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O chavismo amplia sua vantagem sobre a oposição na Venezuela

Com 97,52% dos votos apurados, o Partido Socialista Unido de Venezuela obtém a maioria das prefeituras, mas perde nas capitais mais importantes do país

O candidato do Governo à Prefeitura de Caracas, Ernesto Villegas.
O candidato do Governo à Prefeitura de Caracas, Ernesto Villegas.EFE

A primeira leitura dos resultados parciais oferecidos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela mostrou que o chavismo ganhou a maioria das prefeituras do país, onde a mão do Estado é mais forte, mas perdeu nas principais capitais de estado da Venezuela para a oposição, onde a resistência é muito maior.

A alegria da oposição, no entanto, sofreu um duro revés na soma dos votos. Com o 97,52% dos votos apurados o governante Partido Socialista Unido da Venezuela obteve 5.111.336 votos em todo o país (49,24%) contra 4.435.097 votos (42,72%) da opositora Meza de la Unidad, a aliança de partidos da oposição.

Faltando cerca de 2,5% dos votos a serem contabilizados, o governo alarga a vantagem obtida em abril passado por Nicolás Maduro -de apenas 1,49% a 6,52%. Essa diferença, embora menor que as obtidas por Hugo Chávez em seu momento como candidato presidencial, detém por enquanto o impulso da oposição de solicitar um referendo para revogar a gestão de Maduro. “Eles disseram que se ganhassem em votos eu teria que renunciar. Que isto era um plebiscito. O que a cúpula da MUD vai fazer diante da quarta derrota em 14 meses?”, perguntou Maduro ao analisar os resultados em um encontro com seus partidários.

O comparecimento dos eleitores foi de 58,9%

Maduro fez uma comparação com a sorte vivida pelo ex-treinador da seleção de Venezuela, César Farías, que depois de não classificar a equipe nacional para a Copa do Brasil foi contratado para dirigir os Xolos de Tijuana, da primeira divisão mexicana. “Eu acho que temos de ver se mandamos Ramón Guillermo Aveledo a Tijuana”, disse Maduro.

Em virtude desses resultados o chefe do Estado prometeu aprofundar nos próximos dias o que chamou de “ofensiva econômica”, a remarcação e venda a preços baixos de mercadorias, iniciada há um mês nas lojas de eletrodomésticos. Tudo isto é parte de um plano mais ambicioso que pretende regular os preços de todos os bens e serviços comercializados no país. A julgar pelos resultados, parece claro que o que anteciparam vários analistas se cumpriu: a decisão de regular os preços teve efeitos concretos nas votações das eleições autárquicas.

Essa é uma das maneiras de ler o resultado deste domingo. A outra é pela importância das capitais conquistadas. Ali a oposição ganha. Das 24 capitais de Estado, o oficialismo obteve quinze, mas as outras nove, incluindo Maracaibo, Valencia e Barquisimeto, três das quatro cidades mais importantes do país, estão nas mãos da oposição. Talvez o golpe mais duro para o governo foi perder a prefeitura de Barinas, o estado natal de Hugo Chávez, para o opositor José Luis Machín. Foi uma vitória estreita –Machín obteve 50,45%- como a maioria das obtidas pelos ganhadores de ambos os lados. Só em quatro casos os ganhadores superaram os 60%. A oposição também venceu na prefeitura metropolitana de Caracas com Antonio Ledezma. Quando ganhou pela primeira vez, em 2008, Hugo Chávez decidiu nomear uma chefa do governo do Distrito Capital, a área de concorrência de Ledezma, e reduziu sua margem de manobra.

O líder opositor Henrique Capriles Radonski ressaltou a participação do eleitorado em eleições deste tipo. De acordo com as cifras divulgadas neste domingo, 58,92% dos venezuelanos inscritos no Registro Eleitoral votaram, um número que supera o marcado em eleições autárquicas anteriores. O governador quis ler os resultados, realçando a importância dos ganhos obtidos pela oposição. “Este país não tem dono. Nem o oficialismo nem a oposição. Temos um país dividido. Este país clama por um diálogo”, disse.

Maduro lançou uma aposta nessa direção citada por Capriles para todas as autoridades eleitas nesta noite. Na semana passada, a maioria chavista na Assembleia Nacional aprovou como lei o chamado Plano da Pátria, o programa de governo escrito por Hugo Chávez para seu terceiro período de governo. O Presidente pretende convocar ao diálogo a seus partidários e detratores sobre a base dos objetivos descritos nesse projeto. A oposição está no dilema de aceitar ou não esse chamado. Em qualquer caso, e para além dos custos políticos sócios a qualquer das decisões, Maduro tem a iniciativa e está no controle da situação.

O primeiro boletim do CNE deu resultados irreversíveis em 257 dos 337 municípios em disputa.Ainda não havia resultados de 86 prefeituras. O Governo obteve 196 e a oposição 53 gestões municipais. Outras oito estão em mãos de independentes. O governo controlava antes destas eleições 84% das prefeituras. Espera-se que nesta segunda-feira surjam novos resultados para completar o novo mapa político de Venezuela.

As eleições terminaram com duas mortes de militantes chavistas ocorridas no estado Aragua, no centro do país. O governador dessa província, Tarek El Aissami, revelou as identidades de ambos –Ricardo Benítez (26 anos) e Bárbara Aguirre (19 anos)- mas não deu detalhes das circunstâncias das mortes.  O ministro do Interior e Justiça, Miguel Rodríguez Torres, informou 141 delitos eleitorais, uma percentagem ínfimo quando se lhe compara com as mais de 19 milhões de pessoas autorizadas para votar.

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