_
_
_
_

Salário mínimo deveria ser quatro vezes maior para manter uma família brasileira

O valor da cesta básica aumentou em 2013 em todas as 18 capitais brasileiras avaliadas pelo Dieese. Dado é divulgado antes do IPCA e em meio a indicadores pouco animadores

Tomate é um dos alimentos avaliados pelo Dieese.
Tomate é um dos alimentos avaliados pelo Dieese.Tânia Rêgo (ABr)

O valor da cesta básica aumentou em 2013 em todas as 18 capitais brasileiras avaliadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), sendo que em nove delas houve avanço superior a 10%. Tendo como referência os preços de dezembro, o Dieese calculou que o salário mínimo no país deveria ser quatro vezes maior que o então em vigor. Os dados são anunciados um dia antes do medidor oficial de inflação do governo nesta sexta-feira, e se unem a uma série de indicadores recentes pouco animadores, como o fluxo cambial negativo, o aumento do endividamento das famílias e a queda na venda de veículos.

A cesta básica medida pelo Dieese é a única exclusivamente composta por alimentos a contar com uma abrangência considerada nacional, em um país com 27 unidades federativas. Para determinar o valor considerado ideal do salário mínimo, o instituto leva em consideração os gastos essenciais de um trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

“Houve um aumento expressivo de alimentos considerados básicos. Para as pessoas de baixa renda, os alimentos são o item que mais pesa no orçamento, em torno de 40%. Quanto mais baixa a renda, mais se gasta com alimentos”, avalia a economista e supervisora da área de preços do Dieese nacional Patrícia Lino Costa. O salário mínimo em dezembro era de 678 reais, e foi reajustado em 1o de janeiro para 724 reais.

As maiores altas na cesta corresponderam a Salvador (16,74%), Natal (14,07%) e Campo Grande (12,38%). As menores, em Goiânia (4,37%) e Brasília (4,99%). Dos 13 alimentos básicos avaliados, os que mais subiram ao longo de 2013 foram leite, farinha de trigo, banana, pão francês e batata. O óleo de soja foi o único produto da cesta a apresentar queda de preço em todas as cidades.

Nesta quinta-feira, dados oficiais confirmaram ainda que a safra de 2013 de cereais, leguminosas e oleaginosas foi recorde no Brasil. Foram registrados 188,2 milhões de toneladas, 16% a mais que em 2012. Como costuma acontecer, arroz, milho e soja representaram a enorme maioria da produção nacional de grãos. A área colhida no ano passado foi de 52,8 milhões de hectares, com alta de 8% ante 2012.

“A gente tem uma safra recorde, mas algumas questões precisam ser avaliadas, porque o que a gente observa é um resultado diferente nas cestas”, acrescentou Costa.

IPCA e conjuntura

Os valores colhidos pelo Dieese preocupam também ao mostrar que alimentos básicos cresceram em 2013 em média acima da inflação geral, em meio à grande expectativa de divulgação do medidor oficial anual do governo nesta sexta-feira. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem no item alimentação e bebidas um de seus componentes principais.

Economistas preveem um resultado entre 5,5% e 6%. O governo trabalha com 4,5% como o centro de sua meta, com tolerância até 6,5%. O maior temor envolve o setor de serviços, que pode frear o consumo ao longo de 2014.

“Os serviços vão ficando tão caros, que as pessoas freiam o consumo. Nesse setor, ocorre um mecanismo de inflação que se autocontrola. Quando a inflação é alta, a economia desacelera por dois motivos: ou porque o Governo aumenta os juros ou as coisas ficam tão caras, que o poder aquisitivo é corroído e o consumo diminui”, avalia o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou, por sua vez, um crescimento de 7,5% do número médio de famílias endividadas em 2013. O percentual de endividados alcança a média anual de 62,5% do total das famílias brasileiras, segundo a entidade, o que pode dificultar ainda mais o consumo ao longo deste ano.

Um sinal de queda no consumo vem também das vendas de veículos de passeio e comerciais leve em 2013. A Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave) registrou 3,57 milhões de unidades comercializadas no ano passado, ante 3,63 registrados no ano anterior. Foi a primeira queda desde 2003. Os últimos dados de produção industrial também apontaram queda, embora leve, de 0,2%.

O economista Ayrton Fontes credita parte da diminuição na venda de automóveis a uma consequência do excesso de consumo que houve nos anos 2010, 2011 e 2012. “Essa queda nas vendas vai ser perpetuada agora neste ano”, afirma, em referência sobretudo ao fim da desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para o setor automotivo, o que encarece os veículos.

Outro ponto de atenção é o impacto de alta que o câmbio pode ter na cesta de produtos avaliados para o cálculo da inflação. Nesta quinta-feira, a moeda norte-americana fechou em sua maior cotação desde meados do ano passado, no patamar de 2,39 reais. No dia anterior, o Banco Central já havia informado que a entrada e saída de moeda estrangeira do país teve déficit em 2013, o pior resultado desde 2002.

“A aceleração do câmbio no último trimestre tornou o risco inflacionário uma preocupação de novo para o BC, que deve continuar subindo os juros”, acrescenta Padovani.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, afirma, por sua vez, que o mercado ainda está muito cético quanto a uma queda da inflação.

“Se de um lado gera desconforto por conta das interações existentes entre o câmbio e o nível de preços num país que vive a surrealista situação de 11 diferentes índices de inflação todo o mês (…), por outro não vemos como negativo este movimento. Afinal um câmbio mais fraco pode ajudar, entre outras coisas, a evitar a sangria nas contas externas”, avalia.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_