Governo brasileiro compra aviões suecos para equipar a Força Aérea nacional
Os Estados Unidos e a França estavam na disputa, mas a transferência tecnológica oferecida pela Saab foi decisiva
Cinco dias após a visita oficial do presidente francês, François Hollande ao Brasil, o governo brasileiro anunciou ter escolhido a Suécia, e não a França, para negociar a compra de 36 caças para a Força Aérea Brasileira (FAB). A decisão terá um custo de 4,5 bilhões de dólares ao Brasil e ocorre após 18 anos de discussões sobre o projeto de modernizar e reequipar a FAB.
A França, assim como os Estados Unidos, era uma das concorrentes na licitação brasileira. A americana Boeing disputava a compra com o modelo F-18, enquanto a francesa Dassault tentava negociar a venda dos caças Rafale. No entanto, os aviões suecos Gripen, da empresa Saab, foram escolhidos. Segundo o ministro da Defesa, Celso Amorim, a escolha levou em conta, basicamente, três critérios: a performance das aeronaves, o custo tanto da aquisição, quanto da manutenção, e a transferência de tecnologia para que o Brasil passe a construir esses aviões em casa.
A transferência de tecnologia, é, inclusive, uma reivindicação que o Governo brasileiro vinha fazendo há muito tempo. “E nessa questão, os americanos são muito mais restritivos, pois, obviamente, eles querem manter os seus segredos”, explica o professor da Fundação Getúlio Vargas, Salem Nasser.
Outra questão importante apontada por Nasser é a dependência que o Brasil teria em relação ao país com quem fechasse negócio. “Com relação à proposta americana, acho que havia um temor brasileiro de estabelecer uma dependência tecnológica e estratégica dos EUA, que é um país com que o Brasil deve ser sempre precavido”, diz.
O professor de Segurança Internacional da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Bernardo Wahl, acrescenta que essa decisão reflete uma estratégia muito característica das relações exteriores do Brasil que é a diversificação de fornecedores. “A compra do caça sueco é um reflexo da política externa brasileira, que busca autonomia”, diz. “É a chamada autonomia pela diversificação”.
A pressão dos países em negociação com o Brasil era grande. Durante a visita de Hollande ao Brasil, Rousseff chegou a dizer que não trataria do assunto com o mandatário francês, já que estaria insatisfeita com a parceria francesa nos submarinos vendidos para a Marinha, o que pode ser um dos motivos pelos quais a companhia francesa foi preterida.
Já com os Estados Unidos, o país mais cotado para a compra, a relação com o Brasil ficou manchada após a descoberta, em agosto deste ano, que o país de Barack Obama estava espionando o Governo brasileiro. “O Brasil quis mostrar aos EUA que esse tipo de comportamento tem custos. Foi isso que Dilma quis mostrar cancelando a visita de Estado dela aos EUA e também na escolha do caça sueco”, diz Wahl.
O projeto de modernizar e reequipar a FAB é antigo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começou a tratar do assunto no início do seu mandato, em 1995, e em 2001 lançou o projeto batizado F-X, mas não conseguiu levar adiante. No governo do ex-presidente Lula, o projeto foi rebatizado de F-X2 e, em 2009, Lula chegou a anunciar que havia fechado acordo com o então presidente da França Nicolas Sarkozy, mas acabou recuando, após a insatisfação da FAB, por não ter sido consultada sobre a decisão. “Havia razões fortes para fechar negócio com a França por causa do preço atraente, mas quando uma coisa dessas é quase anunciada e acaba recuando, a negociação acaba enfraquecida e para voltar a fechar com os franceses seria muito mais difícil”, explica Nasser.
O epílogo dessa longa novela já é considerado uma boa notícia pelos especialistas. “Não se esperava isso no governo Dilma. O (ministro da Fazenda) Guido Mantega havia dito que a economia no Brasil está manca, e como a defesa é um assunto a longo prazo, só o fato da decisão ter acontecido, já é uma grande vitória para a área de defesa no Brasil”, diz Wahl.
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