Argentina padece outra noite de saques
Centenas de pessoas invadem os comércios de Concordia, na província de Entre Rios, ante a passividade da polícia
A Argentina voltou a viver na madrugada de domingo para segunda-feira outra noite de saques, com um morto na província de Entre Rios, e 25 pessoas feridas diante da passividade da polícia. O fato ocorreu em Concordia (116.000 habitantes), na província de Entre Rios, na fronteira com Uruguai. Na última terça-feira, o mesmo havia ocorrido no município de Córdoba. Os agentes de Córdoba se negaram a sair dos quartéis, centenas de pessoas assaltaram os comércios, uma pessoa morreu e mais de cem ficaram feridas. Finalmente, o governador peronista - embora opositor ao Governo nacional - José Manuel da Sota, cedeu à chantagem policial e assinou um reajuste de salário.
Desde o primeiro momento ficou claro que aquilo foi uma péssima solução, um mau negócio para a democracia. E no dia seguinte, o problema se estendia a cinco das 23 províncias do país. Na maioria das cidades, as autoridades cederam às queixas do Governo nacional e mobilizaram no sábado 10.000 agentes para reforçar as zonas de maiores conflitos. Mas a ameaça dos saques seguiu latente. Até que no domingo voltaram a se ver imagens de ruas sem a polícia e ladrões carregando eletrodomésticos.
Os momentos de maior violência foram vividos no domingo nas localidades de Concordia, Mar del Plata (Buenos Aires) e Santa Fé (na província do mesmo nome). Em Concordia, às duas da madrugada, o jornalista Osvaldo Bodean, do portal Elentrerios.com, relatou ao canal Todo Notícias imagens do caos. Diante da ausência de policiais, em um primeiro momento foram os próprios vizinhos que formaram cordões de proteção em frente a alguns comércios, enquanto alguns assaltantes se aproximavam em motos. Mas depois, diante da atitude da polícia de deixar a cidade sem proteção, dezenas de locais foram assaltados. E outros tantos, incendiados. O governador de Entre Rios, o kirchnerista Sérgio Urribarri, declarou ao canal TN que a vítima fatal se encontrava no local dos saques e morreu "eletrocutada".
Juan Carlos Fuser, jornalista da Rádio Ativa, descreveu um panorama de comerciantes armados, manchas de sangue e vidros quebrados. “Eu quero ressaltar que o pior de tudo é a ausência total de informação por parte do prefeito e do governador. Estamos desprotegidos”, disse.
Depois da greve selvagem dos policiais de Córdoba, as reivindicações dos agentes estenderam-se como uma mancha de azeite por outras zonas do país. Na província de Catamarca, a polícia municipal cercou a sede do governo até ser retirada pela guarda nacional. Quatro pessoas ficaram feridas nos confrontos, mas os policiais de Catamarca conseguiram finalmentes 45% de aumento. Nas províncias de Rioja e San Juan também conseguiram um incremento nos salários.
Em Mar del Plata, funcionários de quatro dependências policiais fizeram greve. A partir de então, vários saques foram realizados e os agentes que não estavam em greve detiveram 15 pessoas. Na província de Santa Fé, centenas de policiais iniciaram protestos na sexta-feira. O Governador opositor socialista, Antonio Bonfatti, pediu o reforço de patrulheiros e a Casa Rosada enviou 2.500 efetivos. Mas desde a tarde do domingo, o comércio na localidade de Santa Fé capital (415.000 habitantes) estava sendo saqueado. “Escutam-se disparos de armas de fogo em todos os bairros da cidade”, comentou o jornalista Juan Ruiz no Todo Notícias. Ruiz comentou que os saques estiveram precedidos de cortes de luz e de água por causa de uma tempestade.
Na província de Buenos Aires, a mais povoada do país e com maiores núcleos de pobreza, não se produziram saques durante o fim de semana. Mas o pânico é sentido no ar. Dezenas de supermercados estavam guardados por agentes para prevenir os saques. Nas redes sociais circulavam as mensagens que convocavam a saques nos próximos dias. O governador da província, o peronista Daniel Scioli, estava no Rio de Janeiro, onde ia se encontrar com o ex-presidente Bill Clinton, mas se viu obrigado a cancelar sua agenda e voltou com urgência a Buenos Aires.
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