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Buenos Aires decreta emergência energética após cortes de luz

Os órgãos públicos permanecerão fechados na segunda-feira, e alguns luminosos publicitários serão apagados

Fogueira em um bairro de Buenos Aires, na última sexta-feira.
Fogueira em um bairro de Buenos Aires, na última sexta-feira.

As interrupções energéticas na Argentina já duram duas semanas. Diante de uma demanda ampliada por causa da mais prolongada onda de calor desde 1906, as interrupções do serviço aparecem aqui, enquanto são solucionadas lá no centro e norte do país. Não são maciças, não há blecautes generalizados, mas há quarteirões de Buenos Aires e outras cidades que já estão há até dez dias sem energia. Dezenas de milhares de usuários foram afetados, e na capital muitos deles optaram por manifestar sua indignação montando mais de 40 piquetes em ruas, autoestradas e ferrovias. O trânsito se complica porque em algumas esquinas aparecem fogueiras de madeiras e pneus que bloqueiam a circulação. Diante dessa situação, a prefeitura de Buenos Aires decretou emergência energética neste sábado.

O prefeito portenho, o conservador Mauricio Macri, adversário do Governo da peronista Cristina Fernández de Kirchner, explicou em uma entrevista coletiva que, por causa dessa medida, a administração pública da capital não funcionará na próxima segunda-feira, para poupar energia. As repartições da Cidade Autônoma de Buenos Aires permanecerão fechadas a partir da sexta-feira passada até a próxima quinta-feira, já que 31 de dezembro e 1º. de janeiro não são dias úteis. Macri, que aspira à presidência argentina em 2015, não revelou quais outras medidas serão adotadas por causa da emergência energética. Limitou-se a dizer que “as empresas de publicidade em vias públicas também se comprometeram a apagar a maior quantidade possível de luminosos para economizar energia”. O prefeito, líder do partido Proposta Republicana (PRO), aproveitou para criticar ao Governo Kirchner: “As pessoas se sentem abandonadas, não sabem se o corte é preventivo nem quanto vai durar. Temos um Governo que, em vez de construir soluções, sempre procura responsáveis”.

O Executivo nacional atribuiu a crise energética às duas distribuidoras de Buenos Aires, a Edenor, de capital argentino, e a Edesur, filial da espanhola Endesa (controlada, por sua vez, pela italiana Enel). “Temos empresas e um Governo (nacional) sem capacidade de resposta”, atacou Macri, voltando-se também contra as distribuidoras. A filial da Endesa disse que a culpa da má qualidade dos serviços se deve à tarifa baixa, que está congelada há 11 anos para residências de classes média e baixa. Em outras cidades da Argentina, onde as tarifas são quatro vezes maiores do que em Buenos Aires, também houve interrupção de eletricidade em determinados bairros.

Em meio aos protestos dos moradores afetados, outros opositores também atacaram o Governo Kirchner. O deputado peronista Sergio Massa, que deixou o kirchnerismo há apenas seis meses e também poderia aspirar à chefia de Estado, sentenciou: “Os cortes são sinônimo de fracasso”. Massa acrescentou que “é o Governo nacional que precisa dar respostas, porque é quem controla as concessionárias (do serviço)”. Na aliança centro-esquerdista Unen, o senador Fernando Pino Solanas pediu a renúncia do encarregado da política energética nos dez anos de governos kirchneristas, o ministro do Planejamento Federal, Investimento Público e Serviços, Julio de Vido. Desde 2011, a Argentina perdeu a autossuficiência energética por causa da escassez de investimentos, e essa foi uma das razões pelas quais o Governo Kirchner optou em 2012, depois de nove anos de kirchnerismo no poder, por nacionalizar os 51% que a Repsol possuía da YPF. O chefe de Gabinete da Casa Rosada, Jorge Capitanich, justificou as interrupções do fornecimento pelo fato de recordes históricos de consumo energético serem batidos diariamente.

“No dia de hoje, o sistema argentino de interconexão bateu o recorde de demanda de potência para um dia sábado”, explicou Capitanich, que também pode ser um eventual presidenciável, mas antes precisará superar diversos obstáculos no cargo que assumiu há pouco mais de um mês. O ministro De Vido disse que as distribuidoras energéticas de Buenos Aires “não estiveram à altura do crescimento” da economia argentina desde 2003. O Governo nacional anunciou neste sábado que as forças de segurança levarão água aos moradores da capital e da sua periferia que tiverem perdido também esse serviço em decorrência dos apagões, em meio a temperaturas que rondam os 40 graus. Também atenderão a idosos em situações de risco.

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