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Trump intensifica seu ataque e faltará ao Jantar dos Correspondentes da Casa Branca

O presidente aumenta a distância com veículos contra os quais declarou guerra na Casa Branca

Donald Trump e sua esposa Melania no Jantar dos Correspondentes, em 2011.
Donald Trump e sua esposa Melania no Jantar dos Correspondentes, em 2011.Alex Brandon (AP)

Há uma festa a que Donald Trump faltará, por mais que adore esse tipo de evento. Segundo anunciou o presidente republicano, não irá ao jantar dos correspondentes da Casa Branca, um dos eventos sociais mais esperados do ano em Washington e que é realizado desde o começo do século XX. Sua decisão foi conhecida um dia depois de a sua equipe provocar enérgicos protestos desses mesmos correspondentes ao negar acesso a uma coletiva de imprensa a vários veículos nacionais e internacionais.

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"Não participarei do Jantar da Associação dos Correspondentes da Casa Branca este ano. Por favor, mandem meus melhores sentimentos a todos e tenham uma ótima noite", tuitou o republicano.

O presidente da Associação de Correspondentes da Casa Branca, que organiza evento anual, Jeff Mason, respondeu que a organização "está ciente" do anúncio de Trump. Ainda assim, acrescentou, os planos continuam os mesmos para realizar um evento que "foi e continuará sendo uma celebração da Primeira Emenda (que defende a liberdade de expressão) e do importante papel desempenhado pelos veículos independentes em uma república saudável".

É a segunda vez em 24 horas que Mason tem que se pronunciar por uma decisão da Casa Branca, depois do protesto que emitiu quando, na sexta-feira, a Administração Trump tomou a inédita decisão de impedir a entrada, em uma coletiva com o porta-voz Sean Spicer, de cinco grandes veículos nacionais, incluindo o New York Times e a CNN, frequentes alvos de ataques do presidente republicano.

O boicote à festa, que será realizada em abril, e que reúne anualmente, em Washington, os grandes veículos e suas estrelas, assim como políticos e celebridades, inclusive o próprio magnata antes de entrar na política, significa mais um passo na crescente tensão entre a Administração Trump e o "quarto poder". Além disso, rompe uma tradição respeitada por seus predecessores, por mais que estivessem bravos com aqueles que relatam e vigiam cada um dos seus passos.

Mas também significa, em certo modo, uma medida preventiva. Há semanas, cozinhava-se um boicote por parte da imprensa à versão política do Oscar, que é realizada no hotel Washington Hilton, da capital americana, e que era uma das festas mais cobiçadas na pouco festeira Washington. As revistas The New Yorker e Vanity Fair decidiram, semanas atrás, não realizar as festas que costumavam acompanhar a gala dos correspondentes. Pouco depois, a Bloomberg, que costumava ser a co-organizadora do sarau da Vanity Fair, também decidiu abandonar os planos de organizar a festa que vinha realizando depois de cada jantar dos correspondentes.

Nos últimos dias, também ficaram mais fortes os rumores de que veículos como CNN e MSNBC estudavam a possibilidade de não participar do jantar dos correspondentes, evento em que sempre tiveram lugares preferenciais.

Em janeiro, a popular comediante Samantha Bee anunciou a intenção de realizar uma festa alternativa na mesma noite do jantar dos correspondentes, em 29 de abril, em outro hotel da capital. A apresentadora do programa Full Frontal, no qual Trump geralmente é alvo de ácidas críticas, anunciou que os fundos que forem arrecadados com a festa, chamada de "O Não Jantar dos Correspondentes da Casa Branca", serão entregues ao Comitê Para a Proteção de Jornalistas (CPJ), uma organização que também está em alerta máximo diante dos ataques de Trump à imprensa, identificada por ele como "desonesta", "partido de oposição" e até "inimiga do povo".

O Jantar dos Correspondentes é uma tradição que começou em 1920. Quatro anos depois, em 1924, Calvin Coolidge tornou-se o primeiro presidente convidado ao evento. Desde então, todos os inquilinos da Casa Branca frequentaram, em algum ano de seu mandato, a festa cada vez mais popular, que oferece uma ocasião única para o presidente demonstrar seu lado mais humano e humorístico, já que ele costuma fazer um discurso cheio de piadas em relação aos outros e a si mesmo.

Talvez o problema de Trump seja, no entanto, que no passado tenha demonstrado pouca capacidade de autocrítica, embora tudo seja em tom humorístico. Isso ficou claro em outubro quando, pouco antes das eleições, participou, junto com sua rival Hillary Clinton, de uma festa beneficente da Fundação Al Smith, que reúne os mais poderosos da cidade de Nova York. Enquanto Clinton demonstrou ser capaz de rir de si mesma, as piadas mais pessoais feitas por Trump foram em relação a sua esposa Melania, que assistia a tudo tão incomodada quanto muitos outros dos espectadores do discurso ácido e agressivo de seu marido.

Paradoxalmente, foi em uma destes jantares dos correspondentes em Washington onde, ao que parece, Trump decidiu dar o salto para a política. Foi em 2011, quando, para sua indignação silenciosa, foi o alvo das piadas de Barack Obama, que se vingou no púlpito da tentativa de Trump de colocar em dúvida que havia nascido nos EUA, chegando a obrigar a Casa Branca a publicar o certificado de nascimento do democrata. Embora, em 2016, não tenha sido convidado à festa, Trump voltou a ser o alvo dos dardos ácidos de Obama, em seu último jantar diante dos correspondentes que o seguiram durante oito anos, apesar de o prognóstico de que no próximo jantar haveria uma mulher, Clinton, em seu lugar tenha sido completamente errado.

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