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Facebook oculta conteúdo de usuários para driblar censura da China

Rede criou ferramenta para que certas mensagens não apareçam de acordo com a localização

Facebook em um computador e um celular.
Facebook em um computador e um celular.JUSTIN TALLIS (AFP)

O Facebook parece decidido a adotar medidas que lse moldem àquilo que a China espera deles. O sistema chinês de censura combina algoritmos, trabalhadores especializados e colaboração das empresas chinesas de Internet para controlar os dissidentes e prevenir o aparecimento de palavras proibidas.

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Nos últimos meses, o Facebook vem desenvolvendo ferramentas para fazer que certas mensagens não apareçam conforme a localização do usuário. As fontes do The New York Times, veículo que revelou a adaptação, são três funcionários que trabalharam ou ainda trabalham na empresa de Zuckerberg. A estratégia é ocultar o conteúdo, em vez de apagá-lo. Considera-se muito provável que cheguem a um acordo com uma terceira empresa que conte com o aval de Pequim para que seu software sirva como freio à difusão de histórias contrárias aos interesses da China.

A exemplo do que aconteceu com muitos outros, o casamento mudou a vida de Mark Zuckerberg. Suas primeiras viagens à China, país de origem de sua esposa, Priscilla Chan, foram um primeiro contato. Embora tenha tentado um primeiro lançamento, em 2009 viu sua página entrar para a lista dos sites que não podem ser acessados dentro da Grande Muralha Digital. Desde então, as tentativas de reaproximação não cessaram. Há três anos começou a aprender mandarim e quer que sua filha também domine o idioma.

Em meados de outubro, durante a Conferência Mundial da Internet, a principal autoridade do ciberespaço na China, Ren Xianliang, estendeu a mão ao Google e ao Facebook dizendo que serão bem-vindos desde que respeitarem as leis do país. “Sempre mantivemos um espírito de abertura. As empresas de Internet estrangeiras podem operar cumprindo a lei e desde que não prejudiquem os interesses do país, nem dos consumidores. Mas são mais que bem-vindas para que compartilhemos os benefícios do desenvolvimento da Internet na China”, declarou à Bloomberg no dia 12 de outubro.

Esta não seria a primeira vez que o Facebook restringiria o conteúdo a pedido de governos. Já o fez no Paquistão, na Rússia e na Turquia.

Tim Sparapani, diretor de políticas públicas do Facebook até dois anos atrás, disse que não se tratava de “se”, mas de “quando”. No fim de outubro divulgou-se a mensagem de que Zuckerberg estava disposto a tomar medidas para entrar na China. Em outubro de 2015, em declarações à revista Wired, deixou claro: “Não se pode ter a missão de querer conectar o mundo inteiro e esquecer o maior país". A China possui mais de 700 milhões de usuários de Internet.

Em sua última viagem a Pequim, com sessão de corrida matinal incluída, Zuckerberg se encontrou com o diretor da propaganda estatal, Liu Yunshan. Os esforços diplomáticos do Facebook não pararam por aí. Em 2014 recebeu Lu Wei, ministro da Internet, na sede do Facebook. A governança da China, do presidente XI Jinping, estava em seu escritório e figurou entre os selecionados. No mesmo ano a China bloqueou o acesso ao Instagram, o serviço de imagens comprado pelo Facebook em abril de 2012 por 1 bilhão de dólares.

Com mais de 1,4 bilhão de perfis ativos, o Facebook mantém sua expansão pela África, América Latina e Ásia. Os drones com conexão e aplicativos como Internet.org servem como primeiro contato com seu serviço. Incluir a China é essencial para manter o ritmo de crescimento. A empresa não tem sucursal dentro das fronteiras chinesas, mas mantém um escritório de venda de publicidade em Hong Kong.

O Google abandonou as operações ali em 2010 e, até agora, não deu sinais de mudar sua política com relação à China. Só manifestou o interesse de abrir sua loja de aplicativos, uma forma de fazer negócios com o Android, o sistema operacional dominante em todo mundo e com especial presença na China, onde cada vez mais fabricantes locais se beneficiam desse ecossistema. O Yahoo foi a empresa tecnológica que manteve negócios com mais fluidez em território chinês. A Microsoft foi alvo de críticas por fechar blogs de ativistas.

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