de simpatia política do que de estatística.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_